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Depois de conseguir criar material resistente
à temperatura extrema da atmosfera solar,
a Nasa marcou o lançamento da Solar Probe Plus para julho de 2018.
A sonda vai estar sete vezes mais perto do astro do que a Helios 2,
que chegou a 44 milhões de quilômetros de distância,
em abril de 1976
Tatiana Sabadini
Alguns dos mistérios do gigante do Universo poderão ser desvendados nos próximos anos. A Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) prepara uma missão histórica em direção à estrela que ilumina todo o Sistema Solar. A sonda Solar Probe Plus pretende ser a espaçonave que mais chegou perto do Sol e terá o poder de verificar os níveis de calor, a aceleração do vento solar e o fluxo de energia. Depois de um longo estudo, os cientistas conseguiram vencer o desafio da alta temperatura e criaram uma máquina capaz de sobreviver à intensidade do calor para coletar dados importantes sobre o clima espacial, essenciais para entender o próprio meio ambiente terrestre e o futuro do planeta.
O projeto da Solar Probe Plus começou em 2005. O desenho da sonda e a programação acabaram de ser aprovadas. Agora, a nova fase será da construção da máquina e da confirmação dos últimos detalhes da viagem. O lançamento está marcado para julho de 2018. A sonda deve voar pela atmosfera do Sol, chamada de coroa, que fica visível na Terra toda vez que um eclipse acontece. Antes de se aproximar da distância final, ela vai usar a gravidade de Vênus para chegar até a estrela e deve orbitar em sua volta por 24 vezes.
“Apenas” 5,9 milhões de quilômetros vão separar a máquina da superfície solar, conhecida como fotosfera — para se ter uma ideia de quão próximo isso significa, Mercúrio, o planeta mais perto da estrela, fica a 57,8 milhões de quilômetros. A espaçonave vai estar sete vezes mais perto do Sol do que o recorde da Helios 2, que chegou a 44 milhões de quilômetros da estrela em abril de 1976. “Para ficar tão perto assim, a espaçonave precisa sobreviver a uma intensidade de calor 500 vezes maior do que quando passa pela órbita da Terra, e suportar uma temperatura de 2000°C”, disse ao Correio Madhulika Guhathakurta, cientista do programa Solar Probe Plus.
Além de ser construída para sobreviver ao intenso calor do Sol, a sonda, naturalmente, vai poder tirar proveito da energia solar. Painéis com líquidos de resfriamento serão instalados para gerar eletricidade e programados para se retrair, atrás de um escudo de proteção, quando os raios solares forem muito intensos. “O escudo tem uma espessura de quase 12cm e é feito de uma espuma de carbono resistente ao calor. Ele também foi desenvolvido para manter os instrumentos científicos em uma temperatura confortável, de cerca de 30°C. Quando estiver perto do Sol, a antena do Probe, usada para transmitir os dados coletados para a Terra, deve ser guardada com segurança na sombra do escudo”, explica Guhathakurta.
Como uma tomografia
O Solar Probe Plus vai coletar amostras da atmosfera solar e usar instrumentos como magnetomêtro, sensor de plasma, detetor de poeira ionizada, analisadores de íons e partículas energéticas. “Todos esses aparelhos são suficientes para investigar e medir diferentes tipos de fenômenos, sejam eles elétricos ou magnéticos, fracos ou fortes, turbulentos ou sinuosos. A sonda também tem um telescópio 3D capaz de capturar imagens da coroa similiares a exames médicos de tomografia computadorizada. E isso só é possível porque a fotografia vai ser feita por uma plataforma que se move perto do Sol”, compara o cientista da agência americana.
Segundo o cientista da Nasa, a exploração do Sol pode revelar algumas surpresas, e as expectativas de descobertas são altas. “Dois mistérios devem ser revelados com a missão. Queremos primeiro responder por que a temperatura da atmosfera chega a quase 1 milhão de graus centígrados, enquanto a da superfície é de apenas 6 mil. E também explicar como os ventos solares, que não são tão fortes perto da fotosfera, aceleram a milhões de quilômetros por hora quando passam pela coroa em direção ao Sistema Solar. Se resolvemos isso, podemos ter respostas sobre como o Sol funciona e sobre como ele afeta a Terra”, revela Guhathakurta.
Para o astrônomo, escritor e ensaísta brasileiro Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, estudar os fenômenos solares é de extrema importância para entender melhor os efeitos dele no planeta. “A atividade do Sol é importante para a nossa vida na Terra porque altera o nosso clima. O vento solar tem uma grande influência sobre a nossa atmosfera. O mais interessante da Solar Probe vai ser a oportunidade de estudar as relações das condições na transmissão de eletricidade com esses ventos cheios de partículas”, comenta o especialista.
Um exemplo recente de como o Sol pode afetar não só o clima como a rotina da população foi a tempestade solar que fechou o Aeroporto Juscelino Kubistchek, em Brasília, entre 14h45 e 15h durante quatro dias neste mês. O fenômeno é uma interferência que ocorre por conta do alinhamento entre o Sol e a Terra, causando interferência em sistemas de comunicação. “Somos cada vez mais dependentes de satélites e eles estão expostos às explosões solares que atingem a Terra. Por isso é tão importante prever e estudar os fenômenos que ocorrem na relação com o Sol. Atualmente, existem pelo mundo vários centros de monitoramento do clima espacial e de como ele pode influenciar nosso planeta”, afirma José Leonardo Ferreira, doutor em ciências espaciais e professor do Instituto de Física da Universidade de Brasília.
__________________Fonte: Correio Braziliense online, 26/09/2010
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