quarta-feira, 20 de março de 2019

Sono é uma função vital, assim como respiração

Dormir mal pode acarretar fadiga, sonolência, cansaço, perda de atenção e memória, diz neurologista da USP

Por que dormir bem leva ao envelhecimento saudável? Qual a relação entre sono e longevidade? Pesquisas têm mostrado que o sono adequado previne doenças, aumenta expectativa de vida e melhora a aparência física. O sono adequado tem um padrão ou depende de cada caso? A Semana Mundial do Sono este ano teve o slogan: Dormir bem é envelhecer com saúde.

O Jornal da USP no Ar entrevistou o professor Alan Luiz Eckeli, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), especialista em neurologia, sobretudo do sono. Ele elucida que, desde 2013, além dos tradicionais sistemas circulatórios (cardiovascular e linfático), considera-se mais um, o sistema glinfático. Sua atuação ocorre na desintoxicação do cérebro, majoritariamente durante o repouso, por meio da quebra de substâncias como a alfa-sinucleína e a beta-amiloide. Pesquisas recentes levantam a hipótese de associação da primeira ao mal de Parkinson e da outra ao de Alzheimer.

Outra linha, já consolidada, mostra que pessoas dormindo menos de seis horas por dia têm uma menor expectativa de vida; pelo menos, em áreas como Europa, Ásia e América do Norte. Salvo sinais físicos, a exemplo de fadiga, sonolência, redução da capacidade motora e cansaço, a insônia pode levar à perda de atenção e ao mau funcionamento do processo cognitivo. Só se lembra de algo quando se presta atenção ao ocorrido, e depois, durante o descanso, que se dá a consolidação da memória no cérebro. “Não existe vida sem sono”, define o especialista.

O médico argumenta que o dia a dia moderno altera o padrão do ciclo sono-vigília (quando estamos acordados). São muitos os sinais e informações ao longo do dia. “Normalmente, a última coisa que o sujeito faz antes de deitar é olhar o smartphone, e levanta com o aparelho na mão, a seguir”, diz.

A quantidade de luz recebida, principalmente após as 20 horas, pode reduzir a quantidade de produção de melatonina. O hormônio e neurotransmissor, que age no Sistema Nervoso Central, causa sonolência no indivíduo. Ou seja, a alta exposição do indivíduo pode levar a um sono irregular.

A relação do espectador com o dispositivo de comunicação também é relevante no processo. A televisão pode ser um distrator. A pessoa assiste em busca de esquecer dos problemas cotidianos, logo é passiva. Com o smartphone, o sujeito é sempre ativo, ele busca informações. Fora que há um processo de retroalimentação, quanto mais se encontra, mais ativa um mecanismo de recompensa no cérebro, engajando ainda mais a atenção.

Dormir muito também tem consequências. “Lentificação psicomotora, dolorimento e fibromialgia (dores por todo o corpo, por determinados períodos)”, lista  Eckeli. “O indivíduo tem de perceber o seu tempo de sono ideal, por meio dos sinais do próprio corpo”, completa. O normal são de 7 a 8 horas, porém, cada um tem a sua rotina saudável. Além disso, esse intervalo pode ser dividido em mais de uma experiência, como nas sestas (descansos após o almoço, comuns no interior da Argentina).

As pesquisas feitas, sobretudo com atletas, são os maiores indícios da necessidade de um sono saudável. Para a melhor performance do corpo, não basta se alimentar e se exercitar conscientemente. Dormir bem é preciso.
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Reportagem Por   URL Curta: jornal.usp.br/?p=231315 
Foto: Flickr/CC

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