Vila 7, livraria e loja de brinquedos para crianças do Recife
Entender os anseios do consumidor não é tarefa fácil. Para avaliar o que
leva alguém a comprar um produto, empresas têm apostado no
neuromarketing, estudo do comportamento do consumidor a partir da
neurociência.
Com tecnologia avançada, que inclui ressonância magnética, o cérebro é
analisado para descobrir quais áreas são estimuladas em uma loja, por
exemplo. A principal descoberta é a de que cerca de 95% do processo de
tomada de decisão do ser humano não acontece no neocórtex (parte do
cérebro que comanda o pensamento racional), mas no cérebro reptiliano,
que controla os instintos básicos de sobrevivência.
Essa parte do cérebro é visual, emotiva e gosta de simplicidade.
Aplicada ao marketing, a descoberta revela que é preciso entender
emoções e sentimentos subjetivos do consumidor para atrair o seu
interesse.
"Queremos entender as reações do consumidor que estão além daquilo que
as pessoas falam; buscamos reações implícitas e não verbais", informa
Billy Nascimento, fundador da Forebrain, empresa ligada à incubadora da
Coppe-UFRJ que realiza estudos para descobrir e monitorar reações do
consumidor diante de um comercial, logotipo, produto ou conceito.
Por
serem estudos caros, ainda são poucos os casos de pequenos e médios empresários
recorrendo a essa técnica. Mas quem já usou esse conhecimento diz valer a pena.
Antes
de abrir uma livraria para crianças e loja de brinquedos em Recife, a
publicitária Juliana Lins, 37, recorreu a uma consultoria de neuromarketing
para avaliar o conceito do negócio.
A
Vila 7 vende brinquedos educativos e tem como preceito resgatar a infância dos
pais -a ideia é estimular a família a brincar unida.
"Percebemos,
na consultoria, que a ideia emocionava as pessoas e que muitos pais têm um
certo sentimento de culpa por não estarem tão presentes na infância dos filhos.
Isso me deu confiança para abrir a loja", afirma.
No
caso do logotipo, foi feito um ajuste. "Eu insistia que queria uma árvore
no logo, mas percebemos com os estudos que esse elemento gráfico não chamava a
atenção. Acabamos retirando a árvore e hoje acho que foi uma decisão
positiva".
Renato
Sneider, sócio da SalesBrain no Brasil, explica que o cérebro reptiliano é
acionado a partir de ameaças e medos. Dessa forma, consultorias de neuromarketing
aplicam técnicas específicas para descobrir qual o medo profundo que existe por
detrás do consumo de um produto. Por exemplo: mulheres pintam as unhas, na
profundidade instintiva do cérebro reptiliano, não para ficarem mais belas, mas
pelo medo de ficarem sozinhas.
"Antigamente,
a gente fazia sem saber, mas hoje a gente faz com base científica",
comenta Paulo Crepaldi, sócio e diretor-executivo da ING Marketing &
Training. A neurociência chegou a conclusões que muito profissional do
marketing já intuía: o cérebro reptiliano, onde ocorre a maior parte das nossas
decisões (e também responsável por acionar os gatilhos da compra), é visual,
emotivo e gosta de simplicidade (veja mais no quadro ao lado).
"Para
o cérebro reptiliano, menos é mais e uma imagem fala mais do que mil
palavras", resume Sneider.
PARA
TODOS OS BOLSOS
Existem
várias maneiras de se medir as reações do consumidor -desde algumas mais
simples, como o eye-tracking (que monitora o movimento dos olhos), como as mais
complexas, como a ressonância magnética do cérebro (para entender quais áreas
da massa cinzenta são acionadas diante de um produto ou comercial).
O
coordenador do laboratório de neuromarketing da Fundação Getulio Vargas, Carlos
Augusto Costa, diz que cada caso demanda um estudo específico, e, por isso, o
valor das consultorias varia muito. Mas que análises mais simples -como o
monitoramento do olhar diante de um site, por exemplo, para medir quais
elementos gráficos chamam mais atenção –podem sim caber no bolso de um médio
empresário. "O neuromarketing veio para ficar e a tendência é que com o
tempo se torne mais barato e acessível", afirma.
A
análise neurométrica (que mede a reação do consumidor) é uma das vertentes do
neuromarketing. Há também empresas que trabalham em cima das conclusões desses
estudos para oferecer treinamento e consultoria para os clientes -com base em
conceitos já consolidados. Neste caso, a consultoria é mais conceitual do que
métrica.
Antes
de participar de uma licitação, o publicitário Maurício de Almeida Prado,
diretor de planejamento e sócio da Agência Plano 1, contratou uma consultoria
da FGV. Eles haviam criado diferentes opções de materiais de ponto de venda
para um cliente do setor alimentício. Fizeram peças variadas: com fotos de
pessoas, com a embalagem fechada, com imagens do alimento e uma última opção
com textos.
"Tomamos
a decisão de maneira mais científica, sem ser só no achômetro", comenta.
"O que deu para provar muito bem é que colocar uma coisa só dá mais
resultado do que colocar tudo", afirma. Com a consultoria, a agência
terminou optando por uma peça que mostrava foto de pessoas felizes e do
alimento. Eles ganharam a licitação.
Para
Marcelo Moreira, consultor do Sebrae-SP, o neuromarketing é apenas uma nova
estratégia para melhorar a comunicação com os consumidores, mas não é o ponto
final. Como alternativa, pequenos e médios empresários têm, em mãos, uma
poderosa ferramenta de compreensão do consumidor: "a barriga no
balcão".
"Ouvir
o consumidor no ponto de venda é fundamental e enriquece muito", afirma.
Ele acredita ainda que a consultorias de neuromarketing tendem a ter seus
preços reduzidos no futuro.
CONSULTORIAS
MAIS ACESSÍVEIS
Alguns
laboratórios e empresas da área vêm armando estratégias para baratear os
valores e alcançar as médias e pequenas empresas.
Esse
é o caso da Salesbrain, empresa especializada em neuromarketing. Hoje, a
Salesbrain oferece, além da análise neurométrica, treinamento para empresas
-voltado para o departamento de marketing ou para vendedores -com base nos
conhecimentos já consolidados do neuromarketing.
Esses
treinamentos custam entre R$ 12 mil e R$ 15 mil, duram oito horas e pode
contemplar de 12 a 20 pessoas da empresa.
A
Salesbrain, porém, começará, neste ano, a oferecer workshops abertos a todos, e
a preços mais acessíveis, entre R$ 1.700 e R$ 4.100, dependendo da duração do
curso.
A
Fundação Getúlio Vargas também vem conversando com entidades e governo federal
na tentativa de realizar estudos que possam ser divulgados para todos e que
possam contemplar, por exemplo, um determinado setor do varejo. Apesar da
articulação, ainda não há nada concreto.
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Reportagem por ANA MAGALHÃES
fonte: Folha online, 23/02/2015
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