Juan Masiá*
Segundo ele,
viver sem relação sexual
pode ter sentido,
mas viver
sem amar
desumaniza.
O celibato do padre origina abusos? Casamento e ministério são compatíveis? Renunciar ao sexo é inumano? Perguntas desafiantes pedem respostas audazes. Arrisquemo-nos a moldar em aforismos esse tema delicado.
1. Celibato não se opõe a casamento. Ambos contrastam com solteirices ou emparelhamentos insignificantes. A opção religiosa célibe pode ser minoritária; nem por isso elitista, nem melhor do que o casamento, nem monopoliza a dedicação apostólica ou o seguimento radical de Jesus.
2. Sexualidade é mais do que genitalidade, e amor é mais do que sexualidade. A espécie humana, ao amar, se diferencia por escolher na encruzilhada: ajudar-se a crescer pessoalmente ou a se destruir mutuamente.
3. Precisamos redescobrir a ternura, além da permissividade e do moralismo. Um beijo amoroso pode fundir duas pessoas mais intimamente do que um coito sem ternura. A psicologia social critica a obsessão an-orgasmo-fóbica, isto é, o medo a não se alcançar o orgasmo utópico prometido pela literatura excitante.
4. O assédio sexual do clero é abuso de poder e injustiça, não mero descumprimento de voto ou lastro de formação de seminário: crises de puberdade reprimidas explodem com atraso na forma de abusos e desvios na integração sexual. Reconhecidas sem se ocultar, será preciso cortá-las e repará-las.
5. Em vez de ética sexual proibitiva, uma ética construtiva das relações, centrada no respeito e na ajuda ao crescimento mútuo, pode valer para os casais heterossexuais ou homossexuais; para relações interpessoais em comunidades célibes; ou para relações de amizade entre pessoas com diversas opções de vida.
6. Compatível a vida em casal com o ministério, a ordenação poderia ser conferida a pessoas casadas, solteiras ou viúvas de ambos os sexos, com aptidão para animar, servir e unir as comunidades. A orientação sexual também não seria obstáculo para o celibato opcional. Homossexual, heterossexual ou assexual, o decisivo é a aptidão da pessoa.
7. Vários desenlaces são possíveis, se uma paixão incidir na opção celibatária: a) mudança de rumo de vida; b) repressão, mas com semeadura de expectativas daninhas; c) funambulismo por causa da corda bamba da vida dupla; c) na defensiva, a pessoa se incapacita para amar e, portanto, para o ministério; e) re-escolher a opção, com gratidão e dor, assumindo os limites e prosseguindo na aprendizagem de amar mais e melhor.
O celibato não nega o amor, mas acarreta três renúncias:
à exclusividade de uma relação íntima;
ao exercício da sexualidade;
e à procriação e à formação de uma família.
Não é fácil, sem repressões nem ambigüidades, integrá-las com a aprendizagem do amor.
Viver sem relação sexual pode ter sentido, mas viver sem amar desumaniza.
*Jesuíta e professor de Bioética na Universidade São Tomás de Osaka (Japão), em artigo para o jornal El País, 31-05-2009, analisa a questão de celibato e o sacerdócio. A tradução é de Moisés Sbardelotto. IHU/Unisinos, 02/06/2009
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