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O mistério da consciência
Cientista social e economista abordará tema voltado à dualidade entre mente e cérebro Porto Alegre – Palestrante de segunda-feira do Fronteiras do Pensamento, Eduardo Giannetti é cientista social e um dos economistas mais respeitados do Brasil.
Professor e autor de diversos livros ensaísticos, entre eles O Valor do Amanhã, ele estará no palco do Salão de Atos da UFRGS, a partir das 19h30min, para falar do tema de seu primeiro romance, A Ilusão da Alma: A Dualidade entre Mente e Cérebro, ou, mais especificamente, a nossa consciência – seria ela controlada pela nossa mente ou pelo cérebro, à revelia de nossas próprias vontades?
– Trata-se do grande enigma da condição humana – define.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone de São Paulo, Giannetti explica essas teorias e aponta que os avanços científicos na área só vêm a comprovar o quanto o homem sabe pouco sobre sua própria condição.
Agência RBS: Seu livro é uma ficção que fala sobre a dualidade entre mente e cérebro. A conferência desta segunda-feira vai aprofundar esse tema?
Eduardo Giannetti: Sim. Vou falar sobre as duas correntes filosóficas que definem essa dualidade. A primeira, o mentalismo, está afinada com a nossa psicologia intuitiva, com as crenças espontâneas que nós temos sobre como se dá essa relação. Sua ideia básica é de que a mente governa nossos pensamentos e nossas ações. Já a segunda, que vem se tornando cada vez mais plausível à medida que avançam os estudos no campo da neurociência, é o fisicalismo. Segundo ele, é o cérebro que domina completamente as nossas ações e os nossos sentimentos e que, por isso, nossas sensações de identidade e liberdade provavelmente são enganosas. No livro, o meu protagonista começa a estudar o assunto após ter um tumor cerebral. Quer dizer, ele entra num tema que preferiria não ter entrado. É convencido a entrar pela lógica e pelas evidências empíricas.
Agência RBS: O avanço da ciência comprova que o fisicalismo está certo, e o mentalismo, errado?
Giannetti: Esse assunto foi debatido durante 2,5 mil anos por filósofos e teólogos sem que houvesse qualquer tipo de base experimental ou de evidência empírica. De 20 ou 30 anos para cá, com o avanço da neurociência e de áreas afins, é que começam a surgir os primeiros resultados práticos sobre esse assunto. À luz desses resultados, o fisicalismo – que era defendido na Grécia por Demócrito; no Iluminismo, por La Mettrie; no século 19, por Thomas Huxley; no século 20, por uma série de cientistas – vem ganhando muito terreno. Vai se firmando, ao que parece, como “a verdade” no que diz respeito à relação entre cérebro e mente.
Agência RBS: O que, em síntese, constitui essa verdade?
Giannetti: A conclusão básica que tiro do estudo desse assunto é que nós, humanos, podemos estar radicalmente enganados sobre o tipo de ser que acreditamos ser. Assim como vemos com clareza que o homem pré-científico estava enganado sobre a natureza externa – o relâmpago, o arco-íris, as estrelas –, pode ser que estejamos igualmente enganados sobre a nossa natureza interna. Nosso desconhecimento sobre o bicho homem, digamos assim, ainda é muito profundo. As descobertas recentes vêm demonstrando a extensão do provável equívoco geral sobre quem somos e sobre o que nos faz agir como agimos. Nosso grau de desconhecimento sobre nós mesmos é absurdo. É comparável ao que achávamos ser o universo antes da descoberta de que a Terra não é quadrada. Deveríamos ter mais humildade ao falar sobre nós mesmos.
Agência RBS: Por que, ao escrever sobre esse tema, o senhor escolheu fazer ficção, algo que nunca havia feito, e não um ensaio?
Giannetti: Acho o tema fascinante. Para mim, é a grande fronteira do mundo científico. É nesse campo que me parece residir o grande enigma da condição humana no mundo natural. A opção pelo romance é porque, mais do que considerar verdades e falsidades sobre essas teorias, eu estava interessado em mostrar o que acontece com alguém que por algum motivo passa a acreditar nessa hipótese espantosa que é o fisicalismo. Meu interesse acabou recaindo sobre a própria experiência de vida que advém da crença nessa teoria. Conheço muitas cientistas que se declararam fisicalistas mas que não se dão conta da enormidade das implicações que essa ideia carrega consigo caso seja trazida para o dia a dia de uma pessoa. Mais que especular sobre uma crença, quis mostrar as implicações dramáticas que ela demanda. Não que a mistura do ensaio com o romance seja algo novo, claro que não, mas até criei uma palavra para explicar esse, digamos, gênero literário: "transficção".
Agência RBS: Não lhe parece que, hoje, na literatura e também em outras linguagem, como o cinema, há um trânsito maior entre gêneros, sobretudo entre realidade e ficção?
Giannetti: Parece-me que chegamos a um ponto que a realidade não respeita mais demarcações como "ficção" e "não-ficação". Conceitos mais convencionais que criamos - como prosa e poesia, erudito e popular - estão cada vez mais obsoletos. O que há de novo na arte transcende esses conceitos. Autores que buscam novos caminhos estão claramente indo além dessas fronteiras. Meu sonho é escrever um livro que atravessasse todas essas convicções e se tornasse inclassificável.
Agência RBS - Que autores mais o interessam ultimamente?
Giannetti: Não são exatamente novos, mas, preparando-me para escrever A ilusão da Alma, nos últimos tempos me concentrei em autores que praticam essa "transficção" em obras específicas: Diderot, Dostoiévski, Rilke, Pessoa, Coetzee.
Agência RBS - No seu livro há a frase: "A curiosidade está para o conhecimento como a libido está para o sexo". Para que temas novos, além da dualidade entre cérebro e mente, ainda se inclinando a sua libido intelectual atualmente?
Giannetti: Tive muitas dificuldades ao trabalhar a linguagem ficcional. Em grande parte por isso, no memento ando muito interessado em aprender as possibilidades da linguagem literária. Agora, como pesquisador, obviamente mantenho muitos assuntos no meu radar. A relação cérebro-mente, o que está por trás da nossa consciência, isso é, para mim, sem dúvida, o grande enigma da condição humana. É o que mais me mobiliza.
Agência RBS: O senhor também é economista e consultor econômico da campanha de Marina Silva (PV). O que o atraiu nas propostas da candidata?
Giannetti: Além de sempre ter admirado muito a figura pública dela, vejo nas suas propostas uma visão muito generosa de futuro para o Brasil. É fácil falar, mas hoje, quando falamos de economia, são raros os projetos que de fato põem capital humano e sustentabilidade num primeiro plano. Esse é outro tema que me interessa e para o qual eu dedico grande parte da minha atenção.
Agência RBS: O senhor concorda que, para além dos confrontos tradicionais entre esquerda e direita, há uma oposição essencial entre políticos que têm uma preocupação com o consumo consciente e sustentável e os que colocam essa discussão em segundo plano?
Giannetti: A humanidade está sem dúvida colocada diante de um impasse. O modelo de crescimento e de consumo vigente nos países altamente desenvolvidos não é transitivo. Não há como ele se universalizar, porque a natureza impõe limites. E eu acho que é uma temeridade enorme imaginar que o avanço tecnológico por si só vai nos tirar desse impasse. Temos de rever valores e a própria lógica de funcionamento do sistema econômico para criar uma economia na qual o bem-estar humano da geração atual não mine de maneira muito grave o bem-estar das gerações futuras. Esse é um grande impasse.
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Reportagem:Daniel Feix na ZHCultura.
Fonte: O Pioneiro e ZHCultura, 11/09/2010
A analise Institucional (AI), e observação participante(OP) são ferramentas de estudos sociais que podem ser utlizadas para estudos multidiciplinares envolvendo ações coletivas.
ResponderExcluirSe adicionarmos o grande conhecimento que existe hoje da Neurociencia, quando descreve as formas de interações no sistema nervoso em geral, e particularmente nas formas e principios de gerenciamento do Cérebro temos outras formas de aboradr garndes temas do conflito humano. Onde ha´ser humano há conflitos e a necessidade da AI e OP. Dai compreender as preocupações de Eduardo Giannetti na questão da dualidade mente e cérebro e de poder se olhar a economia, bem como utras áreas setorizadas da ciencia em geral sob esta ótica. poderemos avançar assim na busca de soluções dos conflitos criticos atuais, saude, Educação, valores humanos etc...