Monge Marcelo Barros acredita que mensagem
de Francisco fortalece Teologia da Libertação.
A Teologia da Libertação vivencia, hoje, um momento de
refortalecimento e difusão de suas ideias na figura do Papa Francisco. Ainda
que não se considere adepto do pensamento dessa corrente do Cristianismo, o
Sumo Pontífice tem ecoado em todo o mundo fundamentos da mensagem libertadora.
Para comentar esse contexto, o monge beneditino e escritor
Marcelo Barros conversou com exclusividade com a Adital, durante o 11º
Encontro Nacional da Pastoral da Juventude (ENPJ), realizado em janeiro desate
ano, em Manaus, Estado do Amazonas, no Brasil.
Barros acredita que, atualmente, os grandes temas da
humanidade passam primordialmente pelas juventudes e por uma cultura do
"bem viver”, respeitando povos, tradições e culturas. Na relação dialógica
entre a vida concreta e a espiritualidade, o escritor também aponta que a
Igreja Católica ainda não aprendeu a viver numa "política de comunhão” e
que o desafio de Francisco passa por esse caminho.
Adital – O senhor acredita que os
jovens vão se apropriar das ideias da Teologia da Libertação? Como engajar a
juventude nesta temática?
MB – A Teologia
da Libertação tem que incorporar, hoje, os grandes temas, que são os temas da
juventude. Então, toda a questão, por exemplo, da relação de gêneros,
especificamente os novos desafios, como a questão do homoerotismo, de todos
esses desafios éticos e morais que tocam a família, que tocam as relações
humanas, têm que ser incorporados na Teologia da Libertação. Como também a
questão da cultura do Bem Viver, toda a questão ecológica, indígena e negra.
Adital – Na sua opinião, a ascensão dos
governos progressistas na América Latina contribui para uma abertura, para uma
recuperação da Teologia da Libertação?
MB – Sem dúvida
nenhuma, inclusive, alguns deles, como o de Rafael Correa [presidente do
Equador], foi formado dentro dos campos da Teologia da Libertação. Agora, o que
é importante é que a Teologia da Libertação sempre parte das bases e dos
pequenos, e não dos governos, mas é bom ter governos como aliados.
Adital – Qual é a relação das ideias do
Papa com a Teologia da Libertação?
MB – O Papa
Francisco mostra uma identidade muito grande com alguns princípios fundamentais
da Teologia da Libertação, como o fato da inserção na vida concreta, a partir
dos pobres, ter uma atitude espiritual que é de amor universal, abertura...
Isso coincide muito profundamente, o que é importante é que haja uma leitura
mais sistemática, mais estrutural e não somente ocasional.
Adital – A chegada do Papa Francisco ao
Vaticano resgata, então, a Teologia da Libertação? Quais são os desafios que
ele tem que enfrentar, sobretudo, dos movimentos mais opressores, em vista da
opção pelos movimentos mais oprimidos?
MB – Como o Papa
representa uma instituição que é imperial, que é monárquica, que é piramidal e
que, até agora, não aprendeu a partir do diálogo e a viver numa política de
comunhão no sentido de igualdade, então, o desafio é nisso. Ele, como Papa,
deve propor esse caminho novo.
Adital – O senhor acredita que está
havendo uma campanha de difamação contra o Papa Francisco? Tem gente duvidando,
por exemplo, da veracidade da carta que ele enviou aos jovens aqui do
Encontro...
MB – O Papa
Francisco desgosta profundamente dos grandes do mundo. Então, na Itália mesmo,
na Europa, em vários jornais e meios de comunicação, tem havido sim uma
campanha sistemática contra ele, e é muito importante que a proposta dele, que
agrada tanto a muita gente da humanidade, penetre mais nas estruturas da Igreja
Católica.
Adital – Recentemente, tivemos o
atentado contra a revista Charlie Hebdo, em Paris, que colocou muito em
discussão a intolerância religiosa e a liberdade de expressão. Como o senhor
analisa essa questão? Quais os limites de um e de outro?
MB – Acho que o
atentado de Paris foi uma coisa lamentável, a gente só pode se condoer e se
solidarizar com os parentes das vítimas, mas ele é resultado de uma expressão
cultural de muita arrogância, de muita prepotência dos franceses, dos europeus,
que olham sempre o outro, o muçulmano, o árabe e o latino-americano, o africano
como inferior, como não tendo direitos iguais. Então, uma coisa é liberdade de
expressão, a outra é essa avacalhação de uma maneira suja, que o outro não pode
responder, da religião e da cultura. Então, enquanto não houver uma mudança
nessa linha, pode haver outros fatos como esse. Eu lamento, não sou a favor,
mas é uma violência provocada por outra violência. A violência institucional é
maior.
(Colaborou Marcela Belchior)
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Fonte: Adital online, 22/02/2014
Foto: Reprodução.
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