domingo, 1 de fevereiro de 2015

Ator espanhol Antonio Banderas fala dos novos projetos para 2015

Entrevista. Antonio Banderas
REUTERS/Andrea Comas

 Antonio Banderas

Em entrevista ao 'Estado', ele lembra do caminho que abriu nos EUA e diz que quer deixar a loucura do estrelato

Cleide Klock 

NOVA YORK - Em um primeiro momento a fala soa tímida, o tom é baixo, o ritmo um tanto lento para alguém lá das terras ‘calientes’ da Andaluzia. O olhar nem é tão profundo quanto o do Zorro. Cansado, depois de um dia inteiro de entrevistas, ele solta em uma mesa para jornalistas do mundo inteiro a primeira frase de efeito: “Meu reino por um travesseiro”. Mas, logo esquece o cansaço e não demora muito para o espanhol mais famoso de Hollywood mudar completamente a postura: quando começa a falar de sua paixão em atuar, se transforma, enfim, em Antonio Banderas, aquele que a gente conhece. E não é que até o olhar fica mais profundo?

Logo se declara em bom portunhol: “O Brasil me encanta. Se tudo der certo, vou para lá ainda este ano”. Antes disso, vai aparecer na tela grande como o pirata Barba Burger, na animação Bob Esponja – Um Herói fora D’Água, que chega aos cinemas brasileiros na quinta, 5.

O que o atrai nessas produções infantis?
A minha carreira, há pelo menos 14 anos, está relacionada ao universo infantil. Fiz Pequenos Espiões, depois entrei no mundo do Shrek, do Gato de Botas ‘solo’ e agora me transformei em um pirata. Esse é um gênero que sempre me interessou e acho que me chamam para atuar nessas produções porque sabem que nunca deixei morrer o menino que mora dentro de mim. E, de contraponto, como ator, posso fazer o que em um filme adulto não poderia.

Como é atuar com bonecos, com personagens que no set você não vê?
É difícil, principalmente no primeiro dia de trabalho, tudo é estranho. Ao invés de contracenar com atores, ao redor de mim tinham profissionais de arte gráfica preocupados com as cores de seus bonecos.

 "Nunca vou esquecer. Quando cheguei (EUA), 
há 23 anos, me falaram
Você vai fazer papéis de personagens malvados, 
porque aqui os maus são interpretados
 por hispânicos ou negros."


Na sua cidade, Málaga, tem uma rua com seu nome (Paseo Maritimo Antonio Banderas), o que acha dessa homenagem?
Eles têm esse tipo de amor por mim, fico ao mesmo tempo orgulhoso e também acho estranho. Fico imaginando as pessoas quando passam o endereço: ‘moro na Antonio Banderas, 15 (risos)’. Mas entendo que esse processo tem a ver com o contexto político do meu país. Venho de um lugar onde as pessoas se sentiam inferiores. Temos muitos valores, mas naquele contexto de 40 anos atrás, nos sentíamos em uma ilha com uma ditadura, enquanto a Europa vivia uma democracia com uma cultura efervescente. Então crescemos admirando os alemães, ingleses... e de, repente, nos demos conta que também poderíamos chegar lá e fazer nós mesmos a nossa história. Inclusive vir para Hollywood. Naquela altura isso parecia uma piada. Eu falava que viria para cá e todos achavam que eu estava brincando. Depois de mim vieram outros, Penelope Cruz, Javier Bardem e tantos outros, e mostramos que o mundo estava também aberto para nós. Isso começou a ser natural para cantores de ópera, jogadores de tênis, modelos, pilotos de Fórmula 1, só aí que os espanhóis conseguiram sentir que são pessoas como as outras, que acertam e erram na mesma proporção. Então, acho que essas pessoas que colocaram meu nome da rua me acham pioneiro de alguma forma e fico orgulhoso.

Você lembra como foi a sua recepção como ator nos Estados Unidos?
Nunca vou esquecer. Quando cheguei, há 23 anos, me falaram: ‘Você vai fazer papéis de personagens malvados, porque aqui os maus são interpretados por hispânicos ou negros. Mas alguns anos depois, quando estava fazendo Zorro, o malvado já se transformara em um ator louro, de olhos azuis e com inglês perfeito. Então eu pensei: o mundo está mudando. Quando fiz Gato de Botas tive certeza. Os americanos são muito preocupados com a maneira com que os filmes afetam as crianças, então a partir do momento que colocam um herói com um sotaque como o meu, eles estavam também mandando uma mensagem de que alguém com esse sotaque estranho poderia ser um herói.

Como é ser um símbolo sexual e sempre estar na lista dos homens mais bonitos e charmosos do mundo, há mais de 20 anos?
Não acredito nessas listas. Eu costumo me olhar no espelho de manhã, então não consigo acreditar nisso.

Então você sabe o que vê?
Talvez lá pelas sete horas da manhã não consigo ver muita coisa (risos). Acho que são essas coisas de Hollywood, esse mundo de glamour precisa ter nomes. Se você for andar na Quinta Avenida vai encontrar rapidinho uns quinze que são muito mais bonitos do que eu. 

Pode adiantar como estão os próximos projetos? Dois deles têm o número 33!
Sim, é uma coincidência. The 33 é sobre os mineiros que ficaram presos em uma mina no Chile, trabalhei inclusive com Rodrigo Santoro nesse filme. Ele é um ótimo ator e foi um grande companheiro de set. Acho que vai ser um bom filme, vão lançar no verão aqui nos Estados Unidos, e se não fosse bom, não lançariam em uma época dessas. O outro é 33 Dias, sobre Picasso e está em processo de pré-produção e levantamento de recurso. Para mim, essa produção tem um grande significado, pois Picasso nasceu a dois blocos da minha casa em Málaga.

Aos 54 anos, você se vê em outro momento da carreira?
Sim, eu não estou querendo fechar portas e nem dizer que meu tempo na América se encerrou. Mas quero, por exemplo, fazer muito mais produção e direção na Espanha. Não ganharei mais dinheiro, mas terei mais liberdade. Eu quero acima de tudo transformar minha vida profissional em meu hobby e não viver o tempo todo nesse desespero de bilheteria, de como a crítica recebeu meu filme. Por isso me aventuro com os meus perfumes e vinhos. Assim eu compro minha liberdade.
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Fonte: Estadão online, 01/02/2015

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