domingo, 1 de agosto de 2010

O estudante e o jornal

DUÍLIO BATTISTONI FILHO*

Desde os seus primórdios, a imprensa se impôs como força política e social. Tem a missão de informar e de formar a opinião do leitor, conscientizando-o dos problemas que visem ao bem-estar da comunidade. Os governos e os poderosos sempre a utilizam e a temem; por isso adulam, vigiam, controlam e punem os jornais, como no caso de certos governos latino-americanos e africanos. Somente um jornalismo engajado na democracia tem condições para desempenhar seu verdadeiro papel, pois só onde houver liberdade de expressão e pensamento poderão circular livremente as ideias e opiniões. Todos os jornais procuram atrair e conquistar o público leitor. Para isso, desenvolvem novos artifícios de sedução, com novas técnicas e um moderno parque gráfico-editorial para melhorar a apresentação do produto.

Mas o que nos interessa saber é de que maneira se poderia incentivar o jovem a preferir o jornal? O ponto de partida, a nosso ver, seriam as crianças. Os educadores afirmam que o desenvolvimento da estruturação do hábito de gostar de ler deve começar em casa. A criança que começa, na companhia da família, a compartilhar o prazer de ouvir e ler histórias, certamente será, quando adulto, um amante da leitura. Nas escolas de Ensino Fundamental e Médio, os alunos ouvem exposições, veem experiências de Física e Química, fazem anotações nos cadernos, recorrem a livros e a outras formas de transmissão de cultura. Todavia, não existe, nos estabelecimentos de ensino, um espaço reservado a jornais, com exceção de alguns deles que adotam o projeto Correio Escola, levando à leitura e à discussão das notícias em sala de aula. Quantos professores teriam o exemplar do dia, ou um recorte de notícias, para comentar com os alunos? A verdade é que a leitura tem tanto ou maior influência sobre as crianças quanto o cinema, a televisão, ou mesmo a internet. O filme, o teatro, são acontecimentos fugitivos, assim como a própria televisão. A imaginação versátil da criança esquece-os depressa. Mas a leitura tem efeitos mais profundos. Daí a importância maior desses veículos de comunicação, que são o livro e o jornal.

Antigamente as escolas tinham o seu jornal estudantil que publicava questões pertinentes a vultos históricos, questões geográficas e políticas, poesias e concursos literários. Era totalmente financiado por anúncios solicitados ao comércio, rodado em rudimentares mimeógrafos, ou simplesmente um único exemplar, datilografado, que corria de mão em mão, para depois ser arquivado, com todo o zelo para a posteridade. Por outro lado, predominavam as seções nas quais um dos estudantes, com pseudônimo, falava das virtudes ou dos defeitos dos colegas, revelava uma paixão secreta ou um soneto que alguém fizera em segredo, pensando na eleita. A bisbilhotice de um periódico estudantil criava situações insustentáveis: ausência às aulas, inimizades e reprimendas da direção da escola. Em compensação, como prêmio, aqueles alunos que se destacassem nos estudos da Língua Portuguesa poderiam ser escolhidos para integrar a redação como repórteres, revisores ou articulistas. Os tempos eram outros. O periódico estudantil estava tão enraizado nas escolas que, ao final dos anos 30 do século passado, foi criado, em Campinas, a Rede Jornalística Estudantil, que teve na presidência o educador Rubem Costa, entidade que teve papel relevante no ambiente cultural campineiro.

Hoje, o enfoque do jornal é outro: levar o aluno a ler, comparar e entender o texto com o devido espírito crítico, “agarrar a história em movimento” segundo as palavras do historiador Howard Simons. Para que tudo isso aconteça é necessário que o professor não só esteja preparado e envolvido com o projeto, como também a escola ofereça condições para atingir tal objetivo.
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*Duílio Battistoni Filho é historiador e membro da Academia Campinense de Letras
Fonte: Correio Popular online, 01/08/2010

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