A Grécia foi o 110º país que visitei, e a estadia por lá foi especial devido ao significado que ela teve para mim e para um amigo meu. Decidimos ir a um lugar sagrado a fim de rezar pelo avô dele, que infelizmente nos deixara havia pouco. Então seguimos para o monte Athos com esse foco em especial.
Aquele lugar faz parte de uma comunidade monástica única localizada em uma península no norte da Grécia. Também é conhecido como Montanha Sagrada. É um centro de monaquismo cristão ortodoxo há mais de mil anos e, por causa disso, precisávamos de um visto especial para entrar naquele lugar isolado.
Inicialmente, o acesso é permitido apenas por meio da igreja e só para homens de fé cristã, mas para a minha surpresa conseguimos a autorização.
Pegamos um barco e seguimos em direção à montanha. Não nos foi solicitado, mas naquele momento já mantínhamos um silêncio de reverência. Enquanto navegávamos em direção ao norte e nos aproximávamos gradativamente da península, fui ficando impressionado com o sentimento de tranquilidade que surgia em mim. Era como se eu estivesse chegando perto de um portal. A beleza deslumbrante ia além dos mosteiros empoleirados no alto de penhascos rochosos que pareciam coroas no terreno acidentado.
Um desses mosteiros, construído no século 14, ficava a 243 metros pés acima do mar Egeu, um testemunho da devoção e da perseverança dos monges que o construíram. A título de curiosidade, os 336 quilômetros quadrados da península são dedicados exclusivamente a mosteiros e aos monges.
A sensação que eu tive foi a de ter realmente atravessado uma fenda, em que o mundo moderno ficava à parte daquela capital espiritual do cristianismo ortodoxo.
A atemporalidade e a devoção eram palpáveis diante dos 20 mosteiros e cerca de 2.000 monges de todo o mundo. Os costumes da vida no monte Athos são governados por tradições estritas e que sempre priorizam o senso de espiritualidade. Dessa forma, evitam-se distrações e até mesmo entretenimento como jornais ou televisões.
Tais hábitos são mantidos há mil anos, assim como a restrição quanto à entrada de mulheres. Os monges se mantêm focados no objetivo de se aproximar de Deus e fazem votos de comprometimento a respeito disso por toda vida.
Um dos aspectos mais interessantes desse estilo de vida é a importância da autossuficiência. Os monges cultivam todo o alimento de que precisam, mesclando a simplicidade do cotidiano com o trabalho árduo.
Eles dormem só três horas por noite, bebem vinho às 9h e realizam duas refeições por dia. A duração desses períodos de nutrição é de aproximadamente dez minutos —no cardápio não há carne e durante a alimentação não há conversas à mesa.
O único som que quebra o silêncio é o de um monge lendo textos sagrados, afinal todo o tempo deve ser aproveitado a fim de atingir o propósito.
Nossos dias foram edificados por orações e preenchidos especialmente por aquelas que foram feitas em prol do avô do amigo que estava viajando comigo, que sonhava em visitar o monte. Para visitar o local, é preciso ser homem e entregar uma cópia do passaporte ao birô de peregrinos e ter alguma autorização da igreja.
A serenidade ambiental e a atmosfera espiritual do monte Athos mostraram-me que a distância entre a terra e o divino pode ser uma ponte bem curta, que depende simplesmente do quão cremos em algo. Eu e o meu amigo participamos da rotina local, do dia a dia dos monges. Seguindo o ritmo de orações e intensidade de serviço, nós imergimos no profundo senso de paz que permeia aquela península de uma maneira singular. Afinal, cada mosteiro é definitivamente uma fortaleza de fé.
Os monges estavam com suas vestes negras, moviam-se silenciosamente pelos corredores e carregavam em seus semblantes a contemplação. Nosso tempo no monte Athos foi uma viagem a um mundo em que a busca pelo esclarecimento genuíno prevalece acima de qualquer superficialidade humana.
Em outras palavras, é buscar conectar-se com o que há de bom no ser humano. A partir da minha observação, aprendi uma coisa importante: a humildade em relação à dedicação. Os monges foram fonte de inspiração quanto a esse assunto, porque não vi orgulho em seus esforços. Mesmo com o seu estilo de vida austero, havia alegria e contentamento em suas expressões. Eles escolheram um caminho que poucos poderiam entender, e penso que até mesmo aqueles que entendam poderiam não ter coragem de fazer o mesmo.
O significado da vida naquele lugar não é debatido, porque adorar a Deus é a única razão. Quando eu estava próximo do fim da estadia, o monte Athos fez com que eu sentisse gratidão e compaixão para comigo.
Me fez olhar mais para o como eu tenho conduzido a minha vida e me forneceu um lembrete da importância da fé na busca por um propósito superior. A experiência deixou não só uma marca em mim, mas uma transformação no meu coração.
Sem essa experiência, provavelmente eu não teria habilidades suficientes para visitar os países que ainda estariam por vir.
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