quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Unilever quer usar alga no lugar de óleo de palma


Diante da dificuldade enfrentada pelas fabricantes de alimentos e produtos de higiene para obter o crucial ingrediente óleo de palma, a Unilever aposta agora numa alternativa simples mas que promete: as algas.
A empresa anglo-holandesa, que usa óleo de palma para fabricar o sabonete Dove, o hidratante Vaseline e o sorvete Magnum, deve anunciar hoje um investimento de milhões de dólares na Solazyme Inc., uma empresa de South San Francisco, Califórnia, que produz óleo de alga, um líquido com potencial para substituir o óleo de palma em alimentos, sabonetes e loções e também servir de biocombustível para aviões.
O investimento da Unilever ocorre num momento em que grandes fabricantes de alimentos enfrentam pressão de ecologistas para coibir o uso do óleo de palma, cuja colheita contribuiu para o desflorestamento da Indonésia e da Malásia e consequente destruição de áreas naturais onde vivem orangotangos.
O uso do óleo de alga em loções ou alimentos pode ajudar as empresas a fortalecer uma imagem ecológica e reduzir sua exposição ao volátil mercado de commodities como óleos de palma, soja e amêndoas.
Mesmo assim, o óleo de alga não deve substituir no curto prazo os óleos obtidos naturalmente. A principal dúvida é se o óleo de alga pode ser produzido em quantidade suficiente e a um custo competitivo em relação aos óleos naturais. E os produtos de óleo de alga ainda precisam passar por várias rodadas de testes com humanos antes de as empresas poderem colocar produtos derivados dele nas prateleiras.
A Unilever passou meses realizando testes bem-sucedidos com o óleo de alga da Solazyme em sabonetes e loções, mas afirma que ainda levará entre três e sete anos para começar a usar o óleo como ingrediente, enquanto desenvolve a cadeia de suprimento e realiza mais testes. Mas a gigante dos alimentos e produtos de higiene e limpeza está otimista com as chances de a Solazyme se tornar uma fornecedora, produzindo o óleo na escala adequada e a um custo apropriado. As empresas não quiseram dar detalhes sobre o valor do investimento da Unilever, parte de uma rodada de financiamento de US$ 60 milhões obtida de várias fontes.
"Não é só uma aplicação de nicho", diz Phil Giesler, diretor de inovação da divisão da Unilever que investe em novas tecnologias. "É algo que acreditamos ter um potencial tremendo."
A Solazyme é uma entre várias empresas de biotecnologia que têm usado algas para produzir óleos. Fundada em 2003, a empresa transforma material vegetal barato e facilmente disponível, como capim, bagaço de cana ou palha de milho, colocando-o em tanques gigantescos para o consumo por organismos unicelulares, ou microalgas, que produzem o óleo naturalmente. Outras empresas do ramo usam fotossíntese para produzir o óleo.
Uma das metas do investimento da Unilever na Solazyme é evitar incidentes como o ocorrido em 2008, quando ativistas fantasiados de orangotango escalaram a sede da Unilever em Londres, na margem do Rio Tâmisa, para chamar atenção para a destruição das florestas tropicais. A Nestlé SA, que usa o óleo de palma em seus chocolates Kit Kat, enfrentou protestos parecidos.
A Nestlé anunciou este ano uma política de "desflorestamento zero", que estabelece regras para garantir que seus produtos não destruam florestas. A Nestlé não quis comentar se está testando óleo de alga.
Maior compradora mundial de óleo de palma, a Unilever responde por 3% a 4% do mercado, segundo a própria empresa. A Unilever e a Nestlé prometeram obter todo o óleo de palma delas de fontes sustentáveis certificadas até 2015.
Paul Polman, que se tornou diretor-presidente no início do ano passado, já anunciou algumas iniciativas ecológicas e pretende dobrar o faturamento ao mesmo tempo em que diminui o impacto ambiental da Unilever. Para isso, pretende usar novas tecnologias em áreas como embalagem e refrigeração. O investimento na Solazyme é prova de que o óleo de alga - aprovado recentemente na União Europeia para uso alimentício - também pode ajudar a conquistar essa meta.
A importância do óleo de algas para os alimentos e produtos de higiene era ofuscada pelo potencial uso como combustível. A petrolífera Chevron Corp., por exemplo, investiu na Solazyme.
"Já fizemos todo tipo de alimento", diz o diretor-presidente da Solazyme, Jonathan Wolfson. "Usamos o óleo para fritar. Fizemos maionese, sorvete. E deu certo, o gosto é bom, funciona."
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Reportagem por Paul Sonne - The Wall Street Journal, de Londres Fonte: Valor Econômico impresso online, The Wall Street Journal - 08/09/2010

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