domingo, 12 de setembro de 2010

Educação é um projeto de todos

FÁBIO COLLETTI BARBOSA*

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Educação financeira é tema importante que deve estar na agenda de governos,
nas escolas e na universidade

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VEJO O FUTURO do Brasil com otimismo, pois a educação, finalmente, está entrando na agenda de governos e de cidadãos. Como diz o educador colombiano Bernardo Toro, "a educação sozinha não faz mudanças, mas nenhuma grande mudança se faz sem a educação". A excelente notícia é o fato de o tema estar na agenda dos cidadãos, pois é a demanda da sociedade que fará com que as propostas políticas o tratem de forma prioritária.
Há também outra razão para celebrarmos o fato de a educação estar na agenda dos próprios cidadãos, pois assim nos conscientizamos de que a responsabilidade cabe a cada um de nós.
Educação não é apenas atribuição das escolas. Educação é responsabilidade também da família e da sociedade na formulação e na validação dos valores básicos dos nossos jovens e das nossas crianças. Não à toa, um ditado popular africano diz que "é preciso toda a aldeia para educar uma criança". É isso!
Educação é tema amplo, que pode ser visto sob vários aspectos. Mas, nesta coluna, vou explorar a chamada educação financeira.
Com o crescimento do país atingindo todas as classes sociais, tivemos um impressionante aumento na bancarização. Ao final de 2009, tínhamos mais de 81 milhões de contas-correntes ativas -aumento de 69% em comparação aos 48 milhões no início da década.
São várias as portas de entrada na economia formal, e muitos chegam pela via do crédito. Ter crédito é ter mais cidadania. Há vários estudos indicando que a educação é o fator "número um" na inclusão social. O seguinte, ainda que possa estar distante, seria o crédito. Com acesso ao crédito, as pessoas podem antecipar alguns dos seus sonhos, resolver problemas e planejar, aumentando assim seu leque de opções.
Outra questão relacionada à bancarização é a do acesso à poupança e ao investimento. Dentro da linha de raciocínio (na qual muito acredito) de que cada um deve assumir as suas responsabilidades, cabe a cada indivíduo se preparar para uma aposentadoria melhor.
A qualidade dessa fase da vida dependerá, dentre outros fatores, da qualidade das decisões financeiras tomadas agora. Em ambos os casos (crédito e investimento), é clara a relevância da educação financeira para que todos tenham acesso à informação, bem como o preparo para compreendê-la.
Vale notar que o acesso mais amplo ao sistema financeiro acontece não só no Brasil, mas também em outros países. Com ele, vêm crescentes responsabilidades.
Vários governos têm estratégia nacional de educação financeira, inclusive o brasileiro. O tema deve estar nas escolas e na universidade.
Os bancos, claro, passam também a ter maior responsabilidade por dar informações que sejam de fácil compreensão, e, nesse sentido, são várias as iniciativas já existentes, nos bancos e na própria Febraban, voltadas à transparência e à educação.
O objetivo da sociedade deve sempre ser o de educar, garantir a veracidade das informações e deixar que cada um exerça o seu livre-arbítrio. Educar, sim, mas sem jamais nos apoiarmos na tutela.
Por fim, vale o destaque de que o problema da educação financeira não se restringe aos novos entrantes no mercado, mas se estende aos mais experientes, às empresas e até às várias instâncias de governo.
Num brilhante artigo de julho de 2007, intitulado "Políticos são de Marte; Banqueiros, de Plutão", a jornalista inglesa Gillian Tett alertava sobre os riscos que se desenhavam por estar o Parlamento inglês tão distante daquilo que acontecia na City londrina, "geograficamente tão próxima, mas de compreensão tão distante". As consequências são agora conhecidas por todos.
Assim como toda a sociedade ganha quando se reforça a educação em geral, isso também é verdade no caso da educação financeira.
Clientes preparados para o uso adequado do sistema financeiro, bancos sólidos informando com clareza e transparência e a sociedade e os reguladores se estruturando para uma boa supervisão do sistema são a garantia de um futuro melhor para todos.
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* FÁBIO COLLETTI BARBOSA, 55, administrador de empresas, é presidente do Grupo Santander Brasil e da Febraban. Escreve mensalmente, aos domingos, neste espaço.
Fonte: Folha online, 12/09/2010 

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