segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Inteligência viral

RICARDO YOUNG*

Imagem da Internet
Desde o lançamento do iPhone, uma sensação generalizada vai se espalhando por todos os lugares. Alguma coisa contida nesse aparelhinho vai muito além de um celular.
Essa "coisa" contida neste objeto forçou os concorrentes da Apple a se mexerem e tentar novos sistemas operacionais, como o Android, do Google.
Nesta semana, a "febre" se repete com o lançamento do iPad. Pela primeira vez, a Apple lança um produto inovador acionando as principais redes varejistas do país, em um "frisson" poucas vezes visto por estas paragens. Pois em outras, até pernoites no sereno houve.
Então, o que acontece?
Acontece que esses aparelhos, cuja expressão mais acabada se dá nos "tablets", não são o que parecem ser. São, em essência, portais para o fenômeno da inteligência coletiva que se expressa através dos sites de busca, das redes sociais e dos bancos de dados universais. Até aqui, o leitor deve estar se perguntando: "Sim, mas o que há de novo?".

"Quando o consumidor compra
um desses dispositivos,
ele compra seu acesso a
um fluxo criativo sem precedentes."

O novo é que, acrescido ao acesso às redes, esses dispositivos catalisam exércitos remotos de programadores na criação de "applets" (mini-softwares de uso instantâneo e baixo preço) que potencializam o seu uso ao extraordinário, em uma torrente criativa sem fim.
Os aparelhos não valem pelo que parecem ser, e sim pela inteligência coletiva que condensam. Esses dispositivos tornam exponenciais a capacidade cognitiva e operativa de seus usuários. Como se fossem cérebros auxiliares, práticos, móveis e individualizados.
Quando o consumidor compra um desses dispositivos, ele compra seu acesso a um fluxo criativo sem precedentes. Qual um mago, passa a usufruir do melhor da inteligência condensada, o melhor do acesso à informação e a possibilidade de multiplicar ao infinito suas relações.
Em coluna publicada na semana passada, Alexandre Hohagen nos confronta com um fato assustador: com todas as mudanças que estamos experimentando, como admitir que a educação continue sendo a última fronteira do conhecimento onde a inovação ainda não chegou?
Eu ouso acrescentar à sua reflexão uma outra. Como podemos continuar a pensar em cidadania e política sem considerarmos o enorme empoderamento que toda uma geração de jovens terá uma vez inseridos em um fluxo arrebatador de inteligência, relações e informação?
Como pensar a relação indivíduo-Estado nesta era que se avizinha?
Para quem buscava a obviedade das respostas, o tsunami do WikiLeaks não deixa pedra sobre pedra.
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*Articulista da Folha
Fonte: Folha online, 06/12/2010

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