Diana Corso*
Tempos de férias de verão no Brasil, as redes sociais exibem os
amigos em imagens litorâneas – ou até invernais, registros daqueles que
foram a turismo em clima inverso. Identificamos gozar a vida com os
momentos em que ela não se parece com o que realmente é. Na nossa
realidade, não há esquis, bistrôs charmosos, praias paradisíacas, nem
pés para cima. Aliás, se a neve ou o mar estiverem presentes no dia a
dia de trabalho, fugiremos deles nas férias.
Porém, gostei de uma particular experiência de inversão, a qual, ao invés de fugir da realidade, produziu uma imersão nos pântanos da condição humana. Dessas férias, os viajantes voltaram outros, no melhor sentido. Promovido por um jornal norueguês, o reality show Sweatshop – Deadly Fashion levou três jovens blogueiros de moda até o Camboja. Frida, Ludvig e Anniken trabalharam por um mês, 12 horas por dia, numa fábrica onde são costuradas as roupas que eles usam e promovem, em troca de uma quantia de dinheiro que eles costumam gastar no lanche. É claro que a maior parte da série é dedicada às lágrimas, ao choque com a precariedade da vida daqueles trabalhadores. O impacto foi ainda pior, já que eles se perceberam parte da engrenagem que escraviza aquelas pessoas. No capitalismo selvagem, não existe luxo e desperdício sem produzir, na outra ponta, sofrimento e miséria. Essa é a realidade de uma multidão invisível aos olhos dos que não a partilham. Não estou defendendo que se deva passar as férias com fome, doença e condições insalubres, mesmo porque quem não está habituado talvez nem sobrevivesse. Só lembrei desse programa para confrontar sua proposta com as que normalmente nos fazemos, no sentido de “conhecer algo diferente”. Óbvio que buscamos um lugar mais bonito, mais calmo ou mais civilizado daquele que habitamos. Por isso voltamos inconformados com a vida que nos tocou.
Férias são exceção, uma mudança de ares que nos permite desintoxicar da vida besta, enxergar as coisas de outro modo. É compreensível procurar algo bacana para fazer. Por outro lado, me pareceria uma bela ideia que os tais shows da realidade da tevê fossem menos de personagens bombados se agarrando sob o edredon e mais experiências assim, de verdadeira realidade. Esses, eu assistiria.
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*Psicanalista
Fonte: ZH online, 15/02/2015
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