Dormir mal pode acarretar fadiga, sonolência, cansaço, perda de atenção e memória, diz neurologista da USP
Por que dormir bem leva ao
envelhecimento saudável? Qual a relação entre sono e longevidade?
Pesquisas têm mostrado que o sono adequado previne doenças, aumenta
expectativa de vida e melhora a aparência física. O sono adequado tem um
padrão ou depende de cada caso? A Semana Mundial do Sono este ano teve o
slogan: Dormir bem é envelhecer com saúde.
O Jornal da USP no Ar entrevistou
o professor Alan Luiz Eckeli, da Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto (FMRP), especialista em neurologia, sobretudo do sono. Ele elucida
que, desde 2013, além dos tradicionais sistemas circulatórios
(cardiovascular e linfático), considera-se mais um, o sistema
glinfático. Sua atuação ocorre na desintoxicação do cérebro,
majoritariamente durante o repouso, por meio da quebra de substâncias
como a alfa-sinucleína e a beta-amiloide. Pesquisas recentes levantam a
hipótese de associação da primeira ao mal de Parkinson e da outra ao de
Alzheimer.
Outra linha, já consolidada, mostra
que pessoas dormindo menos de seis horas por dia têm uma menor
expectativa de vida; pelo menos, em áreas como Europa, Ásia e América do
Norte. Salvo sinais físicos, a exemplo de fadiga, sonolência, redução
da capacidade motora e cansaço, a insônia pode levar à perda de atenção e
ao mau funcionamento do processo cognitivo. Só se lembra de algo quando
se presta atenção ao ocorrido, e depois, durante o descanso, que se dá a
consolidação da memória no cérebro. “Não existe vida sem sono”, define o
especialista.
O médico argumenta que o dia a dia
moderno altera o padrão do ciclo sono-vigília (quando estamos
acordados). São muitos os sinais e informações ao longo do dia.
“Normalmente, a última coisa que o sujeito faz antes de deitar é olhar o
smartphone, e levanta com o aparelho na mão, a seguir”, diz.
A quantidade de luz recebida,
principalmente após as 20 horas, pode reduzir a quantidade de produção
de melatonina. O hormônio e neurotransmissor, que age no Sistema Nervoso
Central, causa sonolência no indivíduo. Ou seja, a alta exposição do
indivíduo pode levar a um sono irregular.
A relação do espectador com o
dispositivo de comunicação também é relevante no processo. A televisão
pode ser um distrator. A pessoa assiste em busca de esquecer dos
problemas cotidianos, logo é passiva. Com o smartphone, o sujeito é
sempre ativo, ele busca informações. Fora que há um processo de
retroalimentação, quanto mais se encontra, mais ativa um mecanismo de
recompensa no cérebro, engajando ainda mais a atenção.
Dormir muito também tem
consequências. “Lentificação psicomotora, dolorimento e fibromialgia
(dores por todo o corpo, por determinados períodos)”, lista Eckeli. “O
indivíduo tem de perceber o seu tempo de sono ideal, por meio dos sinais
do próprio corpo”, completa. O normal são de 7 a 8 horas, porém, cada
um tem a sua rotina saudável. Além disso, esse intervalo pode ser
dividido em mais de uma experiência, como nas sestas (descansos após o
almoço, comuns no interior da Argentina).
As pesquisas feitas, sobretudo com
atletas, são os maiores indícios da necessidade de um sono saudável.
Para a melhor performance do corpo, não basta se alimentar e se
exercitar conscientemente. Dormir bem é preciso.
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Foto: Flickr/CC
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