NEM COM O VENTO CONTRA
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Apesar do péssimo cenário externo,
Delfim Netto está otimista
com os rumos do Brasil
Otimista em relação ao Brasil, apreensivo com o cenário internacional, Delfim Netto fala das perspectivas da nossa economia sob Dilma Rousseff.
CARTA CAPITAL: Qual seria sua principal recomendação à presidente?
Delfim Netto: Até agora estou muito satisfeito com o que a Dilma está fazendo. Ela tem dado uma demonstração clara de que vai ser, na minha opinião, uma excelente presidenta. Tem noção clara das necessidades do Brasil. E dos nossos limites. A formação do governo foi muito esperta. Ela tranquiliza a área economia e a Defesa. E o resto vai compondo e arrumando. Acho que ela deu uma demonstração clara que vai enfrentar um grande problema brasileiro, a ineficiência da máquina pública. Não vai fazer nenhuma maluquice fiscal – não é preciso inclusive – , não vai fazer choque fiscal. O choque, sabemos, morre no papel. Logo depois se dissolve. O (Guido) Mantega foi um bom ministro. É um sujeito prático e organizou as coisas corretamente. Foi excelente a escolha do (Alexandre) Tombini para o Banco Central. A indicação de Míriam Belchior para o Planejamento é muito correta ela continuará o trabalho de Paulo Bernardo, que foi um senhor ministro. Há dois fatos pouco visíveis a permitir uma melhora dramática na gestão. Primeiro , o governo está construindo um instrumento de apuração do déficit nominal por unidade de governo. Será um avanço espetacular. Segundo, a Dilma convidou o (Jorge) Gerdau para auxiliar na melhora da gestão do setor público. O Gerdau traz com ele a grande experiência da Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais, de muito boa qualidade.
(...)
CC: Mas quanto a esse déficit crescente nas contas externas e o câmbio valorizado?
DN: Isso não vai continuar. Ao ser indicada, a Miriam Belchior disse quatro palavras mágicas: fazer mais com menos. Ou seja, há o compromisso de aumentar a produtividade. E parece haver também o objetivo de buscar uma taxa de juros real de 2% a 3%, parecida com a do resto do mundo. O Guido deu a garantia de que vai pôr em prática uma política fiscal musculosa para permitir ao Banco Central adotar uma política um pouco mais corajosa. Precisamos de um pouco de coragem para enfrentar essa massa de falso conhecimento que o setor financeiro divulga. Segundo essa visão do mercado, o Brasil é tão teratológico que, com a queda da taxa de juros real, ele desaparece. Mas acho que as coisas estão se estabelecendo com mais clareza.
CC: Temos visto manifestações, principalmente em São Paulo, a favor de uma cabeça do setor privado no BC. O que configura uma grave insatisfação com a composição atual do Banco Central. Isso tem a ver com as convicções dos cientistas, como o senhor chama, não?
DN: Há muito tempo defendo um medida importante: estatização do Banco Central. A ideia de que quem está no setor privado tem conhecimento muito maior do que quem os controla é falsa. Os funcionários que estão lá são de alta qualidade, tão alta que logo que deixam o governo o sistema financeiro privado ai capturá-los, cooptá-los.
"O capitalismo,
a economia de mercado,
é muito eficiente.
Não há dúvida nenhuma nem
foi descoberto por ninguém.
O homem encontrou na história,
há quase 300 anos.
É compatível com a liberdade de iniciativa,
mas é altamente produtor
de desigualdade."
CC: É um típico caso em que a urna disse uma coisa e os mercados querem outra.
DN: O presidente Lula, na sua intuição, disse algo certeiro: “ O que vocês queriam? Que eu convidasse quem perdeu a eleição para vir para o governo>” É um inconformismo, no fundo um certo ranço autoritário por trás dessas manifestações. Em resumo: “Somos os portadores da virtude, do conhecimento e da ciência e da salvação, e esse povo burro não nos elegeu”.
CC: Por falar em virtude, a história do Brasil é de muita fortuna e pouca virtude no geral. O senhor vê mudanças?
DN: Estamos num caminho iniciado no passado, com a Constituição de 1988. A despeito de tudo o que se fala da Constituição, ela assegurou a preferência da população brasileira por uma sociedade democrática, republicana e que caminha para a justiça. Ou seja, aumentar cada vez mais a igualdade de oportunidade. O capitalismo, a economia de mercado, é muito eficiente. Não há dúvida nenhuma nem foi descoberto por ninguém. O homem encontrou na história, há quase 300 anos. É compatível com a liberdade de iniciativa, mas é altamente produtor de desigualdade. O homem não se conforta quando a desigualdade é muita. Então esse é o papel do Estado, empurrar o sistema na direção de desigualdade de oportunidades, civilizar o capitalismo.
(...)
CC: Keynes, por exemplo, escrevia com objetivos práticos. Mas a clássica economia dos anos 1970 para cá não se transformou em uma máquina ideológica para justificar certas práticas?
DN: Keynes era muito mais que um economista. Era um gênio. O problema é que um gênio hoje, o grande gênio da teoria econômica atual diz o seguinte: “O desemprego é ataque de vagabundagem dos trabalhadores”. E Keynes dizia: “Não, o desemprego é uma consequência do desarranjo de funcionamento do sistema”. Essa é a grande diferença.
(...)
CC: Você não tem ponto de demanda efetiva. Ou seja, são as duas variáveis – consumo e investimento – que determinam a renda.
DN: São mesmo. O consumo é mais importante e o investimento depende daquele espírito animal que produz essas flutuações conhecidas. Na verdade, o que existe hoje nos Estados Unidos simplesmente é a ideia de que Obama, com toda a farolagem dele, com toda aquela apresentação, aqueles aspectos teatrais, escolhei economistas que trabalharam para salvara os bancos e pôr na rua o trabalhador. É isso que o norte-americano pensa. E tem de Obama a pior imagem. Acho que o programa de Saúde que ele propôs era formidável, um negócio civilizador. Mas os EUA recusaram. Ele cooptou as aspirações americanas, os Estados Unidos estavam imaginando o seguinte: “Esse vai ser um líder extraordinário que vai nos levar para frente”. De repente, ele usou todo aquele patrimônio para servir os bancos.
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Fonte:Entrevista completa na Carta Capital impressa, Ed.627, 22 de dezembro de 2010, pg.44/49.
No momento de empreender um negócio, ninguém gosta que lhe expliquem como reagir quando seu sócio, que dois meses antes estava fascinado por aquela ideia, lhe diz, de repente, que não vê as coisas claramente, deixando-o sozinho diante do perigo. Tampouco gostam que digam que sua grande ideia não é tão importante assim, ou que sua vontade de empreender é, na verdade, uma reação ao repentino e universal desejo de dar uma pancada no pescoço de seu chefe, bem ali onde terminam suas costas, ou que não tem coragem suficiente para ser um empreendedor.
ResponderExcluirhttp://olivronegrodoempreendedor.blogspot.com/
Os negócios não costumam fracassar por falta de competência técnica de quem os empreende, mas devido a motivos muito mais simples: problemas pessoais, desavenças com os sócios, falta de bom-senso, excesso de expectativas, medos e/ou erros insignificantes que, com o tempo, se transformam em verdadeiros problemas que acabam inviabilizando o negócio.
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um abraço amigo e uma ótima leitura