Joaquim Zailton Bueno Motta*
Certos pares amorosos têm simpatia pelo ciúme, como se fosse uma emoção que favorecesse os cuidados com a relação.
É muito individualizado esse referencial — há os que se irritam com a mínima possibilidade ciumenta, que logo a associam à possessividade, ao controle rígido e autoritário; e há os que adoram ter o ego massageado com os exageros do ciumento, jamais admitindo o amor liberado de uma supervisão.
A psiquiatra italiana Donatella Marazziti, professora da Universidade de Pisa, desenvolve estudos sobre as relações amorosas e indica que há realmente pessoas extremamente ciumentas, profundamente obcecadas, que devem ter transtornos compulsivos — seriam portadores de uma patologia, verdadeiros “doentes de amor”.
O ciumento doentio é paranoico, vigilante, alarmista, de modo que o relacionamento está sempre ameaçado.
Há exemplos contundentes. Todos conhecemos os grandes ciumentos, capazes de lances fantásticos e marcantes. Um dos mais espetaculares é o do companheiro que costumava observar o sono da mulher. Quando ele notava um sorriso nos lábios dela, acordava-a perguntando: “Com quem você está sonhando?!”.
No seu livro ... E Viveram Ciumentos & Felizes para Sempre, a pesquisadora da Itália expressa que existe um parâmetro temporal do ciúme normal, nem sempre fácil de ser demarcado: máximo de uma hora por dia.
Se o companheiro que é alvo da desconfiança for medir rigorosamente esse tempo no relógio, ele é quem parecerá obsessivo...
O ciúme é fruto de delicados e complexos mecanismos evolutivos que evidenciaram historicamente o papel essencial de um guardião do casal, equivalente à ideia de zelo.
O parceiro zeloso seria considerado normal, adequado, como sujeito dedicado à salvaguarda da relação amorosa.
Quando os limites dessa dedicação são ultrapassados, o ciúme começa a se caracterizar como um “monstro sem olhos”, como ensina a sabedoria popular.
Nessa primeira década do século 21, temos algumas iniciativas que incentivam os casais a comportamentos novos e de vanguarda, questionando um pouco esses valores tradicionais do ciúme.
Há relações abertas, em que os pares programam, por exemplo, um fim-de-semana por mês em que cada um sairá sozinho, irá aonde quiser, sem hora para voltar, sem necessidade de explicações.
Alguns casais se entusiasmam por uma visita a clubes de swing. O ciúme põe limite ambivalente a essas experiências, pois há reações surpreendentes — ora o não é não, ora é talvez, e pode chegar ao sim.
Um gerente de um desses clubes comentou que é cada vez maior o número de casais que aparece, mas, em vez de interagir com outro par, “eles se trancam a dois nas cabines”. Ou então se comportam como “noveleiros”: na gíria dos suingueiros, significa que estão ali somente para ver o que fazem os outros.
Um casal que frequenta uma casa de swing fez outros comentários. O homem disse que não suportaria que alguém tocasse na mulher dele, mas que “adora ver e ser visto”. A mulher expressou que ali é “um bom lugar para que o casal fique mais à vontade”.
Também temos os swingers habituais, pares mais abertos e acostumados a interagir com outros. Essa interação vai desde permitir que, na sala de dança, um homem passe a mão na mulher de outro (vestida), até uma troca mais íntima.
O contexto exibicionista e vouyerista atende às fantasias mais frequentes dos clientes de um clube de swing, atenuando a competição e a possessividade.
Entretanto, o casal que pretende qualificar sua relação não precisa de modismos. É essencial que cada par trabalhe suas inseguranças, de modo a se permitir um máximo de 60 segundos de ciúme por dia — ou melhor: nada!
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*Joaquim Zailton Bueno Motta é psiquiatra e sexólogo
Fonte: Correio Popular online, 18/09/2010
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