sábado, 30 de março de 2019

Por que somos egocêntricos, segundo este estudo


Resultado de imagem para Jesse Orrico/Unsplash
Pesquisa da Universidade Duke, nos EUA, revela que nosso cérebro tende a automaticamente 
priorizar tudo que se refere a nós mesmos, e não aos outros

Segundo estudo da Universidade Duke, o cérebro tende a automaticamente priorizar a auto-referência do indivíduo, 
o 'eu primeiro'

Um estudo publicado na edição de 1º de março de 2019 da revista científica Psychological Science indica que nós tendemos a reagir ao que acontece ao nosso redor se, primeiramente, o que está acontecendo se refere a nós mesmos, e não aos outros. Em outras palavras, prevalece a lógica do “eu primeiro”.

Ao divulgar a pesquisa, a Universidade Duke, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, deu um exemplo de como isso ocorre no dia a dia: você está conversando com alguém e, de repente, dá as costas para seu primeiro interlocutor porque ouviu outra pessoa dizendo seu nome.

“Nossas mentes automaticamente se voltam para nossos próprios nomes em lugares lotados e para nossos próprios rostos em fotografias”, exemplificou a agência de notícias Duke Today.

Como o estudo foi feito

O estudo foi feito por pesquisadores da área de psicologia e neurociência: Tobias Egner e yu-Chin Chiu (da Universidade Duke), Jie Sui (Universidade de Bath, no Reino Unido), Antao Chen e Shouhang Yin (Universidade Southwest, na China).

Os cientistas fizeram quatro experimentos, nos quais os 120 participantes voluntários foram treinados para associar palavras (“eu”, “amigo” e “estranho”) com cores aleatórias (azul, verde e roxo). “Eu”, por exemplo, poderia ser simbolizado pela cor “azul”.

Na sequência, um programa de computador pedia para os participantes localizarem as cores em um diagrama, como um jogo simples: pontinhos coloridos aparecem na tela e os participantes precisam memorizar onde estão as cores que se referem a eles e aos outros.

Nas quatro variações do experimento, os participantes localizaram muito mais rapidamente a cor que fazia referência à sua própria identidade (“azul”, por exemplo) e não identificaram imediatamente as cores dos outros (o “amigo” e o “estranho”).

Em uma das experiências, por exemplo, a cor do “eu” aparecia uma vez, enquanto as cores do “amigo” e do “estranho” apareciam duas vezes. Ainda assim, os participantes memorizaram melhor onde estava a cor do “eu”.

Isso indica, segundo as conclusões dos pesquisadores, que o cérebro humano tende a automaticamente priorizar a autorreferenciação (o “eu” como a referência para o que acontece ao redor) na memória de curto prazo, o que pode ajudar a compreender certos padrões egocêntricos no cotidiano.

O contexto do cérebro

O cérebro é formado por diferentes estruturas, com funções diferentes. Diversas estruturas cerebrais estão envolvidas no processo da memória de trabalho (também chamada de “memória de curto prazo”), que é um componente cognitivo que permite o armazenamento temporário de informação com capacidade limitada.

Em outras palavras, o cérebro armazena temporariamente o que considera “útil” no momento. Isso pode acontecer consciente ou inconscientemente.

A partir da memória de curto prazo, nós tomamos decisões diárias, simples ou complexas, pesando essas informações armazenadas no cérebro. Se alguém sempre dá prioridade a informações autorreferenciais, as decisões tendem a desconsiderar os outros e opiniões diferentes, privilegiando um ponto de vista egocêntrico.

Entre o egocentrismo e a empatia

A teoria do psicólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), consagrada no século 20, defende que o egocentrismo não é inerente ao ser humano. Segundo sua tese, seria uma tendência da infância, que seria paulatinamente abandonada ao longo da vida. Entretanto, nos últimos anos, experimentos psicológicos têm investigado como o egocentrismo se manifesta na vida adulta.

Recentemente, estudos neurocientíficos também têm abordado como funciona a empatia, isto é, a capacidade de compreensão emocional do outro, que também ativa a rede neural do cérebro.

O estudo atual da Universidade Duke não diz o quanto o processo de autorreferenciação reflete um instinto “natural” ou se é possível evitar essa preferência egocêntrica e adotar uma postura mais empática.

“As pessoas priorizam elas mesmas nas suas mentes. A questão é: quão automática é essa priorização? É algo que não podemos evitar? Se não pudermos evitar, isso pode realmente influenciar preconceitos na tomada de decisões”
Tobias Egner professor do Departamento de Psicologia
e Neurociência da Universidade Duke, autor do estudo

 Segundo Egner, o próximo passo da pesquisa é conduzir novos testes para avaliar como se comporta essa tendência de prioridade egocêntrica diante de experimentos sobre altruísmo – um comportamento que beneficia e privilegia o outro, muitas vezes considerado sinônimo de “solidariedade”.
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Reportagem por Juliana Sayuri 26 Mar 2019 (atualizado 27/Mar 18h38)
Foto: Jesse Orrico/Unsplash
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