CLÁUDIA LAITANO*
Imagem da Internet
A edição especial de Natal da sisuda publicação britânica The Economist estampa na capa um saltitante Papai Noel e a manchete: “A alegria de envelhecer (ou por que a vida começa aos 46)”. Como eu completo 45 este ano, fiquei especialmente interessada. Se a vida começa aos 46, pensei, 2011 será o intervalo antes da segunda parte do filme (de longuíssima metragem, espero) – aquela hora em que todo mundo levanta para esticar as pernas, fazer xixi e checar as mensagens no celular. Já em 2012, tudo pode acontecer, inclusive o mundo acabar, o que seria uma enorme injustiça com todos nós que íamos começar a viver justamente ali, onde a profecia maia e um filme-catástrofe instalaram um cataclismo.
O tema da reportagem não é o envelhecimento em si ou uma nova técnica de cirurgia plástica que vai permitir que Susana Vieira interprete a própria neta na próxima novela das oito, mas um assunto que tem atraído cada vez mais pesquisadores de diferentes áreas: a felicidade. Todo mundo tentando entender o que, afinal, faz uma pessoa, uma família, uma empresa ou mesmo um país mais feliz do que o outro.
A felicidade, porém, não é uma ciência exata. Países ricos, por exemplo, tendem a ser mais felizes, mas a correlação entre dinheiro e felicidade nem sempre é linear – confirmando a tese de que fatores culturais desempenham um papel importante na percepção de felicidade. Europeus e norte-americanos estão próximos, e os latinos vêm logo em seguida, mas o melancólico Portugal se distancia do grupo. Asiáticos são bem menos felizes do que escandinavos (os mais contentes), e o sofrido Haiti anda perto da Bulgária, o lugar mais triste do mundo na relação entre renda e felicidade.
Aparentemente, a distribuição de felicidade ao longo das diferentes fases da vida às vezes também contraria o senso comum. A imagem de jovens de 30 anos cheios de energia e contentamento convivendo com pais ou chefes de 60 ou 70 amargurados com as rugas e os limites da idade é contestada pelas pesquisas apresentadas na reportagem. A felicidade, dizem esses estudos, desenha uma curva em U: somos muito felizes na juventude, mas os compromissos da vida adulta (amores, carreira, filhos...) vão roubando nossas energias até chegarmos ao “fundo do U”, que, em média, chega por volta dos 46 anos (olá, desgraça!). Dali em diante, o inesperado acontece: a vida fica melhor.
Pessoas mais velhas tendem a evitar bate-bocas, já aprenderam a controlar suas emoções e a aceitar melhor o que dá errado e são menos propensas a acessos de raiva repentinos. A capacidade, que só os humanos têm, de reconhecer a própria mortalidade e de monitorar o próprio tempo no horizonte faz com que os mais velhos se concentrem no presente e no que é essencial, deixando de sofrer por bobagem ou por aquilo que não tem conserto – e é mais ou menos até aí que vai o que a gente entende por felicidade.
Portanto, em 2011, faça como sua vó: desencane e trate de ser feliz.
___________________________* Jornalista. Escritora. Cronista ZH
Fonte: ZH online, 31/12.2010
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