quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Uma sociedade em decadência – Brasil parte 02

Extraído do Google Imagens

Pompeia foi uma cidade do antigo Império Romano, localizada nas proximidades de Nápoles. O que torna Pompeia interessante é o estilo de vida adotado pelos moradores da cidade. O filósofo Francis Schaeffer escreveu que: “À medida que o Império (romano) ficava em ruínas, os decadentes romanos se entregavam à sua sede pela violência e satisfação de seus sentidos. Isso fica especificamente evidente pela sua sexualidade exacerbada. Em Pompeia, por exemplo, aproximadamente um século depois de a República ter se tornado coisa do passado, o culto ao falo era prática comum. Estátuas e pinturas de exagerado conteúdo sexual decoravam as casas dos mais influentes. Nem toda arte de Pompeia era assim, mas as representações sexuais eram desavergonhadamente gritantes.” O Museu Nacional de Arqueologia de Nápoles guarda obras eróticas capazes de envergonhar até mesmo os mais liberais dos nossos dias.

A decadência moral de uma civilização é um dos últimos sinais que evidenciam que todos os demais valores daquela sociedade já foram derrubados. Foi assim com praticamente todas as civilizações históricas e continua sendo assim em nossos dias. Quando a sociedade se entrega desenfreadamente às suas paixões carnais e à busca pela satisfação dos sentidos, sua queda está próxima. Francis Schaeffer diz mais sobre a Roma antiga: “Roma não caiu devido a alguma força externa, tal como a invasão dos bárbaros. Roma não tinha suficiente base interna; os bárbaros só deram o empurrão final para o colapso – e gradualmente Roma tornou-se ruínas.” A desmoralização de uma sociedade é o sinal de que suas bases estruturais já foram derrubadas e que sua queda completa é apenas uma questão de tempo.

No entanto, a imoralidade de Pompeia e do Império Romano não estava restrita à sexualidade, mas também envolvia a justiça social. Quanto mais a economia romana decaía, maior era o fardo da inflação e dos impostos sobre o povo. O trabalho escravo ganhava cada vez mais força, e as liberdades individuais eram cada vez mais enfraquecidas.

É curioso observar o fim histórico de Pompeia. A cidade foi destruída durante uma grande erupção do vulcão Vesúvio (79 d.C.), cujas cinzas cobriram completamente a cidade, que só foi reencontrada em 1748. O fim foi basicamente o mesmo experimentado por Sodoma e Gomorra, narrado em Gênesis 19. E, tal como Pompeia e Roma, os pecados de Sodoma e Gomorra iam além do meramente sexual. Veja o que escreveu o profeta Ezequiel: “Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: Soberba, fartura de pão e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado.” (Ez 16:49).

Durante a decadência moral do Império Romano, a princípio a igreja resistiu às tentações com grande bravura, o que resultou na morte de milhares de cristãos das formas mais terríveis, sendo suas mortes, muitas vezes, usadas como espetáculos para entretenimento do povo, e seus corpos em chamas utilizados como tochas para iluminação pública das cidades.

No entanto, logo a igreja cedeu aos encantos da ganância e da imoralidade. Com o reconhecimento da igreja como religião oficial do Estado Romano, ela enfraqueceu moralmente diante dos privilégios e favores do estado, tornando-se o centro da disputa pelo poder político e religioso dos reis e líderes cristãos. Em sua arrogância, tornou-se voltada apenas para si mesma, esqueceu-se da santidade e da justiça social e tornou-se intolerante.

O historiador Earle E. Cairns escreveu: “Infelizmente, a Igreja ganhou em poder, mas se tornou uma arrogante perseguidora do paganismo, do mesmo modo que as autoridades religiosas pagãs tinham agido em relação aos cristãos. Parece que, no balanço final, a aproximação entre a Igreja e o Estado trouxe mais malefícios do que bênçãos à Igreja Cristã.” Dentro da igreja o caos era imenso, desde heresias das mais diversas, toda sorte de imoralidade sexual, abuso de poder e dos bens da igreja, negligência para com os pobres e injustiçados, e uma incansável disputa pelo poder. A espiritualidade, outrora presente na vida dos cristãos primitivos, havia desaparecido do meio da igreja naqueles dias. Era extremamente difícil encontrar um só soberano, legislador, ou qualquer autoridade temporal ou religiosa que não fosse um herege ou um pagão. O que observamos na história é que a igreja deixou de exercer seu papel profético e passou a ser profundamente influenciada pelo paganismo, não só no estilo de vida imoral, na corrupção, na falsidade religiosa, e até mesmo a liturgia da igreja sofreu os efeitos dessa terrível queda.

No decorrer da história, Deus interveio e preservou para si um povo que buscou não se contaminar e, através dos séculos, podemos identificar vários momentos de despertamento e avivamento na igreja, sendo a Reforma Protestante sem dúvida o mais importante despertamento da igreja desde Atos dos Apóstolos, fazendo com que a igreja voltasse a valores outrora esquecidos e, acima de tudo, a enfatizar a autoridade das Sagradas Escrituras. Na Reforma, vemos alguns elementos de fundamental importância na história, não só da igreja, mas de toda a sociedade: [1] Mudanças radicais que afetaram todas as áreas da vida de muitos países europeus, e também na formação de outros países como Estados Unidos da América, Austrália e Nova Zelândia. [2] Efeitos profundos na cosmovisão moderna das leis e práticas políticas dos países reformados. [3] Efeitos significativos na literatura, língua e educação dos países reformados. A língua alemã, por exemplo, teve seu estabelecimento como fruto dos trabalhos de tradução realizados por Martinho Lutero. [4] Efeitos nos campos da ciência: se não fosse a Reforma Protestante, que encorajou e serviu de plataforma de incentivo para novas pesquisas, estaríamos muito atrasados no que diz respeito à ciência, visto que toda pesquisa científica anterior à Reforma deveria ser aprovada e controlada pela igreja. [5] A Reforma Protestante estabeleceu os direitos e obrigações da consciência individual. Se hoje existe algo chamado “liberdade de expressão e consciência”, ela é resultado do trabalho dos reformadores.

No entanto, mesmo diante de todas as conquistas da Reforma Protestante, tanto a sociedade quanto a igreja embarcaram num retrocesso social, religioso e político lamentável. A imoralidade sexual, a injustiça social, as aberrações teológicas, os abusos de poder e dos recursos da sociedade e da igreja se aproximam daquilo que foi vivenciado em toda Roma antiga.

Nosso sistema político encontra-se fragilizado e nossa tão querida democracia parece não produzir mais os benefícios esperados em uma sociedade igualitária. E para piorar a situação, os políticos cristãos que se elegem às custas da igreja, numa proposta de redimir o sistema político com sua conduta e fé, mostram-se tão corrompidos quanto os demais políticos e, lamentavelmente, em alguns casos, até piores. Os escândalos envolvendo políticos vão além da corrupção de poder e financeira, mas também incluem a imoralidade sexual, basta conferir nos jornais. O sistema social encontra-se num estado deplorável, onde o rico continua cada vez mais rico e o pobre cada vez mais pobre. É impressionante que, em pleno século XXI, a escravidão volte a ser tema de preocupação em praticamente todo o mundo.

Desejo concluir este texto com uma breve avaliação sobre a igreja nestes dias de decadência. Nunca vivemos tão aquém do ideal de Deus para sua igreja, onde substituímos nossa missão de ser luz, através da pregação das Escrituras Sagradas, por uma ação prática que demonstra o amor de Deus para com os povos do mundo e por uma vida santa que se afasta e denuncia toda sorte de pecado moral, social e injustiças contra os mais fracos. A igreja substituiu esse ideal de Deus por uma postura megalomaníaca de construção de templos cada vez maiores, de ajuntamento de massas, de shows, de busca por riqueza e bens terrenos, e por uma vida cada vez mais luxuosa. Veja o que escreveu o filósofo francês Gilles Lipovetsky sobre a espiritualidade destes dias:

“Já nem a religião constitui um contrapoder face ao avanço do poder do consumo-mundo. Ao contrário do que se verificava no passado, a Igreja já não privilegia as noções de pecado mortal, já não exalta o sacrifício ou a renúncia. […] De uma religião centrada na salvação no Além, o cristianismo passou a ser uma religião ao serviço da felicidade terrena, colocando a ênfase nos valores da solidariedade e do amor, na harmonia, na paz interior, na realização total da pessoa.”

É lamentável que em nossos dias tenhamos que presenciar dentro das igrejas ditas evangélicas aqueles pecados duramente combatidos pelos reformadores. A decadência moral atingiu não apenas os crentes comuns, mas também sua liderança e até mesmo sua liturgia. Lipovetsky escreveu ainda: “A espiritualidade tornou-se mercado de massas, produto a comercializar, setor a gerir e promover.” O que define a bênção de um culto, nesta espiritualidade

decadente, é o volume de pessoas que comparecem ao templo, as ofertas recolhidas, o número de conversões ou se as pessoas foram tocadas ou não pela palavra ministrada no culto. Vivemos num tempo onde as práticas cristãs são avaliadas através de números, e não de acordo com os ensinamentos de Cristo e dos apóstolos.

Por tudo o que foi exposto acima, percebemos que a sociedade caminha para um fim trágico, assim como caminharam Roma e Pompeia, e a igreja, que deveria ser profeta e ter uma postura diferente, na prática, tem sido mais uma instituição a contribuir para este fim.

By Luis A R Branco

Fonte:  https://verdadenapratica.wordpress.com/page/2/


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