Usar ou não usar emojis em mensagens, eis a questão – especialmente para os homens
Um espectro assombra nossos meios de comunicação: o emoji. Neste exato
momento, é muito provável que alguém esteja digitando a imagem de um
polegar em sinal de positivo para confirmar uma reunião ou enviando um
fantasminha camarada para dar um susto em algum amigo. Apesar da
popularidade, essas carinhas (e menininhas, e animaizinhos, e
comidinhas) são polêmicas: os mais tradicionalistas veem o declínio da
alfabetização refletido em seus olhinhos em formato de coração, enquanto
os guardiões do decoro lamentam a disseminação de personagens e
elementos cada vez mais explícitos.
Dada a semelhança com os adesivos que costumam enfeitar os cadernos das meninas – sem contar sua adoção praticamente unânime como língua franca entre pré-adolescentes e adolescentes nos quatro cantos do mundo –, muitos questionam o uso de emojis por homens adultos. Linguista da Universidade de Columbia, John McWhorter diz que alguns barbados os evitam porque, como ele mesmo diz, “as mulheres usam mais”; entretanto, afirma também que a tendência pode mudar.
Dada a semelhança com os adesivos que costumam enfeitar os cadernos das meninas – sem contar sua adoção praticamente unânime como língua franca entre pré-adolescentes e adolescentes nos quatro cantos do mundo –, muitos questionam o uso de emojis por homens adultos. Linguista da Universidade de Columbia, John McWhorter diz que alguns barbados os evitam porque, como ele mesmo diz, “as mulheres usam mais”; entretanto, afirma também que a tendência pode mudar.
– A mulher tende a usar uma linguagem mais expressiva e aberta, mas alguns hábitos femininos de linguagem conseguem conquistar o público masculino, que, aliás, se beneficiaria do uso mais frequente dos emojis – diz McWhorter, para quem o emoji é uma forma eloquente e humana de traduzir a palavra falada em texto, dando ao usuário, com seus símbolos engraçados, meios de ditar o tom da mensagem. – Deveria haver formas masculinas de usar os emojis.
Embora o próprio McWhorter, de 49 anos, admita não usar os símbolos por causa da idade, não deixa de ser um admirador:
– Não sou conhecido como a pessoa mais progressista desse mundo, mas, de certa forma, gosto deles. Sou um grande fã.
Outros especialistas (isto é, usuários de emojis) são menos explícitos.
– A linha é tênue. Usar emoji é como dançar – afirma Melissa Karlin, de 35 anos, gerente de contabilidade da Kenshoo, empresa de software localizada em Chicago.
Melissa observa que, para ela, alguns homens usam os ícones de maneira que muitas vezes são inexplicáveis, principalmente no contexto romântico – como a carinha piscando com a língua para fora, por exemplo.
– Nunca sei o que significa – confessa, acrescentando um conselho aos possíveis pretendentes: – Quer me conquistar? Use palavras. Sou superfã.
Mesmo assim, muitos homens lançam mão dos emojis quando as palavras lhes faltam ou não são suficientes. O tenista Roger Federer enfeita seus tuítes com eles; já Mike Scott, o ala de 2 metros de altura do time de basquete Atlanta Hawks, tatuou vários, inclusive o das dançarinas com orelhas de coelho. O rapper Drake pôs a internet em polvorosa, no ano passado, quando a foto de uma tatuagem do emoji de duas mãos em oração, no seu antebraço direito, surgiu no Instagram.
Certos homens adotaram a onda embora tentem mantê-la à distância. Gil Schwartz, executivo da CBS que escreve sob o pseudônimo de Stanley Bing, se define como “um usuário econômico de emojis irônicos”, principalmente o do porco e do cavalo. Entretanto não acredita que o fato de usá-los ponha em dúvida sua masculinidade.
– Uso porque são meio bobos, e mandar torpedo não deixa de ser uma bobagem. Você tem um momento Taylor Swift, tudo bem, mas se tiver total confiança no seu taco, isso não vai afetá-lo em nada – acredita Schwartz, que tem 63 anos.
Já Amina Akhtar, 37 anos, diretora editorial do site TheFashionSpot, não acredita muito nisso.
– Se estiver saindo com um cara e perceber que ele usa emojis, fico meio com o pé atrás. Já somos bem grandinhos para isso. Um cara de 40, 50 anos usando carinha, bonequinho, para mim é muito estranho – confessa.
Stephen Lynch, relações-públicas de 33 anos de San Francisco, afirma que os emoji, por si mesmos, não são nem bons, nem ruins. Para ele, o problema todo está no questionamento do uso por homens.
– Tem gente que pode ser asquerosa usando emoji ou não e tem quem tenha dificuldade para se comunicar, não importa que meios use. Essa história de “dever” cheira a mofo e indica uma visão unicamente heterossexual do mundo. Além do mais, por que não podemos retribuir? Por que não responder usando o mesmo meio que a pessoa que lhe enviou a mensagem?
Em outras palavras, se alguém lhe manda um emoji, por que não fazer o mesmo? Bruce Feirstein, roteirista e jornalista de Los Angeles, é da mesma opinião:
– Quando meu filho de 14 anos me manda o emoji de palma da mão, eu dou risada e respondo imediatamente. Mas aí é que está, é a minha conversa com um adolescente – ressalva, adicionando que sua correspondência de negócios, no entanto, tem um tom que não permite sorrisinhos nem o cara de bigode. – É tudo uma questão de contexto. Nunca troquei mensagens sérias com um adulto usando um emoji.
Aos 61 anos, Feirstein é meio que uma autoridade em relação ao que os homens devem ou não devem fazer, já que escreveu, em 1982, o best-seller Real Men Don’t Eat Quiche (Homens de Verdade Não Comem Quiche, nunca lançado no Brasil), um “guia de tudo o que é masculino”, satiriza ele.
– Quando escrevi o livro, as coisas eram muito mais simples do que hoje em dia. Não sei se, em 2015, definir um “homem de verdade” é relevante, porque a cultura mudou. Não sei se ainda dá para fazer essas afirmações abrangentes – admite ele.
Além disso, é muito provável que essas afirmações abrangentes não afetem as mudanças de linguagem na esfera digital.
– Para mim, é uma nova forma de comunicação. É uma questão natural de evolução. Está aí para ser usado. Não vou ficar elucubrando sobre isso – conclui Adrian Rodriguez, gerente de escritório de 26 anos de San Francisco.
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Reportagem por MATT HABER THE NEW YORK TIMES
Fonte: ZH online, acesso 27/04/2015
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