Bernadette Vilhena*
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A compreensão do mundo pela criança e sua formação social passam também pela aprendizagem financeira, como explica a pesquisadora Regina Bonifácio Araújo: “Desde os primeiros anos de vida, em suas experiências cotidianas, a criança realiza um esforço constante para compreender as relações econômicas em que está inserida, construindo modelos explicativos que dêem conta dos processos vividos por ela”.
A partir do que é vivido e observado, primeiramente dentro do ambiente familiar e depois junto aos amigos na escola, a criança construirá seu entendimento em relação ao dinheiro e seus desdobramentos. Ela estabelecerá comparações, fará juízo de valor e formará o seu próprio padrão de comportamento como consumidora.
De acordo com Jean Piaget o desenvolvimento da criança é baseado em dois fatores: a hereditariedade e o meio social que vive e toda organização social vai ser construída a cada dia respeitando as fases do desenvolvimento infantil. A criança constrói desde muito cedo todas as representações sociais, inclusive as questões ligadas ao universo econômico.
As normas, valores, papéis sociais, interação entre pessoas, afetividade, crenças e como a sociedade funciona serão assimilados por ela. Aspectos importantes dentro do universo infantil devem ser acompanhados com cuidado por pais e educadores. Alguns deles são: como mesada é usada, a compreensão do processo de compra e venda, lucro e prejuízo, desperdício, poupança e salário. Outra informação importante é que nessa fase valores morais e éticos também estão sendo construídos.
Marianela Denegri e sua equipe apresentam as bases de um modelo cognitivo explicativo da compreensão do mundo econômico. É importante salientar que a construção dos modelos mentais pelas crianças se dá de maneira diferente do processo do adulto. Diferença devido à restrita e fragmentada troca com o meio, pois a criança não participa de todos os meios sociais e políticos onde está inserida.
O estudo da equipe de Denegri sobre a socialização econômica procura expor que as crianças e adolescentes não são agentes passivos perante as questões financeiras; elas constroem constantemente explicações e conceitos econômicos a partir de informações recebidas de um adulto ou da mídia em geral. Essas informações formaram a base da sua conduta econômica. Isso pode ser determinante para a formação de um consumidor consciente.
A partir de pesquisas, Denegri conclui que existem três níveis diferentes de concepção econômica nos indivíduos:
Pensamento Econômico Primitivo: consiste na dificuldade em estabelecer relações entre o social e o econômico e que o dinheiro é disponível para todos usarem. Acredita-se que o dinheiro provém de fontes místicas como Deus, de loterias ou troco recebido, que pode ser fabricado por quem tiver máquina para isso. Tem dificuldade de separar o mundo das relações pessoais do universo social e, portanto econômico. Não percebe a relação entre dinheiro e trabalho;
Pensamento Econômico Subordinado: quando a criança realiza sua primeira reflexão sobre a realidade social de uma maneira integrada e começa compreender o mecanismo de lucro. Um aspecto marcante nessa fase é o entendimento com a restrição da realidade social e o uso de leis para cuidar e organizar a sociedade. Momento oportuno para uma educação financeira formal;
Pensamento Econômico Inferencial: nesse nível há uma mudança na forma de pensamento, pois estão na fase da adolescência e já são capazes de fazerem articulações entre conceitos assimilados. O mundo é visto de modo sistêmico e conseguem refletir de modo mais avançado sobre a realidade social e os mecanismos econômicos. Maior entendimento do Estado e seu funcionamento. Importante fase para uma educação financeira mais ampla.
As pesquisas de Denegri e colaboradores são úteis para uma maior compreensão acerca da formação do pensamento econômico nas crianças e servem como referencial teórico para a construção de modelos pedagógicos mais eficazes dentro da educação financeira. São informações relevantes que podem ser utilizadas por pais e educadores. Quem desejar conhecer os trabalhos dessa pesquisadora, eles estão disponíveis em seu blog pessoal: www.marianeladenegri.blogspot.com
Recentes pesquisas com adultos apontam um nível pouco satisfatório de conhecimentos econômicos tendo como primeira conseqüência o endividamento. Entendo que um dos caminhos preventivos ao mau uso dos recursos financeiros é a educação financeira infantil. Ao auxiliarmos a formação dos conceitos econômicos nas crianças e oferecermos ferramentas para que elas lidem melhor com essas questões, estaremos cuidando do futuro do Brasil. O que você acha?
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*Pedagoga empresarial, consultora em diversas instâncias da prática educativa nas empresas e autora do livro "Dinheirama" (Blogbooks). Especialista em Gestão de Pessoas e estudos nas áreas de Ergologia, Gestão do Conhecimento e Educação no trabalho.
Para conhecer melhor: www.marianeladenegri.blogspot.com
Crédito da foto para freedigitalphotos.net.
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