Conexão total e onipresente nãoé o melhor modelo
ARTISTA NORTE-AMERICANO AFIRMA QUE
AS TECNOLOGIAS SÃO CAPAZES
DE MOLDAR A FORMA COMO A CULTURA
SE DESENVOLVE NA SOCIEDADE
Lina Lopes/Divulgação
Mark Shepard, artista norte-americano, em palestra no Brasil
Pioneiro na visão de arquitetura urbana e mídias móveis, o artista Mark Shepard trouxe ao festival arte.mov, da Vivo, o Kit de Sobrevivência na Cidade Senciente, definidos por ele como "artefatos para sobrevivência numa cidade de um futuro próximo". A obra é feita de protótipos funcionais que traçam rotas, roupas íntimas-sensitivas que detectam leitores de etiquetas, caneca portátil para redes ocultas que compartilham mensagens e um guarda-chuva com LED infravermelho que bagunça algoritmos de computadores de sistemas de vigilância. Leia trechos da entrevista de Shepard à Folha.
Folha - Qual é, exatamente, a sua visão sobre a relação entre tecnologia e futuro?
Mark Shepard - Tecnologias do futuro são feitas no presente e refletem nossas esperanças e aspirações para o futuro, assim como fazem os nossos medos e inseguranças no presente. A relação entre tecnologia e cultura é marcada pela reciprocidade.
É um diálogo. Tecnologias sempre são artefatos sociais, e nós nascemos de uma cultura na qual elas proliferaram. Certas tecnologias, e como as usamos, têm a capacidade de moldar como a cultura se desenvolve.
Que evidências nos levam a uma situação de conexão digital total no futuro?
Todas as evidências hoje vão para um futuro em que a conectividade digital continuará a ser o produto de uma multiplicidade de interesses conflitantes e desejos. As pessoas que fazem os celulares não são as mesmas que operam redes de telecomunicações, que por sua vez não são as mesmas que fazem o software do aparelho.
Embora haja movimentos para consolidar esses vários papéis em uma organização [como Apple ou Google], uma solução "total" ainda está muito distante. Ainda existirão lugares que estarão "por fora" -nos quais a conectividade é irregular ou inconsistente, ou onde a interoperabilidade desses vários sistemas e redes produz desconexões ou falhas. Não vejo isso como necessariamente mau. A visão de uma conectividade onipresente -o "sempre lá, sempre em rede"- não deve ser o melhor modelo a ser atingido. Temos que ter cuidado com o que desejamos.
De que forma a cultura móvel mudou a vida humana?
A proliferação da mídia móvel, das comunicações e dos sistemas de informação pode ser entendida como uma extensão das maneiras de espaço social e geográfico reorganizado na nossa história. Essas mudanças tendem a ser incrementais, mas, em conjunto, têm um impacto dramático. A forma como coordenamos uma reunião em algum ponto da cidade usando mensagens SMS, por exemplo, mostra que não precisamos de estruturas rígidas de tempo no curso da vida diária, como costumávamos fazer.
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REPORTAGEM POR : MARINA LANG DE SÃO PAULO
Fonte: Folha online, 08/12/2010
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