O islã possui uma nobre tradição de tolerância. Nós a vemos na história da Andaluzia e de Córdoba durante a Inquisição. Eu a vi em primeira mão como criança, na Indonésia, onde cristãos devotos praticavam sua religião livremente num país de avassaladora maioria muçulmana. É esse o espírito de que precisamos hoje. As pessoas em todos os países devem ser livres para escolher e viver sua fé baseadas na persuasão de suas mentes, corações e almas. Essa tolerância é essencial para que a religião floresça, mas vem sendo contestada de muitas maneiras diferentes.
Existe entre alguns muçulmanos uma tendência perturbadora a medir sua própria fé pela rejeição da fé de outro. A riqueza da diversidade religiosa precisa ser defendida, quer seja para os maronitas no Líbano ou para os coptas no Egito. E é preciso que sejam fechadas também as divisões entre muçulmanos, já que as divisões entre sunitas e xiitas já levaram a violência trágica, particularmente no Iraque.
A liberdade de religião é fundamental para a capacidade de convivência dos povos. Precisamos sempre examinar as maneiras pelas quais a protegemos. Por exemplo, nos Estados Unidos as normas sobre as doações de caridade vêm dificultando o cumprimento pelos muçulmanos de sua obrigação religiosa. É por isso que estou engajado em trabalhar com muçulmanos americanos para assegurar que possam cumprir a zakat.
Do mesmo modo, é importante que os países ocidentais evitem impedir cidadãos muçulmanos de praticar a religião da maneira que lhes convém, por exemplo ditando que roupas uma mulher muçulmana deve trajar. Não podemos disfarçar a hostilidade em relação a qualquer religião por trás de um pretenso liberalismo.
De fato, a fé deve nos unir. É por isso que estamos forjando na América projetos de serviço que reúnam cristãos, muçulmanos e judeus. É por isso que saudamos esforços como o diálogo Interfés do rei saudita Abdullah e a liderança da Turquia na Aliança de Civilizações. Em todo o mundo, poderemos converter o diálogo em serviços Interfés, para que pontes entre povos possam levar a ações, quer sejam o combate à malária na África ou a prestação de assistência após um desastre natural."
(Excerto do Discurso de Obama no Cairo. Tradução de Clara Allain)
Folha de São Paulo on line, 05/06/2009.
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