segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O paradigma do futuro

Entrevista - Reiner Hartenstein
Carlos Moura/CB/D.A Press
Reiner é considerado o pai do conceito que aumenta o desempenho do computador
 e reduz gastos com energia

O professor Reiner Hartenstein, 75 anos, docente emérito da Universidade de Kaiserslautern, no sudoeste da Alemanha, é uma daquelas pessoas que realmente acredita na capacidade de transformação de conceitos. Ele viu, ao longo das últimas décadas, a evolução dos computadores e da internet. Porém, nunca se conformou com o formato adotado pela maioria das máquinas. Em entrevista ao Correio, ele falou sobre a ineficiência delas e sobre a urgente necessidade de se mudar a forma de fazer computação. Leia trechos da conversa:

Por que é importante pensar em uma computação mais sustentável?
O consumo de todos os computadores do mundo está crescendo muito. Provavelmente, dentro de dois anos, nós vamos ter problemas por causa do alto custo da energia. O auge da produção de petróleo (fonte de energia) ocorreu no último ano e agora está diminuindo. Ao mesmo tempo, o uso da internet está cada vez maior, serviços estão sendo adicionados, TV na web, vídeos sob demanda e outros serviços que vão consumir muito mais banda do que está disponível. As previsões mostram que, em 2030, o consumo de energia por conta da internet vai estar 30% maior. Isso significa que se o mundo economizar um terço de energia é bom, mas, ainda assim, não será suficiente.

Qual é o principal problema do atual formato de computação?
Há algum tempo, tive acesso a uma pesquisa que dizia que a parte de hardware do computador — toda a parte de controle, de memória cache — não gasta mais do que 5% da energia do processamento. (…) Assim, a maior parte da ineficiência vem do software, que tem várias camadas, uma sobrepondo a outra. É lógico que a capacidade de espaço do hardware está crescendo rapidamente, considerando o número de transistores que podem ser colocados nos chips. Mas os pacotes de software alcançam dimensões astronômicas. Não é um problema de tecnologia, e sim da forma como o software é organizado.

E qual seria a alternativa para isso?
O FPGA, uma tecnologia disponível desde 1984. Essa placa permite que, na hora da execução, nenhuma instrução seja necessária. Essa é parte mais importante disso, você não precisa de nenhuma instrução, somente os dados atravessam todo o sistema. Com essa engenharia, os elementos ficam conectados uns aos outros, não precisam buscar coisas armazenadas em alguma memória e isso deixa a computação extremamente mais rápida.

As companhias têm interesse em implantar esse tipo de tecnologia?
Eu tenho dúvidas sobre como isso vai acontecer. Várias propostas foram feitas, mas a solução ainda não foi achada. Eu acredito que se eles não se “ligarem” na área da FPGA, eles não irão sobreviver pelos próximos 15 ou 20 anos. Eles são inteligentes, já sabem disso. (…) Talvez os usuários paguem um pouco a mais por isso, mas muito pouco. Anos atrás as placas FPGA eram caras, mas agora não é mais assim.

Mas fazer essa mudança não será um pouco complicado?
Um problema, é claro, é que há uma quantidade de softwares legados no mundo (programas que poucas pessoas dominam), alguns estão aí há décadas. Para mudar isso, precisamos de um grande esforço, muitas pessoas envolvidas. Os programadores precisam ser reeducados, a computação precisa ser reinventada. Temos que mudar o que ensinamos nas universidades. Provavelmente, você não poderá migrar todos os softwares, talvez você achará alguns pacotes que são tão grandes que será melhor deixá-los como estão. Mas isso vai demorar muitos e muitos anos, por isso precisa começar o quanto antes. Não devemos esperar. Isso significa que os políticos têm que correr para transformar a situação o mais breve possível. Pelo menos na Europa, alguns políticos e algumas pessoas bem inteligentes já estão falando disso há um bom tempo. Eles, geralmente, vão para mídia falar dessas ideias. Por isso, acredito que essa mudança vai depender de um grande suporte da mídia.
_____________________________
Fonte: Correio Braziliense online, 09/08/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário