Arita Damasceno Pettená*
Como um número a mais na multidão, seguimos o ritual de cada dia. E dependendo do espaço que ocupamos, no universo imenso de um mundo sempre em convulsão, vamos redefinindo o calendário, de acordo com as exigências do momento. Sobretudo quando se entra nos “enta” da vida e o tempo já não obriga a enfrentar horários rígidos de trabalho, ou de se ocupar, quase que por inteiro, com a educação dos filhos.Assim é a vida.
Assim somos nós. Se nos couber a graça de sermos cristãos — e acredito que todos nós o somos — há que se fazer primeiro a entrega de cada dia a esse Deus, que é a única verdade que fica. Depois, como alguém que se ama, há que se pensar em si mesmo, com todos os direitos que a existência nos reserva: de amar... de viver... e de sonhar...
Os jornais nos sobrecarregam, quase que diariamente, com notícias quase sempre voltadas para o crime. São os bárbaros assassinatos. É a corrupção campeando na “Casa”, paradoxalmente chamada do “Povo”. É a violência fazendo-se senhora das horas tenebrosas de nebulosas madrugadas, indiferente à lua que, cheia ou pela metade, tem sido o acalanto mais cantado em prosa e verso por poetas e seresteiros.
A imprensa já não mais se preocupa, como antigamente, em dar destaque ao mundo das letras. Deus é o grande aposentado. E o racional está sempre à frente das coisas que nos falam ao coração. Folheamos páginas e páginas e poucas são as matérias que nos trazem algo de substancial ao espírito, algo que venha ao nosso encontro, à vontade indômita de ser feliz, ainda que contrariando muitas vezes as leis formuladas pelo homem.
Trabalhos, muitos vezes áridos, técnicos demais para um povo que está entre os primeiros classificados no mundo, em matéria de analfabetismo, deixam de fora textos em crônica de rara beleza, poemas enfeixando o belo em cada verso, já que para os órgãos de comunicação o que vale é o anúncio que dá dinheiro, é o crime explorado até a última gota de sangue, são pernas correndo atrás da bola. É claro que há exceções.
A hora, mais que nunca, se faz necessária para fazer mudanças em nossos veículos de comunicação. Afinal há gosto para tudo. E o leitor merece respeito. O que nunca podemos esquecer é que, em qualquer vestibular — e isto já vem desde os tempos de nossos avós —, há que se estudar poesia. Camões, Castro Alves, Casimiro de Abreu, Cruz e Souza e tantos outros que o digam.
E a poesia? Onde está? Morreu de vez, nos matutinos que nos chegam pela madrugada. Nos suplementos literários de nossos jornais. Mais dorido, ainda, morreu nas escolas onde a criança aprende mais fácil a sua língua, ouvindo rimas que falam de amor e de saudade. E para atestar o quanto a poesia nos empolga, deixamos aqui registrado um poema de nossa autoria:
Deitada na areia,
um nome escrevi.
Uma onda travessa,
brincando comigo,
meu nome levou
pro fundo do mar.
E na praia deserta,
sem nome, sem nada,
às águas pedi,
com ódio da onda,
meu nome trouxessem
do fundo do mar.
E o mar respondeu
que meu nome enterrou
para não mais voltar.
Porque esse nome...
Porque esse nome...
meu Deus, eu não posso falar.
*Arita Damasceno Pettená é membro da Academia Campinense de Letras e da Academia Campineira de Letras e Artes
Correio Popular, 22/06/2009
Site:http://cpopular.cosmo.com.br/mostra_noticia.asp?noticia=1639592&area=2190&authent=84DC B31AEED992BC4E8B88D64BAA2E
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