domingo, 1 de agosto de 2010

Administrando um fora...

JOAQUIM ZAILTON BUENO MOTTA*

Quando a pessoa amada revela direta ou indiretamente que não mais deseja continuar na relação, o rejeitado pode sofrer intensa e dramaticamente.

É claro que, em primeiro lugar, o sofrimento vai depender do recado fornecido por quem se retira. Há aquele que passa uma comunicação clara, às vezes com doses de franqueza indelicada, até o que envia mensagens confusas, ambivalentes, com sutileza imprópria. Entre um extremo e o outro, é melhor a clareza, mesmo quando excessiva e descortês, pois a ambivalência prolonga a angústia de modo cruel.

Helen E. Fisher, antropóloga canadense que trabalha na Rutgers University (Nova Jersey, EUA), desenvolve um persistente trabalho de pesquisas sobre o amor, a paixão e o sexo. Um de seus levantamentos mais recentes mostrou aspectos biológicos do amor não correspondido. Ela comentou que o amor romântico equivale a um vício: “É um vício muito poderoso e maravilhoso, quando as coisas estão indo bem e um vício horrível quando as coisas estão indo mal”. Pessoas que padecem muito por um sentimento não correspondido ou uma relação que chegou ao fim podem recorrer agora a uma explicação biológica. Superar a rejeição amorosa pode ser semelhante a ter de se livrar de uma drogadição. O estudo, publicado na edição de julho do Journal of Neurophysiology, é um dos primeiros a examinar o cérebro de pessoas que tiveram o “coração partido”.

Os pesquisadores avaliaram o cérebro de 15 voluntários (10 mulheres e 5 homens) com idade universitária e que tinham terminado um relacionamento, mas ainda amavam a pessoa que os rejeitou. Em média, a duração dessas relações era de cerca de dois anos, sendo que no mínimo dois meses transcorreram desde o rompimento. Todos os participantes tiveram altas pontuações em um questionário que mediu a intensidade dos afetos românticos. E também disseram que os pensamentos dedicados à pessoa amada ocupavam a mente pelo menos 85% do tempo em que permaneciam acordados. Os cientistas descobriram que, enquanto olham para as fotografias dos “ex”, os homens e mulheres rejeitados têm ativadas as regiões cerebrais associadas com recompensa, ansiedade de dependência, controle das emoções, dor física e angústia.

Esses resultados ajudam na compreensão dos motivos que dificultam suportar uma ruptura e porque, em alguns casos, as pessoas são levadas a cometer atos extremos, como perseguições, suicídios e homicídios.

É possível que essa resposta à rejeição romântica possa ter uma base antropológica: os circuitos cerebrais do amor desenvolveram-se há milhões de anos para que os nossos antepassados concentrassem a energia do acasalamento em apenas uma pessoa por um dado tempo. Quando rejeitada no amor, é como se a pessoa perdesse o maior prêmio da vida, ou seja, um parceiro para o acasalamento. Então, o sistema é ativado para tentar a reconquista.

Interessante também é que a pesquisa ratificou a velha máxima: “o tempo é o melhor remédio”. Quanto maior o intervalo desde a separação, menor a atividade no cérebro associado ao prazer e à recompensa.

Outra confirmação importante foi a de que falar sobre a experiência, ao invés de simplesmente “curtir” o sofrimento, é mais saudável para o apaixonado em crise.

Esses resultados implicam evitar aquilo que chamamos de Síndrome da Arremetida. Apartada de um relacionamento, a pessoa pode insistir obcecadamente na retomada. Interpretando qualquer ato bem educado do ex como interesse em voltar, fugindo de assumir e administrar o fim. É o princípio que ocorre com um avião: ele só pode arremeter (interromper o pouso e voltar ao voo) enquanto houver combustível e condições para isso. A partir de determinado ponto, a aterrissagem será obrigatória.

Portanto, é muito melhor para o rejeitado aceitar a frustração da ruptura, não protelar a despedida e investir em novos voos.
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*Joaquim Zailton Bueno Motta é psiquiatra e sexólogo
Fonte: Correio Popular online, 31/07/2010

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