ENTREVISTA MARTHA GABRIEL
"Mas várias pesquisas mostram que, quanto mais tecnologia temos à disposição, menos felizes ficamos. Ela não resolve o problema da sustentabilidade da alma."
Engenheira,
pós-graduada em marketing e design, mestre e PhD em artes. Escritora
finalista do Prêmio Jabuti de 2014 com o livro Educ@r – A (R)Evolução
Digital na Educação, consultora e palestrante reconhecida
internacionalmente. Martha Gabriel, que estará em Porto Alegre nesta
terça-feira para palestra na ADVB, é difícil de se definir em apenas um
substantivo. Ela encarna o reflexo vanguardista de um fenômeno das
gerações atuais: a formação multidisciplinar, incitada pela
familiaridade das crianças com as novas tecnologias. Um fenômeno com que
ainda estamos aprendendo a lidar.
Para Martha, paulista de 52 anos, tanto acesso a ferramentas inovadoras desde a infância tem um revés: o aluno, nativo digital, não encontra na escola tradicional um local capaz de instigá-lo, de despertar sua curiosidade tanto quanto a internet. O que não significa que o professor perde espaço – cabe, nessa mudança de cenário, preparar todos os agentes da educação à revolução digital em curso.
No mundo dos negócios, não é diferente. A tecnologia já mudou os padrões de consumo – de produtos, de informações –, criando novos hábitos a que muitas empresas, avalia Martha, ainda não conseguiram se adaptar. Os desafios antecipam tendências que vieram para ficar, como a valorização de tudo o que é móvel e social e a necessidade constante de atualização.
Nesta terça, Martha falará sobre estratégias e tendências de publicidade no primeiro dos cinco encontros ministrados por ela no programa de extensão em Marketing Digital da ADVB/RS, entre abril e novembro. Por telefone, ela conversou com Zero Hora.
A formação multidisciplinar que a senhora teve ainda é uma raridade. Hoje, esse conhecimento variado é algo desejável ou já é necessário?
Acho que essa formação multidisciplinar não é só desejável, mas inevitável. A criança, hoje, não quer saber se vai ser engenheiro, ou médicos na hora em que tiver interesse em alguma coisa, ela vai na internet e estuda aquela coisa especificamente, brincando. Depois, quando muda de interesse, vai para outra. Ela vai construindo caminhos conforme evolui, e vai juntando todas essas disciplinas para construir o que é interessante para ela. Foi o que eu fiz, embora em uma época em que isso não era valorizado. Acho que, daqui em diante, você não vai ter como segurar: um aluno no primeiro ano do Ensino Fundamental já fez esse caminho e, quando ele estiver na escola e quiserem que ele siga aquele caminho quadrado, ele não vai querer. Acho que é essencial essa formação, porque tudo muda muito rápido, e cada vez mais precisamos de pessoas que tenham pensamento criativo, inovador, que conecte as coisas para encontrar uma solução, afinal o que se aprendeu ontem não necessariamente vale para hoje.
O estudante vê um vídeo enquanto lê um texto, clica nos links mais variados e chega à escola para uma aula com conteúdo predeterminado, possivelmente o mesmo ministrado para outras turmas. É o aluno quem precisa se adaptar entre o digital e o presencial ou a escola tem que mudar?
A escola tem que se adaptar – e está tentando. Vivemos em uma era em que tudo tem de ser do jeito que queremos. Em todas as eras anteriores, as crianças tiveram que, em algum grau, se adaptar ao que o mundo tinha e, em outro grau, mudá-lo. E as escolas têm que se adaptar, sim, mas elas não conseguem mudar do dia para a noite. Então, também tem que ter, do outro lado (das crianças e dos pais), quem assuma uma parte dessa responsabilidade, e ajude no processo de transformação. Precisamos ter um contrato entre as partes, mas a responsabilidade maior é das escolas. Até porque, se esse modelo não mudar, não vai conseguir manter o aluno em sala de aula. E há um movimento bastante grande de capacitação de professores: eles mesmos estão atrás disso, porque percebem que a aula não está mais interessante.
Uma revolução no ensino brasileiro passa também pela adoção de meios digitais pelos professores?
Essa revolução já está em curso. No Brasil, está todo mundo perdido, no sentido de tentar encontrar o melhor caminho, e como a escola vai ser. A escola não pode ser mais o lugar único e exclusivo de detenção de conhecimento. Ela tem que abraçar tendências, incentivar os alunos e professores a usarem tecnologia. E o governo tem recursos para isso, só que a gestão tem de ser feita de forma adequada. Todo mundo fala de inclusão digital, mas a inclusão digital, sem educação digital, é o capeta. Você dá coisas para as pessoas fazerem, dá poder, e elas fazem errado. Não adianta dar tablet para todo professor, todo aluno, se eles não criarem processos pedagógicos e souberem como usar o tablet para o crescimento, para a abordagem de assuntos essenciais à formação. Não é só pensar nas coisas digitais como ferramentas, mas como modelo de transformação. Não é só fazer uma transposição para o tablet. A tecnologia muda minha forma de pensar. Muda o modo como a aula acontece.
Pais, professores, escolas, alunos: quem ainda resiste à tecnologia?
Os pais são muito importantes nesse processo, mas muitas vezes vejo eles – ou os avós – reclamando que os filhos passam o tempo todo no celular, que “não fazem outra coisa”. Eles dizem que o mundo está lá fora, e os jovens não participam desse mundo. Eu respondo: “Talvez seja você que não participa do mundo em que ele está”. Às vezes, os pais não entram nesse mundo, e isso provoca um distanciamento entre gerações. A criança, eventualmente, está estudando ali. Ela está fazendo algo muito bacana, não está dispersando. E o pai não entende, critica.
Com a oferta crescente de lições sobre tudo na internet, o professor perde espaço? Perde respeito?
Ele não perde espaço, mas muda de papel. Antes, o professor tinha espaço único de detentor do poder e da atenção. O que acontece agora: ele não tem mais esse espaço, porque a atenção está dividida entre vários lugares, em “n” ambientes da internet. Nenhum professor consegue deter todo o conhecimento do mundo: é impossível competir com a internet. E ninguém, nem entre os alunos, consegue conhecer todas as tecnologias. Os alunos têm mais fluência, lógico, mas não estão a par de tudo. Ninguém está. O que o professor tem de diferencial é que ele tem conhecimento e experiência muito maiores que qualquer aluno que começou a entrar em contato com determinados tópicos agora. O papel do professor é ajudar os alunos: eles adoram quando você ajuda eles a articularem a informação, quando chegam em um beco sem saída. No momento do “o que eu faço agora?”. O professor é, hoje, muito mais um tutor do que um detentor de conteúdo. Até recentemente, o professor ia lá e vomitava conteúdo. Só que hoje, na internet, a chance de achar uma aula melhor que a sua é grande. As melhores aulas do mundo estão gravadas. Agora, o aluno vê a melhor aula do mundo – uma de filosofia do Michael J. Sandel, em Harvard, por exemplo –, uma aula maravilhosa e gravada. Só que, quando for fazer reflexões sobre filosofia no dia a dia dele, ele precisa de um professor para ajudar. É nisso que o professor deve estar junto, não tanto mais no conteúdo. O professor vai ser adorado se te ajudar a fazer as reflexões e as conexões, mas vai ser odiado se tentar ficar falando a mesma coisa que o outro cara falou, só que pior.
A senhora pode falar mais sobre o conceito de cinco “megaondas” nos negócios?
Vivemos uma transformação do cenário digital em função da aceleração tecnológica, que você deve estar sentindo, todo mundo está sentindo. Identifico cinco ondas. Não falo de produtos, mas do que impacta os negócios e a nossa vida em geral. A primeira é mobile: a gente não vive mais sem mobile, de jeito nenhum. As pessoas estão cada vez mais dependentes da mobilidade e transferindo dados para os ambientes digitais. A segunda é data economy: temos cada vez mais dados produzidos no mundo, e quem sabe operar esses dados tem vantagem competitiva sobre quem não sabe. A terceira é tempo real, que muda nossa percepção e a nossa exigência com relação ao mundo. O tempo real no marketing, por exemplo, faz os consumidores ficarem mais exigentes. A quarta é o social. Ele não vai embora. Pode ser que a plataforma desapareça – o Facebook pode sumir, como aconteceu com o Orkut. Mas teremos plataformas sociais para sempre. A quinta é a sustentabilidade, uma tendência que, como o mobile, já vem há bastante tempo, mas tem crescido desde que começamos a perceber os prejuízos que causamos ao planeta. E há também a sustentabilidade da alma. Várias pesquisas mostram que o estresse é epidêmico, e há tanta gente com estresse que as pessoas são perturbadas de maneira geral. Isso não é sustentável. Posso citar o meu exemplo: tive um infarto há dois anos. Não percebi que eu estava trabalhando tanto. A gente começa a se desestruturar sem perceber, por conta desse ambiente que temos, e deveríamos voltar a prestar atenção nisso. Logo, teremos uma abundância de recursos para resolver a sustentabilidade do planeta, graças à tecnologia. Mas várias pesquisas mostram que, quanto mais tecnologia temos à disposição, menos felizes ficamos. Ela não resolve o problema da sustentabilidade da alma.
Apesar da volatilidade da tecnologia, dá para arriscar quais tendências vêm para se manter?
Produto, eu não sei. O Twitter lançou o Vine, depois o Instagram permitiu o upload de vídeos de 15 segundos, então o Twitter modificou o Vine... Enfim, produto vai e vem, muda a toda hora. Isso não importa tanto – a não ser para quem os desenvolve. Agora, para a gente, o que importa é ter na cabeça quais são as grandes ondas. O vídeo, associado à mobilidade, é uma tendência muito forte. E a tecnologia influencia muito. Com o 3G, a gente viabiliza produtos como Skype e Netflix, que seriam impossíveis sem 3G. Mas imagina com 5G, que é mil vezes mais rápido que o 4G, o que vai surgir? Não tem como prever. Os estrategistas têm que direcionar a visão para o que ainda vai ser, usando essas pecinhas, como o vídeo, mas sabendo que elas são descartáveis e será preciso trocá-las de acordo com o que acontecer.
Toda empresa tem que estar no smartphone, no tablet, no computador, em uma loja perto de casa?
As empresas só não estão em todos os lugares porque não têm verba para isso. Por maior que seja, toda empresa tem limitação de tempo e dinheiro. Por isso é importante você aprender o processo estratégico, e não dar chute para tudo que é lado. Pensando estrategicamente, é possível ver onde o público está, o que o influencia, que plataformas usa. Posso pensar no que quero e ver, dentro dos recursos que tenho, quais os melhores lugares para estar. Nem sempre a publicidade online é a melhor opção: às vezes é jornal, TV, revista. Isso vai depender das características do público, hoje bastante fragmentado. Mas, mesmo com muito o que investir, há lugares onde não se deve estar. Um exemplo: a febre das compras coletivas. Isso é muito associado à estratégia da promoção, e não é adequado a marcas de luxo. O que aconteceu: vários restaurantes de luxo, que já tinham clientes, acabaram usando a ferramenta errada e, assim, estragando um processo que já tinha, perdendo clientes fiéis. Em meio ao monte de plataformas que existem, é preciso descobrir quais são as adequadas para o seu negócio.
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guilherme.justino@zerohora.com.br
Reportagem por GUILHERME JUSTINOPara Martha, paulista de 52 anos, tanto acesso a ferramentas inovadoras desde a infância tem um revés: o aluno, nativo digital, não encontra na escola tradicional um local capaz de instigá-lo, de despertar sua curiosidade tanto quanto a internet. O que não significa que o professor perde espaço – cabe, nessa mudança de cenário, preparar todos os agentes da educação à revolução digital em curso.
No mundo dos negócios, não é diferente. A tecnologia já mudou os padrões de consumo – de produtos, de informações –, criando novos hábitos a que muitas empresas, avalia Martha, ainda não conseguiram se adaptar. Os desafios antecipam tendências que vieram para ficar, como a valorização de tudo o que é móvel e social e a necessidade constante de atualização.
Nesta terça, Martha falará sobre estratégias e tendências de publicidade no primeiro dos cinco encontros ministrados por ela no programa de extensão em Marketing Digital da ADVB/RS, entre abril e novembro. Por telefone, ela conversou com Zero Hora.
A formação multidisciplinar que a senhora teve ainda é uma raridade. Hoje, esse conhecimento variado é algo desejável ou já é necessário?
Acho que essa formação multidisciplinar não é só desejável, mas inevitável. A criança, hoje, não quer saber se vai ser engenheiro, ou médicos na hora em que tiver interesse em alguma coisa, ela vai na internet e estuda aquela coisa especificamente, brincando. Depois, quando muda de interesse, vai para outra. Ela vai construindo caminhos conforme evolui, e vai juntando todas essas disciplinas para construir o que é interessante para ela. Foi o que eu fiz, embora em uma época em que isso não era valorizado. Acho que, daqui em diante, você não vai ter como segurar: um aluno no primeiro ano do Ensino Fundamental já fez esse caminho e, quando ele estiver na escola e quiserem que ele siga aquele caminho quadrado, ele não vai querer. Acho que é essencial essa formação, porque tudo muda muito rápido, e cada vez mais precisamos de pessoas que tenham pensamento criativo, inovador, que conecte as coisas para encontrar uma solução, afinal o que se aprendeu ontem não necessariamente vale para hoje.
O estudante vê um vídeo enquanto lê um texto, clica nos links mais variados e chega à escola para uma aula com conteúdo predeterminado, possivelmente o mesmo ministrado para outras turmas. É o aluno quem precisa se adaptar entre o digital e o presencial ou a escola tem que mudar?
A escola tem que se adaptar – e está tentando. Vivemos em uma era em que tudo tem de ser do jeito que queremos. Em todas as eras anteriores, as crianças tiveram que, em algum grau, se adaptar ao que o mundo tinha e, em outro grau, mudá-lo. E as escolas têm que se adaptar, sim, mas elas não conseguem mudar do dia para a noite. Então, também tem que ter, do outro lado (das crianças e dos pais), quem assuma uma parte dessa responsabilidade, e ajude no processo de transformação. Precisamos ter um contrato entre as partes, mas a responsabilidade maior é das escolas. Até porque, se esse modelo não mudar, não vai conseguir manter o aluno em sala de aula. E há um movimento bastante grande de capacitação de professores: eles mesmos estão atrás disso, porque percebem que a aula não está mais interessante.
Uma revolução no ensino brasileiro passa também pela adoção de meios digitais pelos professores?
Essa revolução já está em curso. No Brasil, está todo mundo perdido, no sentido de tentar encontrar o melhor caminho, e como a escola vai ser. A escola não pode ser mais o lugar único e exclusivo de detenção de conhecimento. Ela tem que abraçar tendências, incentivar os alunos e professores a usarem tecnologia. E o governo tem recursos para isso, só que a gestão tem de ser feita de forma adequada. Todo mundo fala de inclusão digital, mas a inclusão digital, sem educação digital, é o capeta. Você dá coisas para as pessoas fazerem, dá poder, e elas fazem errado. Não adianta dar tablet para todo professor, todo aluno, se eles não criarem processos pedagógicos e souberem como usar o tablet para o crescimento, para a abordagem de assuntos essenciais à formação. Não é só pensar nas coisas digitais como ferramentas, mas como modelo de transformação. Não é só fazer uma transposição para o tablet. A tecnologia muda minha forma de pensar. Muda o modo como a aula acontece.
Pais, professores, escolas, alunos: quem ainda resiste à tecnologia?
Os pais são muito importantes nesse processo, mas muitas vezes vejo eles – ou os avós – reclamando que os filhos passam o tempo todo no celular, que “não fazem outra coisa”. Eles dizem que o mundo está lá fora, e os jovens não participam desse mundo. Eu respondo: “Talvez seja você que não participa do mundo em que ele está”. Às vezes, os pais não entram nesse mundo, e isso provoca um distanciamento entre gerações. A criança, eventualmente, está estudando ali. Ela está fazendo algo muito bacana, não está dispersando. E o pai não entende, critica.
Com a oferta crescente de lições sobre tudo na internet, o professor perde espaço? Perde respeito?
Ele não perde espaço, mas muda de papel. Antes, o professor tinha espaço único de detentor do poder e da atenção. O que acontece agora: ele não tem mais esse espaço, porque a atenção está dividida entre vários lugares, em “n” ambientes da internet. Nenhum professor consegue deter todo o conhecimento do mundo: é impossível competir com a internet. E ninguém, nem entre os alunos, consegue conhecer todas as tecnologias. Os alunos têm mais fluência, lógico, mas não estão a par de tudo. Ninguém está. O que o professor tem de diferencial é que ele tem conhecimento e experiência muito maiores que qualquer aluno que começou a entrar em contato com determinados tópicos agora. O papel do professor é ajudar os alunos: eles adoram quando você ajuda eles a articularem a informação, quando chegam em um beco sem saída. No momento do “o que eu faço agora?”. O professor é, hoje, muito mais um tutor do que um detentor de conteúdo. Até recentemente, o professor ia lá e vomitava conteúdo. Só que hoje, na internet, a chance de achar uma aula melhor que a sua é grande. As melhores aulas do mundo estão gravadas. Agora, o aluno vê a melhor aula do mundo – uma de filosofia do Michael J. Sandel, em Harvard, por exemplo –, uma aula maravilhosa e gravada. Só que, quando for fazer reflexões sobre filosofia no dia a dia dele, ele precisa de um professor para ajudar. É nisso que o professor deve estar junto, não tanto mais no conteúdo. O professor vai ser adorado se te ajudar a fazer as reflexões e as conexões, mas vai ser odiado se tentar ficar falando a mesma coisa que o outro cara falou, só que pior.
A senhora pode falar mais sobre o conceito de cinco “megaondas” nos negócios?
Vivemos uma transformação do cenário digital em função da aceleração tecnológica, que você deve estar sentindo, todo mundo está sentindo. Identifico cinco ondas. Não falo de produtos, mas do que impacta os negócios e a nossa vida em geral. A primeira é mobile: a gente não vive mais sem mobile, de jeito nenhum. As pessoas estão cada vez mais dependentes da mobilidade e transferindo dados para os ambientes digitais. A segunda é data economy: temos cada vez mais dados produzidos no mundo, e quem sabe operar esses dados tem vantagem competitiva sobre quem não sabe. A terceira é tempo real, que muda nossa percepção e a nossa exigência com relação ao mundo. O tempo real no marketing, por exemplo, faz os consumidores ficarem mais exigentes. A quarta é o social. Ele não vai embora. Pode ser que a plataforma desapareça – o Facebook pode sumir, como aconteceu com o Orkut. Mas teremos plataformas sociais para sempre. A quinta é a sustentabilidade, uma tendência que, como o mobile, já vem há bastante tempo, mas tem crescido desde que começamos a perceber os prejuízos que causamos ao planeta. E há também a sustentabilidade da alma. Várias pesquisas mostram que o estresse é epidêmico, e há tanta gente com estresse que as pessoas são perturbadas de maneira geral. Isso não é sustentável. Posso citar o meu exemplo: tive um infarto há dois anos. Não percebi que eu estava trabalhando tanto. A gente começa a se desestruturar sem perceber, por conta desse ambiente que temos, e deveríamos voltar a prestar atenção nisso. Logo, teremos uma abundância de recursos para resolver a sustentabilidade do planeta, graças à tecnologia. Mas várias pesquisas mostram que, quanto mais tecnologia temos à disposição, menos felizes ficamos. Ela não resolve o problema da sustentabilidade da alma.
Apesar da volatilidade da tecnologia, dá para arriscar quais tendências vêm para se manter?
Produto, eu não sei. O Twitter lançou o Vine, depois o Instagram permitiu o upload de vídeos de 15 segundos, então o Twitter modificou o Vine... Enfim, produto vai e vem, muda a toda hora. Isso não importa tanto – a não ser para quem os desenvolve. Agora, para a gente, o que importa é ter na cabeça quais são as grandes ondas. O vídeo, associado à mobilidade, é uma tendência muito forte. E a tecnologia influencia muito. Com o 3G, a gente viabiliza produtos como Skype e Netflix, que seriam impossíveis sem 3G. Mas imagina com 5G, que é mil vezes mais rápido que o 4G, o que vai surgir? Não tem como prever. Os estrategistas têm que direcionar a visão para o que ainda vai ser, usando essas pecinhas, como o vídeo, mas sabendo que elas são descartáveis e será preciso trocá-las de acordo com o que acontecer.
Toda empresa tem que estar no smartphone, no tablet, no computador, em uma loja perto de casa?
As empresas só não estão em todos os lugares porque não têm verba para isso. Por maior que seja, toda empresa tem limitação de tempo e dinheiro. Por isso é importante você aprender o processo estratégico, e não dar chute para tudo que é lado. Pensando estrategicamente, é possível ver onde o público está, o que o influencia, que plataformas usa. Posso pensar no que quero e ver, dentro dos recursos que tenho, quais os melhores lugares para estar. Nem sempre a publicidade online é a melhor opção: às vezes é jornal, TV, revista. Isso vai depender das características do público, hoje bastante fragmentado. Mas, mesmo com muito o que investir, há lugares onde não se deve estar. Um exemplo: a febre das compras coletivas. Isso é muito associado à estratégia da promoção, e não é adequado a marcas de luxo. O que aconteceu: vários restaurantes de luxo, que já tinham clientes, acabaram usando a ferramenta errada e, assim, estragando um processo que já tinha, perdendo clientes fiéis. Em meio ao monte de plataformas que existem, é preciso descobrir quais são as adequadas para o seu negócio.
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guilherme.justino@zerohora.com.br
Fonte: ZH online, 12/04/2015
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