quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Para professores, ausência da família aumenta problemas em sala de aula

Docentes temem que pouca presença dos familiares transforme escola
em “depósito de crianças”

Uma certa confusão ronda a educação. O que é responsabilidade de quem parece que é uma grande dificuldade para pais e mestres. Os professores chamam atenção para a falta de participação de pais ou responsáveis na vida escolar das crianças e a transferência de responsabilidade da educação informal, aquela que acontece no ambiente doméstica e a partir do convívio familiar – para a escola.

Para o professor Tomé Ferraz, das disciplinas de física e matemática da rede pública estadual e municipal, a escola transformou-se em “depósito de crianças” e os professores seriam “babysitters” (babás) de luxo.

As crianças da geração conhecida como “Y”, parece que já nascem “conectadas” na informática e é difícil convencê-las a prestar atenção à aula ou valorizar a educação propiciada pela escola. Parte das aulas é perdida em pedidos de atenção à aula ou para desligar o “Ipod”, descreve o docente. “Eles não têm só celular, eles têm uma verdadeira tevê e levam para a sala de aula”, condena.

Lidar com essa nova face da infância e da adolescência é cada vez mais difícil sem a colaboração das famílias, indica. “A família participa pouco da vida da criança, sobra tudo para a escola”, reflete Tomé.

“Realmente não entendo como os pais, por mais simples que sejam, não tenham consciência de que é preciso valorizar a lição de casa, dar um abraço, acompanhar pelo menos um pouco o filho”, indigna-se Jaime*, da área de Geografia.

Rosana Almeida, professora de sociologia, conta que adora dar aula, mas não pode ser responsável pela educação familiar. “Eu vou ensinar a pensar, sou uma professora à antiga, comer com garfo e faca é responsabilidade de pai e mãe”, declara.

Segundo Cristina*, professora de biologia, a família ou a ausência dela “pesa muito”. “Na cabeça dos pais, parece que agora a escola é obrigada a dar toda a educação”, adverte. “Eu vejo o aluno um hora por dia, por mais vontade que eu tenha, há 35 precisando de atenção, que eu não posso abandonar”, alerta.
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* Os nomes de alguns entrevistados foram alterados a pedido dos professores
Reportagem de Rede Brasil Atual
Fonte: Revista Carta Capital online, 31/08/2010

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