Pesquisa
da Universidade Duke, nos EUA, revela que nosso cérebro tende a automaticamente
priorizar tudo que se refere a nós mesmos, e não aos outros
Segundo
estudo da Universidade Duke, o cérebro tende a automaticamente priorizar a
auto-referência do indivíduo,
o 'eu primeiro'
Um estudo
publicado na edição de 1º de março de 2019 da revista científica Psychological
Science indica que nós tendemos a reagir ao que acontece ao nosso redor se,
primeiramente, o que está acontecendo se refere a nós mesmos, e não aos outros.
Em outras palavras, prevalece a lógica do “eu primeiro”.
Ao
divulgar a pesquisa, a Universidade Duke, na Carolina do Norte, nos Estados
Unidos, deu um exemplo de como isso ocorre no dia a dia: você está conversando
com alguém e, de repente, dá as costas para seu primeiro interlocutor porque
ouviu outra pessoa dizendo seu nome.
“Nossas
mentes automaticamente se voltam para nossos próprios nomes em lugares lotados
e para nossos próprios rostos em fotografias”, exemplificou a agência de
notícias Duke Today.
Como o estudo foi feito
O estudo
foi feito por pesquisadores da área de psicologia e neurociência: Tobias Egner
e yu-Chin Chiu (da Universidade Duke), Jie Sui (Universidade de Bath, no Reino
Unido), Antao Chen e Shouhang Yin (Universidade Southwest, na China).
Os cientistas
fizeram quatro experimentos, nos quais os 120 participantes voluntários foram
treinados para associar palavras (“eu”, “amigo” e “estranho”) com cores
aleatórias (azul, verde e roxo). “Eu”, por exemplo, poderia ser simbolizado
pela cor “azul”.
Na sequência,
um programa de computador pedia para os participantes localizarem as cores em
um diagrama, como um jogo simples: pontinhos coloridos aparecem na tela e os
participantes precisam memorizar onde estão as cores que se referem a eles e
aos outros.
Nas quatro
variações do experimento, os participantes localizaram muito mais rapidamente a
cor que fazia referência à sua própria identidade (“azul”, por exemplo) e não
identificaram imediatamente as cores dos outros (o “amigo” e o “estranho”).
Em uma
das experiências, por exemplo, a cor do “eu” aparecia uma vez, enquanto as
cores do “amigo” e do “estranho” apareciam duas vezes. Ainda assim, os
participantes memorizaram melhor onde estava a cor do “eu”.
Isso
indica, segundo as conclusões dos pesquisadores, que o cérebro humano tende a
automaticamente priorizar a autorreferenciação (o “eu” como a referência para o
que acontece ao redor) na memória de curto prazo, o que pode ajudar a
compreender certos padrões egocêntricos no cotidiano.
O contexto do cérebro
O cérebro
é formado por diferentes estruturas, com funções diferentes. Diversas
estruturas cerebrais estão envolvidas no processo da memória de trabalho
(também chamada de “memória de curto prazo”), que é um componente cognitivo que
permite o armazenamento temporário de informação com capacidade limitada.
Em outras
palavras, o cérebro armazena temporariamente o que considera “útil” no momento.
Isso pode acontecer consciente ou inconscientemente.
A partir
da memória de curto prazo, nós tomamos decisões diárias, simples ou complexas,
pesando essas informações armazenadas no cérebro. Se alguém sempre dá
prioridade a informações autorreferenciais, as decisões tendem a desconsiderar
os outros e opiniões diferentes, privilegiando um ponto de vista egocêntrico.
Entre o egocentrismo e a
empatia
A teoria
do psicólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), consagrada no século 20, defende
que o egocentrismo não é inerente ao ser humano. Segundo sua tese, seria uma
tendência da infância, que seria paulatinamente abandonada ao longo da vida.
Entretanto, nos últimos anos, experimentos psicológicos têm investigado como o
egocentrismo se manifesta na vida adulta.
Recentemente,
estudos neurocientíficos também têm abordado como funciona a empatia, isto é, a
capacidade de compreensão emocional do outro, que também ativa a rede neural do
cérebro.
O estudo
atual da Universidade Duke não diz o quanto o processo de autorreferenciação
reflete um instinto “natural” ou se é possível evitar essa preferência
egocêntrica e adotar uma postura mais empática.
“As
pessoas priorizam elas mesmas nas suas mentes. A questão é: quão automática é
essa priorização? É algo que não podemos evitar? Se não pudermos evitar, isso
pode realmente influenciar preconceitos na tomada de decisões”
Tobias
Egner professor do Departamento de Psicologia
e
Neurociência da Universidade Duke, autor do estudo
Segundo Egner, o próximo passo da pesquisa é
conduzir novos testes para avaliar como se comporta essa tendência de
prioridade egocêntrica diante de experimentos sobre altruísmo – um
comportamento que beneficia e privilegia o outro, muitas vezes considerado
sinônimo de “solidariedade”.
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Reportagem por Juliana
Sayuri 26 Mar 2019 (atualizado 27/Mar 18h38)
Foto: Jesse Orrico/Unsplash
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© 2019 | Todos os direitos deste material são reservados ao NEXO JORNAL LTDA., conforme a Lei nº 9.610/98. A sua publicação, redistribuição, transmissão e reescrita sem autorização prévia é proibida.
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