‘Meu avião pegou fogo, pulei de paraquedas e fui capturado com o pulmão direito perfurado e um braço ferido no oeste da Alemanha’, conta o monge
O monge Francisco José Dietzler rompeu nove meses de namoro e
entrou no mosteiro trapista em 1951, seis anos após o término da 2.ª
Guerra Mundial, quando serviu na Europa como tripulante de um
bombardeiro B-17, a Fortaleza Voadora, entre março de 1943 e outubro de
1945. Era artilheiro e operador de rádio de uma unidade baseada na
Inglaterra que cumpriu 29 missões no Sudoeste da Alemanha, onde atacou
as cidades de Colônia, Nuremberg e Munique para destruir fábricas de
armas e de aviões. Na trigésima missão, foi atingido por caças
nazistas.
“Meu avião pegou fogo, eu pulei de paraquedas e fui capturado
com o pulmão direito perfurado e um braço ferido no oeste da Alemanha”,
recorda padre Francisco, agora com 91 anos (vai fazer 92 em 10 de maio),
no Paraná, onde vive desde 1977. “Sou agradecido aos alemães por não me
terem matado, como podiam ter feito, em vez de me levar para o hospital
e me curar”, disse o monge. Em quatro meses, ele passou por quatro
hospitais e em seguida foi internado em um campo de prisioneiros de
guerra, onde o tratamento era menos severo do que nos campos de
prisioneiros políticos. Foi libertado em 29 de abril de 1945, dez dias
antes da rendição da Alemanha.
Era sargento, mas preferiu não seguir a carreira militar. Ao
dar baixa na Força Aérea dos Estados Unidos, começou a refletir no
sentido da vida. “Falei com a namorada que minha vocação não era o
matrimônio, quando cheguei à conclusão de que devia ser sacerdote e
religioso”, lembra o monge. “A guerra mexe com a gente e desperta
vocações, porque é uma experiência em que se está diariamente perto da
morte”, reflete. Cada vez que decolava para bombardear a Alemanha, não
sabia se ia voltar.
Padre Francisco trabalha na cozinha, ajuda na hospedaria,
presta atendimento espiritual às visitas, dá aulas de história da Igreja
e de interpretação da Bíblia aos estudantes do mosteiro e, em meio a
tudo isso, medita e reza. “Estou aqui fazendo penitência e pedindo
perdão pelos bombardeios que mataram alemães inocentes”, confessa o
monge trapista, resumindo uma rotina de 64 anos de clausura.
Ao longo desse tempo, viajou algumas vezes aos Estados Unidos
para visitar o mosteiro que trocou pela América Latina e rever dois
irmãos ainda vivos - um de 95 anos e outro de 87 anos de idade.
Corresponde-se com a família, escreve e telefona para dar notícias.
Antes de chegar ao Mosteiro de Nossa Senhora do Mundo Novo, em 1982,
padre Francisco morou por cinco anos no vizinho município da Lapa, onde
ele e seus companheiros se instalaram para, depois, comprar as terras de
Campo do Tenente. Vinha da Argentina, a convite dos superiores, após
ter passado pelo Chile.
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Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,a-rotina-dos-monges-do-silencio-no-brasil,1663736 - 04/04/2015
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