sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O “fim da história” em Ciência e Tecnologia?

Nem as profecias de Fukuyama sobre o fim da história e
nem o atestado de óbito da Web representam o final definitivo
de tudo que se relaciona com elas

Fábio Gandour

FÁBIO GANDOUR, 57, é Cientista-Chefe da IBM Brasil

Há algum tempo não apareço por aqui. Mas agora, estou de volta. E neste período de ausência meio forçada foi possível perceber o quanto é difícil responder a pergunta sobre os caminhos futuros da Ciência e da sua filha mais velha, a Tecnologia. Principalmente quando surgem algumas profecias apocalípticas, anunciando o fim de alguns mundos!
Mas quem fala do fim da história, não pode se esquecer que a história também se repete. E para ilustrar este conceito, voltamos ao ano de 1989, quando a revista National Interest publicou um ensaio sobre Filosofia da História, escrito pelo intelectual nipo-americano Francis Fukuyama, intitulado “O fim da história”. Naquela época, o fim da história se referia principalmente ao fim da Guerra Fria e de um mundo bipolar, com capitalistas de um lado e comunistas do outro. Mais de vinte anos depois, muito se discute ainda sobre as teses do autor. Alguma coisa mudou, por exemplo, as designações preferenciais de uma quase bipolaridade, que agora são conhecidas como direita de um lado e esquerda do outro. Mas muita coisa continua igual. Igual ou bem parecido. Afinal, a história se repete. Se repete sim!
Vejam só: em 1989, Fukuyama publicou um artigo e em 1992, o artigo virou um livro, intitulado The End of History and the Last Man. Quase 20 anos depois desta história política, aparece um artigo em outra revista, a Wired, que em 2006 também vira um livro chamado “A cauda longa”. Sai Francis Fukuyana, entra Chris Anderson.
Mesmo que a história não chegue ao fim com o desaparecimento da Guerra Fria, todo o comércio vai se manter às custas de uma tendência de compra em torno de cada vez mais do mesmo. É a cauda longa colocada em prática. A “cauda longa” fez escola. Inspirou teses de MBAs, virou modelo de consultoria empresarial e sustentou o surgimento de alguns negócios e o desaparecimento de outros.
Mais um pequeno salto no tempo, agora de apenas 2 anos, e em 25 de agosto de 2008, a mesma Wired publica outro artigo muito influente no delineamento de tendências, o conhecido Free! Why $0.00 Is the Future of Business, também escrito pelo Chris Anderson e que pode ser resumido em uma frase: custo zero tem um forte apelo para vender produtos! Logo em 2009, este tema também virou um livro chamado Free: The Future of a Radical Price. Um detalhe imporante: o livro não foi vendido a preço zero!
Agora, um salto menor, de apenas um ano, e no meio de agosto, mais um artigo do mesmo Chris Anderson e do Michael Woff, publicado também na revista Wired, com o título “A Web está morta. Vida longa para a Internet”. Aí, correria total! Um monte de pessoas querendo saber o que virá a seguir e como se comportar diante de tamanha reviravolta tecnológica! Curioso notar que as preocupações que me chegaram foram mais ou menos igualmente distribuídas entre indagações profissionais e pessoais. Coisas do tipo “...e se a Web vai de fato morrer, o que acontecerá com o meu e-mail?”. E agora? O que faremos? Bem, faremos algumas coisas, todas elas bem tangíveis, bem reais.
Primeiro, vamos concluir que, de fato, é difícil responder a pergunta sobre os caminhos futuros da Ciência e da sua filha mais velha, a Tecnologia. A Ciência cria a Tecnologia, mas quem usa a última nem sempre entende a primeira. Segundo, vamos concordar que o gráfico que mostra a mudança no padrão de utilização da Web desde 1990 até os dias atuais está perfeito! Afinal, isto não é um exercício de futurologia, é uma análise estatística retrospectiva, baseada em séries históricas reais, coletadas pela CAIDA - Cooperative Association for Internet Data Analysis.


E observando a tendência de diminuição do uso da Web e aumento do uso de transmissão de vídeo, dá até para fazer uma daquelas profecias do passado e dizer que isto vai morrer e aquilo vai sobreviver.
Terceiro, vamos aprender que World Wide Web, ou simplesmente Web, é uma coisa. E a Internet é outra coisa. A Web é um modelo de utilização de uma tecnologia e a Internet é o resultado de uma criação científica, baseada em um conceito – ou protocolo – de comunicação entre máquinas. A “uma coisa” – a Web – é uso da tecnologia, e a “outra coisa” – a Internet – é Ciência aplicada. Quarto, vamos entender que nem as profecias de Fukuyama sobre o fim da história e nem o atestado de óbito da Web representam o final definitivo de tudo que se relaciona com elas. Comunismo e capitalismo viraram esquerda e direita e continuam aí. Web e Internet vão virar Facebooks, Twitters, MeToMax – acabei de inventar isto agora! – e também vão seguir adiante.
E por último, quinto ponto a ser considerado: eu não sei se devo ir para o lado da Ciência mais pura e mais técnica, transformada em artigo de leitura fácil, ou se vou para o lado da Tecnologia aplicada, analisando tópicos que aparecem na semana ou no mês, como este que divulgou a “morte da Web”.
Olha aí, vocês bem que poderiam me ajudar e declarar suas preferências! A área de comentários está aí bem pra isto. Desde já, obrigado!
Pra encerrar, uma profecia das mais fáceis de fazer e com grande chance de acontecer de fato: em breve, numa livraria perto de você, o livro “A Web está morta. Vida longa para a Internet”!
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Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/ 10/09/2010

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