Como os macacos?
Imagem da Internet
As nossas escolhas são muito mais instintivas do que racionais,
inclusive na hora de votar, diz a ciência
Por Rogério Tuma
A Revista New Scientist publicou um artigo da médica Anjana Ahuja, baseado em seu livro Selected, escrito em co-autoria com Mark van Vugt, da Universidade de Amesterdã. Os especialistas sugerem que a escolha de candidatos a líderes políticos e em empresas privadas sugue o mesmo padrão utilizado pelos macacos. No caso dos macacos, o “método” serve para definir o líder do grupo. Em outras palavras, segundo os autores, quem define uma eleição não é um eventual presidente com recorde de popularidade, mas a mãe natureza.
Seguir o líder é um padrão de seleção natural encontrado até em peixes e aves. Trata-se de um mecanismo que aumenta as chances de reprodução e sobrevivência do espécime. A proteção e as sobras do mais forte acabam sendo aproveitadas.
Reduzir as eleições brasileiras a uma macaquice pode ser exagero. Por respeito aos eleitores, mais do que aos candidatos, alguns dos quais se apresentam às vezes de maneira pior do que um chipanzé. Não se pode tirar totalmente a razão da autora ao dizer que a mãe natureza é quem dá o tom da escolha. Pelo nosso modelo eleitoral, a divulgação de uma foto pela televisão ou cartaz é muitas vezes o único método de apresentação de um candidato. E as revistas científicas de comportamento estão repletas de artigos que relacionam as escolhas baseadas em fotografia de rostos, as quais seguiriam um padrão específico instintivo, não lógico.
A autora evoca ainda um estudo feito com crianças. Mesmo sem elas terem jamais participado de uma eleição nem conhecido candidatos, ao olharem as fotos dos candidatos fizeram as mesmas escolhas que os adultos, sendo que esses últimos as fizeram após intenso debate.
"Nunca estamos presentes conosco,
mas sempre além de nós:
medo, desejo, esperança ainda
nos impelem para o futuro."
Montaigne
O pensamento dos autores navega em um horizonte onde um rosto bonito e de traços marcantes, com mandíbula reta e altura avantajada é mais importante do que princípios e ideias. E isso porque o decisivo seria a imagem de alguém que nos protegesse fisicamente durante as “lutas”. E desvelam a teoria a partir da constatação de que os indivíduos altos do sexo masculino seriam maioria entre os políticos e presidentes de empresas.
O estudo do Pnad, Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios de 2009, mostra que no Brasil a renda média das mulheres equivale a um termo menor que a dos homens. Outro estudo mostra que vendedores altos recebem mais que seus pares mais baixos, numa proporção de 10% do salário a cada 3 centímetros.
A escolha de líderes também é mais bem-sucedida quando ocorre de baixo para cima: ou seja, eleger um líder e forçá-lo goela abaixo é muito mais associado a rebeliões do que à estabilidade. A doutora Ahuja sugere existir um “botão” no cérebro das pessoas, que é apertado por algumas características de seu líder para que todos o sigam.
Nas sociedades onde a escolha do líder é feita de maneira dinâmica, sem prazo de validade para o cargo, os líderes precisam seguir regras rígidas, em geral capazes de coibir posturas egoístas ou individualistas. Assim fazem nossos parentes símios: a escolha imediatamente gera uma reação de outros futuros pretendentes ao cargo, os quais iniciam sua árdua jornada para a conquista da “posição alfa”. Se o líder começar a querer não só o melhor, mas tudo para si, a revolta ocorre, e a liderança se acaba.
Simplificar demais a teoria é perigosíssimo. Muitos humanos poderiam utilizá-la para explicar atos moralmente questionáveis. Imagine um mandante argumentar que seu seguidor era tão fiel e leal que cometeu o crime por livre e espontânea vontade para demonstrar seu admiração. Ou um marido infiel explicar para a esposa traída que como ele é um macho alfa não poderia ter uma só parceira.
A escolha de um presidente negro nos EUA poderia, então, não ter sido um sinal de evolução da sociedade humana, onde o fato de pertencer a uma minoria não evitou que Obama fosse escolhido, pois ele era o mais alto dos candidatos e mais fisicamente em forma. Por aqui, na escolha concentrada entre uma mulher baixinha e um carequinha franzino, seria difícil encontrar um motivo biológico para a escolha. Talvez seja porque já estejamos em outro estágio evolutivo da raça humana.
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Fonte: Revista Carta Capital nº 613, 15/09/2010, pg.82.
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