domingo, 1 de agosto de 2010

Linha direta para falar com Deus

Daniela Prandi*

O livro A Cabana veio parar nas minhas mãos por acaso. Dias antes, tinha visto a propaganda sobre a obra, do canadense William P. Young, e ficado impressionada. “Nossa, que poder tem a publicidade”, pensei. É que o anúncio dizia algo como: “e se você recebesse um bilhete de Deus?”

Por pura curiosidade, comecei a ler. Faz parte do meu trabalho, afinal, e o livro está há muitas semanas no topo da lista dos dez mais do The New York Times. No Brasil, assim que foi lançado pela editora Sextante, também passou a figurar entre os mais vendidos. Não amo nem odeio os best sellers, dou chance aos livros e, livre de qualquer preconceito, encaro leituras as mais variadas em minhas poucas horas de folga.

Ler A Cabana me fez refletir muito. O livro me encantou, me comoveu e, principalmente, fiquei maravilhada com a facilidade com que William P. Young conseguiu mostrar a sua história, uma trama tão bem-pensada e cinematográfica que, com certeza, deve virar filme de Hollywood.

A aventura de Mack, um homem cuja filha caçula é assassinada por um serial killer, tem todos os elementos para prender a atenção. O protagonista, revoltado com o que lhe aconteceu, recebe um bilhete de Deus. “Papai”, como assina, chama Mack para se encontrar com ele, na mesma cabana onde os restos da roupa que a filha vestia no dia de sua morte foram encontrados.

Ao chegar ao local, ele encontra seus anfitriões, nada menos que a Santíssima Trindade: Deus, Jesus e o Espírito Santo. A cabana abandonada está bem diferente da primeira vez em que esteve lá, e, agora, rodeada por jardins, exala um cheiro de comida irresistível. Naquele momento, Mack encontra Deus, materializado na forma de uma senhora negra, que está cozinhando guloseimas para ele. Jesus é um rapaz narigudo que trabalha na marcenaria e o Espírito Santo é uma mulher oriental, etérea, iluminada e misteriosa. Entre refeições fartas, passeios pela natureza e, até mesmo, uma visão do “Céu”, a trama prende a atenção e ajuda qualquer um com um mínimo de sensibilidade a pensar.

Mack passa algum tempo com cada um deles e, aos poucos, tenta entender a “grande tristeza” que sente enquanto vislumbra a “grande alegria” que aqueles três anfitriões exprimem em cada um de seus atos. O autor, vale informar, é estudioso da religião, e fez poesia com palavras simples para reforçar sua crença em um Deus bom, que ama a humanidade, que perdoa e que espera que homens e mulheres amem e perdoem uns aos outros. É tocante a seqüência em que o protagonista é chamado a perdoar o homem que matou a sua filha.

Young não faz qualquer tipo de pregação e até sugere que o relacionamento direto com Deus prescinde das igrejas. Muitas vezes, o que escreve na “voz” divina pode provocar polêmica nos religiosos mais tradicionalistas. Seus pais, missionários evangélicos, chegaram, inclusive, a considerar A Cabana “herético”.

O autor, que tem 53 anos, diz que escreveu o livro em um período difícil de sua vida, após perder um irmão e uma sobrinha de 5 anos. A escrita teria servido, ainda, para se libertar de um trauma da infância. Quando criança, foi levado por seus pais para viver em uma tribo em Papua Nova Guiné, onde acabou sofrendo abuso sexual.

Terminei A Cabana com uma sensação muito boa, admirada pela capacidade que certas pessoas têm para falar do espiritual com tanta leveza, sabedoria e talento. É como se ele tivesse sido tocado por Deus. E seus leitores, de certa maneira — e principalmente os mais abertos aos temas do mundo divino — também.
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*Daniela Prandi é editora do Caderno C.
E-mail: daniela@rac.com.br
OBS.: O texto é datado 18/12/2008.  Gostei. Há pouco, no colégio onde trabalho, a recepcionista lia o livro A CABANA. E lia com avidez. Cheguei a folhar o livro. Espírita, ela me disse. Vou ler.
Fonte: Correio Popular online, - Acesso: 01/08/2010

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