THAÍS NICOLETI DE CAMARGO*
REDAÇÃO
Fazer associações entre ideias é uma ótima estratégia
para construir um raciocínio
para construir um raciocínio
UMA BOA REDAÇÃO de vestibular deve, em primeiro lugar, atender àquilo que estiver sendo proposto pela banca examinadora, ou seja, deve respeitar o tema e a estrutura textual previstos.
Não há fórmulas para escrever, tanto que redações bem diferentes entre si obtêm as melhores classificações nos exames. Há, porém, uma variedade de meios eficientes de realizar um bom texto.
No caso específico da Fuvest, geralmente a proposta de redação motiva uma reflexão de natureza filosófica, o que, para muitos, pode parecer um bicho de sete cabeças.
Diante de temas abstratos, pode o candidato aventurar-se na elaboração de um texto igualmente abstrato ou pode tentar encontrar situações concretas que ilustrem a discussão. Esta última atitude é mais segura, pois o estudante minimiza, assim, o risco de perder a linha de raciocínio.
A reflexão puramente abstrata, isenta de analogias ou ilustrações, requer muita capacidade de organização lógica do raciocínio e embasamento prévio.
É evidente que o aluno já habituado a ler textos críticos tem mais facilidade para compreender esse tipo de tema e estabelecer relações com outras fontes do seu próprio repertório cultural. Fazer associações entre ideias é uma ótima estratégia para construir um raciocínio.
O primeiro passo, porém, é ler a proposta com atenção. Geralmente, a Fuvest apresenta textos de modalidades diferentes e/ou imagens que dialogam entre si. A primeira tarefa do candidato é compreender esse diálogo. Dado esse passo, é preciso mostrar a importância da discussão.
Por que se discute aquilo? Que implicações a discussão tem? A que outra discussão ela remete? É possível relacionar esse assunto com outro? As perguntas podem ajudar a organizar o pensamento e a encontrar um ponto de vista particular, que vai dirigir a linha argumentativa do texto.
A modalidade de texto que o candidato desenvolverá na prova da Fuvest é a dissertação, de resto o gênero textual mais adequado à avaliação da sua capacidade de compreender ideias e de tratar delas criticamente, como se espera de um vestibulando.
Essa estrutura requer um parágrafo introdutório em que se apresente a discussão ao leitor e em que se defina a linha argumentativa do texto. É a primeira oportunidade que tem o redator de revelar um pensamento original.
Abordar o tema de um ponto de vista próprio ajuda a cativar o leitor. Embora sejam características apreciáveis, originalidade e criatividade não podem ser exigidas num exame vestibular. Exigem-se, isto sim, coesão entre as partes do texto e coerência entre as ideias.
"O raciocínio não pode girar em círculos;
tem de progredir até o ponto de chegada,
que é a conclusão do texto."
Encontrar bons argumentos é fundamental para validar a ideia central do texto. Como fazer isso? Exemplificar o que se diz é muito útil numa discussão reflexiva, pois o exemplo torna concreto o que está no plano abstrato. O estabelecimento de relações de causa e efeito é importante não só para provar o que se diz mas também para criar progressão no texto.
O raciocínio não pode girar em círculos; tem de progredir até o ponto de chegada, que é a conclusão do texto.
Outro recurso muito útil, quando o tema permite, é o uso da refutação de argumentos contrários. É importante mostrar que se está ciente de que as próprias ideias constituem um ponto de vista, não a "verdade absoluta". A habilidade de apontar os pontos fracos das ideias contrárias às que se pretende defender é uma poderosa forma de argumentar.
Ponto importante: para redigir bem, é preciso, antes, ser um leitor atento, mas isso, por si só, não basta. É necessário treino constante. O pensamento não surge pronto e organizado. A tarefa de quem escreve é pôr ordem no caos.
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*THAÍS NICOLETI DE CAMARGO é consultora de língua portuguesa do Grupo Folha-UOL. thais.nicoleti@grupofolha.com.br
Fonte: Folha online, 23/12/2010Imagem da Internet
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