Literatura perde uruguaio Eduardo
Galeno e alemão Günter Grass -
O mundo da literatura
perdeu dois importantes nomes na manhã desta segunda-feira. Aos 74 anos, o
escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, morreu em Montevidéu, por
complicações decorrentes de um câncer de pulmão, diagnosticado em 2007. Ele
estava internado no Centro de Assistência do Sindicato Médico do Uruguai desde
sexta-feira.
Autor de "O
tambor" (1959) e Prêmio Nobel de Literatura em 1999, o escritor alemão
Günter Grass morreu, aos 87 anos, em um hospital da cidade de Lübeck
(Alemanha), segundo informou sua editora, Steidl, no Twitter.
Eduardo Galeano, escritor e jornalista
uruguaio
O escritor uruguaio Eduardo Galeano lendo um de seus livros
- RONALDO SCHEMIDT /
AFP
Morreu na manhã desta
segunda-feira, aos 74 anos, o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano,
em Montevidéu. Ele teve complicações decorrentes de um câncer de pulmão,
diagnosticado em 2007, e estava internado no Centro de Assistência do Sindicato
Médico do Uruguai desde sexta-feira.
Galeano escreveu mais
de 50 livros (traduzidos para cerca de 20 idiomas), entre documentários,
ficções e obras jornalísticas, e tinha o futebol, as mulheres, a cultura e o
continente latino-americano como principais temas de interesse. Sua obra mais
famosa foi "As veias abertas da América Latina", que, desde sua
publicação, em 1971, se converteu em um clássico da literatura política do
continente.
Nascido no dia 3 de
setembro de 1940, aos 14 anos já vendia caricaturas para jornais de Montevidéu.
Nos anos 1960, como jornalista, trabalhou no semanário "Marcha" e no
diário "Época". Porém, antes de se tornar um jornalista e líder intelectual
da esquerda, Galeano trabalhou como operário de fábrica, desenhista, pintor,
office boy, datilógrafo, caixa de banco, entre outras ocupações.
Lançou "As veias
abertas da América Latina" aos 31 anos e reconheceu posteriormente que
ainda não tinha formação suficente para finalizar a tarefa naquela época.
"O livro buscava ser um obra de economia política, mas eu não tinha a
formação necessária para isso", disse ele. "Não me arrependo de ter
escrito, mas é uma etapa que, para mim, está superada", acrescentou.
Por conta do golpe
militar uruguaio, Galeano deixou o país em 1973 e passou a morar na Argentina,
onde fundou uma revista cultural chamada "Crisis". Quando voltou ao
Uruguai, treze anos depois, criou o semanário "Brecha". Nos últimos meses,
se dedicava a editar um novo livro chamado "Mujeres", considerado um
experimento editorial.
Em 2009, durante a
Cúpula das Américas, o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, presenteou o
presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, com um exemplar do livro de
Galeano (censurado pelas ditaduras do Uruguai, Argentina e Chile). Por conta da
ocasião, em um dia, o livro pulou da 60.280ª para a décima posição na lista dos
mais vendidos da Amazon.
Questionado sobre o
episódio, Galeano respondeu que "nem Obama e nem Chávez entenderiam o
texto. Ele (Chávez) entregou a Obama com as melhores intenções, mas deu a ele
um livro em um idioma que Obama não conhece. Então, foi um gesto generoso, mas
um pouco cruel".
Günter Grass, Prêmio Nobel de Literatura
Prêmio Nobel Günter Grass morre aos 87, na Alemanha
- SUSANA VERA / REUTERS
O escritor alemão Günter Grass morreu
na manhã desta segunda-feira, aos 87 anos, em um hospital da cidade de Lübeck
(Alemanha), segundo informou sua editora, Steidl, no Twitter. Autor de "O
tambor" (1959), Grass ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1999.
Em sua obra mais emblemática, Grass
conta a história da Alemanha na primeira metade do século 20 através da vida de
um menino que se recusa a crescer. O livro estourou na Alemanha pós-guerra e
recebeu tanto elogios quanto críticas daqueles que viam nele um espelho muito
real da Segunda Guerra Mundial e do surgimento do nazismo. A popularidade da
obra, pela qual Grass teve que comparecer ao tribunal sob acusações de
pornografia, aumentou em 1979, quando Volker Schlöndorff a levou ao cinema e
garantiu o Oscar de melhor filme estrangeiro.
"Isso é muito triste. Um
verdadeiro gigante, uma inspiração, e um amigo. Toque o tambor por ele, pequeno
Oskar...", postou, no Twitter, o escritor britânico Salman Rushdie. A
premiada tradutora Anthea Bell disse ao portal do jornal "The
Guardian" que Grass era "uma figura literária de enorme importância
para a Alemanha pós-guerra, e para todo o mundo".
Escritor, poeta e artista plástico, o
alemão encontrou sucesso em todas as formas artísticas que explorou — da poesia
ao drama e da escultura à arte gráfica — mas foi depois de "O tambor"
que ele passou a ter a reputação internacional que o levou ao Nobel de Literatura,
40 anos após o lançamento do livro.
Autor de discursos do
chanceler alemão Willy Brandt, Grass nunca teve medo de usar sua fama para se
envolver com política ou como plataforma para campanhas pela paz e pelo meio
ambiente.
Nascido em 16 de
outubro de 1927 em Gdansk (Polônia), dizia que sua data de nascimento tinha
sido "quase suficiente" para evitar o envolvimento com o nazismo.
Porém, aos 16 anos, foi recrutado em 1944 pela Força Aérea da Alemanha e, após
a Segunda Guerra Mundial, estudou na Academia de Arte de Düsseldorf. Quando
escreveu sobre sua experiência na guerra, na autobiografia "Descascando a
cebola", em 2006, foi acusado de oportunismo, hipocrisia e traição.
'PERSONA NON
GRATA' EM ISRAEL
Grass esteve
envolvido com polêmicas até os últimos anos de sua vida. Em 2012, foi
considerado "persona non grata" pelo governo de Israel por conta da
publicação de um poema, chamado de “O que deve ser dito”, em que descrevia o
Estado judeu como uma ameaça para a paz mundial devido a sua posição em relação
ao Irã.
No ano seguinte,
esteve entre os 520 autores de um abaixo-assinado que pedia o fim da espionagem
política e industrial. Entitulada “Escritores contra a espionagem em massa”, a
cartava destaca que “todos os seres humanos têm o direito de permanecer livres
de serem observados e perturbados”, que “um pessoa sob monitoramento não é mais
livre” e que “a sociedade que vive sob a espionagem não é mais uma democracia”.
Em 2014, anunciou
que, por conta de sua saúde frágil, não escreveria mais romances, acrescentando
que sua condição o impediria de fazer planejamentos que durem cinco ou seis
anos. “Isso seria pré-condição para o trabalho de pesquisa para um romance”,
disse.
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Fonte: Jornal O Globo
online, 13/04/2015
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