Instalou-se a revanche. Se Sergio Moro armou contra Lula, Alexandre de Moraes teria preparado a cama dos bolsonaristas. Se um hacker estragou a festa da Lava Jato, um vazamento colocou água no chope do ministro do STF. A esquerda jura que a Folha de São Paulo, responsável pelas reportagens que estão sacudindo o BolsoBrasil, prepara o terreno para que o capitão Jair Bolsonaro possa voltar a ser elegível. Não é de duvidar. A FSP já emprestou camionetes para o transporte de presos políticos da ditadura de 1964. Os tempos são outros. No Brasil, porém, nunca há tempo totalmente outro.
E tudo se inverte. Garantistas, que atacaram os métodos heterodoxos de Sergio Moro, agora defendem a informalidade de Moraes. Consequencialistas, aqueles para quem só interessa o resultado, que apoiaram a Lava Jato, agora atacam os meios não convencionais de Xandão. Pura politicagem? Em grande parte. Um meme diz tudo: “A Folha de São Paulo descobriu que Moraes presidente do TSE e ministro do STF eram a mesma pessoa e conversavam entre si”. Eu já estranho que uma pessoa possa ocupar, ao mesmo tempo, dois cargos tão importantes. Tem pouco serviço? Dado que é possível, como separar um do outro: Moraes devia oficiar para Moraes? Moraes deveria pedir a Moraes que lhe enviasse informações? O presidente do STF, Luiz Roberto Barroso, garante que tudo foi formalizado e dado a ver ao Procurador-Geral da República. Não haveria irregularidade. Só pressa.
Tudo vira o oposto neste país descomposto. Reinaldo Azevedo, o jornalista mais odiado pela esquerda certa época, hoje é visto como quase porta-voz do governo Lula. Glenn Greenwald, o sortudo que ganhou de presente o material explosivo das conversas de boteco dos operadores da Lava Jato e virou herói da esquerda, hoje divulga segredos de Moraes, do tipo usar o TSE para obter informações sobre seus contratados privados, e é visto como um terrível direitista, inimigo do campo “progressista”. No país onde tudo terminava em pizza, agora é necessário que tudo acabe empatado. Moro e Moraes são o mínimo denominador comum do jeitinho brasileiro.
O cavalinho da extrema direita parece que vai voltar para casa molhado e sem arreios. O cozinho não tem a mesma consistência. Apesar da fervura alta por alguns dias, a tendência é de vapor barato. Se Moro fez tabelinha com Deltan Dallagnol, Moraes fez com ele mesmo, o que na hermenêutica das processualidades jurídicas barrocas não leva a uma mesma dosagem de pena. Pecado capital e pecado venial? Quem decide é o povo. Ou seja, o receptor das narrativas. Convencimento e consequência. Eis a verdade em seu estado puro de relativismo absoluto. Ganha quem convence.
A justificativa de Moro era o combate à corrupção. A razão máxima de Alexandre de Moraes, o enfrentamento a uma tentativa de golpe de Estado. Equivalentes? Falsa simetria? Cada parte escolhe o prato mais ao gosto do seu paladar. Alguém pode, como especialista em gastronomia política e jurídica, dizer quem temperou melhor? O jurista Ives Gandra Martins, que embalou o impeachment de Dilma Rousseff, saltou fora de um pedido de impedimento de Moraes. Outro jurista midiático, Wálter Maierovitch, tem botado lenha no forno do assado do “xerife” das fake news no STF. A mídia começou torrando Moraes e entrou em banho-maria. A FSP cozinha só.
Veredicto: Moraes vai seguir em frente, mas seus poderes “morianos” vão ser lentamente evaporados, até que volte a desaparecer sob a toga.
*Escritor. Jornalista. Prof. Universitário.
Fonte: https://www.matinaljornalismo.com.br/matinal/colunistas-matinal/juremir-machado/moraes-e-moro-falsa-simetria/
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