quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Sala de Desembrulho no Shopping

Milton Nogueira*

Aahhaa! Agora que você acabou de comprar um secador de cabelo, o que fazer com a embalagem? O secador vem embrulhado num plástico, dentro de uma caixa de isopor, dentro de outro plástico, dentro de uma caixa de papelão; por fora de tudo, uma película de celofane. A loja entrega-lhe a mercadoria numa enorme sacola de papel. Em casa, você terá de desfazer-se de tudo isso.

Um pacote de cereal matinal vem com um papel-manteiga, para manter o produto crocante; tudo dentro de uma caixa de papelão impressa em baixo-relevo em quatro cores, com qualidade melhor que a de livros de medicina. Tudo para durar dois dias em casa. Outro dia comprei colírio num frasco de 2,5 ml, menor que uma azeitona, numa caixa de papel maior que um celular antigo. A drogaria meteu tudo numa sacola plastica maior que um caderno.

O mundo não precisa de tanta embalagem. Chega de tanto embrulho!

Por que não montar em cada shopping center uma sala de desembrulho, na qual você deixaria toda a embalagem e levaria para casa apenas o produto? Ao final das compras voce iria à sala para se livrar das embalagens desnecessarias. Fácil, econômico e ambientalmente correto.

As embalagens, com suas sacolas, caixas, garrafas, frascos e bisnagas, causam grande poluição ambiental em ruas, lixões, lotes vagos, parques, estacionamentos e praças. Jogadas fora, vão parar nos lugares mais lindos da cidade, como praças, rios ou lagos. Queimadas, elas põem no ar fumaça e mau cheiro. Algumas cidades organizam coleta coletiva, mas, no fim, as embalagens irão transformar-se novamente em mais plástico ou papel de segunda. Isopor não tem solução fácil.

Se os shoppings adotassem a ideia de ter uma sala de desembrulho, as fábricas logo veriam que não precisam enfiar o produto em cinco embalagens, só para vê-las jogadas fora no próprio local da compra. Talvez os fornecedores possam redesenhar e simplificar as embalagens de modo a diminuir custos e desperdícios. Isso feito, eletrodomésticos, roupas, lápiz, sapatos e bugigangas sairiam da loja sem o embrulho ou apenas com o mínimo necessário para carregar.

Bocage, o satírico português, perguntava: sabe qual a pior compra que alguém possa fazer? Resposta: um chapéu, pois ou você leva na cabeca, ou vai no embrulho ou fica na mao. Será que os gerentes de indústria ou comércio ainda não desconfiaram de que muitas pessoas têm consciência de que são embrulhadas pelos seus marqueteiros com tanto embrulho para a infelicidade geral do planeta?

Caro leitor, pergunte ao gerente do shopping o que ele acha da ideia.
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*Milton Nogueira é engenheiro e ex-funcionário da ONU em Viena.
Fonte: Revista Carta Capital online, 30/08/2010

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