Luiz Paulo Vasconcellos*
Inspirado no prefácio da crônica de Luis Fernando
Verissimo publicada no domingo, dia 18 de janeiro, em que ele, com muito
bom humor, comenta que todas as pessoas que aparecem nas fotos das
colunas sociais estão sorrindo, arrisco os comentários que vão aí
abaixo, nem tão bem-humorados assim, mas de qualquer maneira bem
observados. Antes, porém, permito-me reproduzir um trecho da citada
crônica: “Nestes dias que nos assolam, é importante encontrar um abrigo
das más notícias. (...) Agora, como o futebol não é mais refúgio, faço o
seguinte: leio as manchetes da primeira página, o suficiente para me
desesperar, e vou direto para a crônica social”.
Pois eu também encontrei o meu abrigo das más notícias, uma condição que elimina a inveja, o ciúme, a raiva, a mentira e o mau humor. É verdade. Afirmo que não existe mais avareza, preguiça e esbanjamento. Não existe mais cobiça, fofoca ou maledicência. Gulodice, soberba e sovinice foram banidas do cotidiano das famílias. E muitas outras coisas mais que a sociedade costuma julgar como delitos e defeitos. Pelo menos, é o que concluo lendo os obituários publicados nos jornais. Todos os que estão deitadinhos nos caixões esperando a hora do enterro ou da cremação foram honestos, superprotetores, personalidades fortes e raras inteligências. Todos valorizaram a educação, o estudo dos filhos e a união das famílias. Todos foram alegres, bonitos e elegantes. Todos foram muito ligados à família, aos pais e avós extremamente presentes, considerados exemplos de dignidade, simplicidade, honestidade e caráter. Afáveis, meigos e doces. Humildes, leais e sinceros. Divertidos, atenciosos e queridos. Tá certo, eu sei que quem morre fica logo bonzinho, que a dor do luto desculpa tudo, que o medo da morte transforma em virtude tudo o que a pessoa escondia da vizinhança e da família. Mas, convenhamos, não é preciso exagerar, tudo tem um limite. Sem limite, o que deveria ser um tributo ao falecido torna-se risível. Uma espécie de abrigo das más notícias.
Pois eu também encontrei o meu abrigo das más notícias, uma condição que elimina a inveja, o ciúme, a raiva, a mentira e o mau humor. É verdade. Afirmo que não existe mais avareza, preguiça e esbanjamento. Não existe mais cobiça, fofoca ou maledicência. Gulodice, soberba e sovinice foram banidas do cotidiano das famílias. E muitas outras coisas mais que a sociedade costuma julgar como delitos e defeitos. Pelo menos, é o que concluo lendo os obituários publicados nos jornais. Todos os que estão deitadinhos nos caixões esperando a hora do enterro ou da cremação foram honestos, superprotetores, personalidades fortes e raras inteligências. Todos valorizaram a educação, o estudo dos filhos e a união das famílias. Todos foram alegres, bonitos e elegantes. Todos foram muito ligados à família, aos pais e avós extremamente presentes, considerados exemplos de dignidade, simplicidade, honestidade e caráter. Afáveis, meigos e doces. Humildes, leais e sinceros. Divertidos, atenciosos e queridos. Tá certo, eu sei que quem morre fica logo bonzinho, que a dor do luto desculpa tudo, que o medo da morte transforma em virtude tudo o que a pessoa escondia da vizinhança e da família. Mas, convenhamos, não é preciso exagerar, tudo tem um limite. Sem limite, o que deveria ser um tributo ao falecido torna-se risível. Uma espécie de abrigo das más notícias.
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* Colunista da ZH
Fonte: ZH online, 03/02/2015
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