Novo ministro da Educação participou do programa Observatório da Imprensa, na TV Brasil
Em sua primeira entrevista depois da indicação anunciada
pela presidente Dilma Rousseff para a pasta da Educação, o filósofo
Renato Janine, falou da sua visão da educação brasileira e da ideia de
aproximá-la do mundo da cultura.
-
Acredito na educação como libertação. Saber não é uma transmissão de
conteúdos, não é uma padronização. Penso que um dos pontos importantes é
como a gente aproxima isso do mundo da cultura - disse em entrevista ao
jornalista Alberto Dines, no programa "Observatório da Imprensa", da TV
Brasil, que foi ao ar na noite desta terça-feira.
- O mundo da educação é muito mais regulado, porque há
cursos, currículos, nota, diploma. Estou fazendo uma esquematização
muito simples. O mundo da cultura, você pode ver [o filme] Lincoln, do
[diretor Steven] Spielberg, é uma aula sobre escravagismo e abolição.
Aula mesmo seria diferente - acrescentou Janine, lembrando que o
aprender tem se tornado mais uma obrigação e menos um prazer.
Professor titular de ética e filosofia política da
Universidade de São Paulo (USP), o ministro toma posse no próximo dia 6 e
disse estar empolgado com sua nova missão e confessou que, para ele,
foi uma “enorme surpresa” a indicação da presidenta para que ele
assumisse a pasta.
- Estou empolgado. Foi uma surpresa. Realmente eu não
esperava. Houve algumas postagens no Facebook em favor do meu nome, mas
também em favor de outros nomes.
O novo ministro também fez reflexões sobre a democracia
brasileira e as recentes manifestações de rua. Considerando que a
democracia depende de instituições, mobilização política e cultura
política, o professor avaliou que o país ainda enfrenta problemas no
terceiro quesito.
- O problema é a cultura política. Política quer dizer que
não existe um lado totalmente certo e outro totalmente errado. Você tem
preferências. Tem de ter pelo menos dois grupos divergentes,
apresentando propostas diferentes. Mas ambos dignos, ambos legítimos -
destacou.
- A tendência para escassez de cultura política é achar que a
origem de todos os males está sempre na corrupção. E sempre o corrupto é
o partido que não gostamos. É o outro. Quando vejo esse tipo de
discurso, a recusa de diálogo, me parece coisa infantil - explicou.
Sobre como analisaria o reaparecimento de movimentos
fascistas, Janine informou que vê na atualidade muita liberdade, mas
também insegurança. E que, ao contrário de décadas atrás, as pessoas não
vivem mais dentro de um pacote de identidade, que antes trazia
garantias.
- No passado, cada um de nós vivia em um pacote identitário.
A gente nasceu na classe média. Tinha umas três ou quatro carreiras
universitárias para fazer. Iríamos escolher uma, casar no rito
religioso. Tudo está pronto e você não sai dele - observou.
- De repente, nada mais é obrigatório. Você pode dar vazão
ao que você é e ao que você quer. Ficamos em situação mais instável, mas
com maior liberdade, com maior possibilidade de realização pessoal,
mas, estranhamente, com maior possibilidade de frustração. Acho que esse
horizonte assusta muito.
O futuro ministro acrescentou que, após receber a indicação
para assumir a pasta, recebeu muitas mensagens. Um pequeno número delas
cobrando disciplina na sala de aula e até a expulsão de alunos em
determinadas situações.
- Olho e penso que eles estão falando de condutas horríveis,
que não podem ser toleradas. Concordo. Mas a demanda principal é saber
se colocar ordem na bagunça vai resolver. Isto não existe. Este não é um
projeto pedagógico, não é um projeto de país - disse. - No Brasil, há
uma certa ideia muito antiga de que, com um homem providencial,
autoritário, mal-humorado, despótico, tudo vai funcionar.
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Fonte: O Globo online, 01/04/2015
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