A pobreza na população em idade produtiva nos EUA atingiu o seu nível mais alto em quase 50 anos em 2009. O custo humano da mais profunda recessão desde a Grande Depressão foi exposto em novos dados do censo.
A pobreza entre pessoas com idade entre 18 e 64 anos aumentou 1,3 ponto percentual, para 12,9%, o mais alto nível desde o começo da década de 1960, antes da Guerra Contra a Pobreza do então presidente Lyndon Johnson. A taxa de pobreza geral aumentou 1,1 ponto percentual, para 14,3%, a mais alta desde 1994.
O aumento da pobreza na idade economicamente ativa foi impulsionado pelo salto na taxa de desemprego, que foi a 10% durante 2009. Trata-se de um golpe amargo para o presidente dos EUA, Barack Obama, que fez campanha com a promessa de reduzir a pobreza. Os dados podem prejudicar ainda mais as já difíceis perspectivas para os democratas nas eleições para o Congresso, que acontecerão em novembro.
"A mensagem geral é que apagamos todos os ganhos em [combate à] pobreza obtidos na década de 1990", afirmou Elise Gould, do Economic Policy Institute, um instituto de pesquisas interdisciplinares de centro-esquerda, com sede em Washington.
"Mesmo antes do choque da recessão, a renda da classe média permaneceu estagnada, e o número de pessoas vivendo na pobreza nos EUA era inaceitavelmente elevado. Os números de hoje deixam claro que nosso trabalho só está começando", afirmou ontem Obama.
O Censo, órgão do governo dos EUA, disse que 43,6 milhões de pessoas viviam abaixo da linha da pobreza em 2009, o número mais alto em 51 anos de estatísticas, apesar de a taxa de pobreza geral ainda estar 8,1 pontos percentuais mais baixa do que esteve em 1959.
O aumento na pobreza foi pior do que em qualquer outra recessão desde 1969, exceto a de 1980-82, quando a taxa deu um salto de 3,9 pontos percentuais.
Os mais velhos, porém, ficam blindadas dos efeitos da recessão pela Seguridade Social e o Medicare [plano de saúde público para os idosos], e a taxa de pobreza entre pessoas acima de 65 anos caiu 0,8 pontos percentuais, para 8,9%.
Por raça, a taxa de pobreza aumentou acima de 25% para negros e hispânicos, mais que o dobro dos 12,3% entre brancos.
O Censo usa uma medida absoluta de pobreza que compara a renda de um domicílio com o custo de uma cesta de produtos, como alimentos e vestuário.
Fonte: Censo dos EUA
Uma família composta por dois adultos e duas crianças é definida como pobre se sua renda for inferior a US$ 21.756.
Essa definição é muitas vezes criticada porque não reflete o custo de produtos com inflação acima da média, como educação, assistência médica e habitação.
Uma das formas que as famílias escolheram para reagir à recessão foi se mudar para morar junto: houve um aumento de 11,6% em domicílios multifamiliares, e o número de filhos adultos morando com os seus pais cresceu acentuadamente.
"Há evidências de que o número de famílias que compartilham domicílios cresceu ao longo dos dois últimos anos", disse David Johnson, do Escritório do Censo.
Os dados também revelaram que o número de americanos sem plano de saúde aumentou para o recorde de 50,7 milhões, já que as pessoas que perderam seu emprego também acabaram perdendo o benefício de saúde proporcionado pelo empregador. Em 2009, 16,7% da população não tinha nenhum plano de saúde, o mais alto índice desde o início da série, em 1987.
É improvável que as reformas da Saúde Pública, aprovadas este ano, possam contribuir em muito para reduzir essa taxa até 2014, quando parte das principais cláusulas entrará em vigor.
A renda familiar mediana caiu 0,7%, para US$ 49.777. O coeficiente Gini, que afere a desigualdade de renda, aumentou ligeiramente, para 0,468.
"A contínua erosão do seguro subsidiado pelo empregador na década de 2000 transformou-se numa avalanche em 2009, quando a taxa de desemprego deu o maior salto já registrado em um ano", disse Gould.
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Por Robin Harding Financial Times, de WashingtonFonte: Valor Econômico online, 18/09/2010
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