terça-feira, 11 de agosto de 2009

A arte encontra a Teologia do Corpo

Dony Mac Manus*
Zenit–A teologia do corpo de João Paulo II continua a influenciar o seu trabalho?
Mac Manus: Quando eu tive o primeiro contato com a teologia do corpo, comecei a entender o que significava ser um homem, ser plenamente humano, e como esta identidade é fundamental para saber se relacionar com os outros homens e mulheres, e como me relacionar com Deus, como cristão. Desde que comecei a trabalhar com a teologia do corpo, em 1999, ela continua a influenciar minha obra.
Nas palavras de João Paulo II, "Cristo revela o homem ao homem". Penso que, como artista, eu não poderia pedir mais. Se um artista vê que a sua missão é revelar o valor do homem, sua dignidade e destino, como penso que é, então esta curta revelação de João Paulo II é tudo que você precisa para se colocar no caminho certo.
Se Cristo revela o homem para o homem, e ele faz isso através de seu próprio corpo e de nossos próprios corpos, então isso explica porque Cristo foi a figura central da arte por tanto tempo. Também explica por que é necessário recolocar Cristo neste lugar central, se quisermos recuperar a nossa verdadeira cultura e identidade.


Zenit –No seu site (www.donymacmanus.com), você afirma que o corpo humano é a ferramenta mais expressiva para comunicar a condição humana. Que quer dizer com isso?
Mac Manus: Com esta expressão, quero dizer que o corpo traduz os diferentes aspectos do ser humano. Vejo o corpo humano como o instrumento ideal para comunicar a condição humana, já que o corpo é projetado para fazer exatamente isso.
Eu compreendo minha própria condição, e a condição de outros seres humanos, dentro e através do meu próprio corpo e do deles. Como artista, eu acredito fortemente na comunicação do que significa ser humano. Sei que é minha responsabilidade aperfeiçoar a capacidade de comunicar esta realidade no meu trabalho, com um máximo de fluidez, de modo a minimizar a interferência de incompetência artística –seja ela anatômica, escultural, pictórica– na comunicação da mensagem.


Zenit –Em seus escritos, João Paulo II afirma que a pessoa nunca deve usar ou tratar outra como um mero meio para atingir determinado fim. Como você, como artista, cujo tema favorito é o corpo humano, traduz isso em sua arte?
–Mac Manus: Penso que é puramente uma questão de intenções, um transbordamento de uma disposição interior. Pode-se ver outra pessoa humana com pureza de coração e não fazer dela um objeto. Esta intenção positiva é comunicada através da nossa linguagem corporal e é percebida pelos outros com grande clareza. Penso que esta é a forma como as relações profissionais e pessoais podem ser construídas.


Zenit –A arte está-se tornando, ou já é, apenas o consumo superficial de impressões? Em caso afirmativo, como se pode educar o nosso próprio olhar e o olhar dos outros, especialmente da juventude, para perceber o valor artístico do humano que somos?
–Mac Manus: Boa parte da arte tornou-se muito superficial e relativista, levando a uma enfadonha auto-referência. Isto resulta na perda de um verdadeiro enfoque sobre a única fonte de "caminho, verdade e luz", o que conduziu a manifestações artísticas verdadeiramente entediantes.
Colocando deste modo, se eu fosse descrever a minha exposição como "Dony Mac Manus: uma representação artística interior de um homem de 38 anos de Dublin" ou como "Uma representação artística contemporânea da condição humana através de obras de grandes artistas na História”, por Dony Mac Manus, as pessoas mais sãs, podendo escolher, escolheriam a última.
Elas fariam isso como um convite a explorar a grande riqueza do nosso patrimônio cultural coletivo, vendo o que se pôde fazer e atualizando o que é relevante para o presente.
Em outras palavras, a arte é acima de tudo linguagem. A linguagem nasce do pensamento. Se quisermos compreender a verdadeira arte, precisamos compreender o verdadeiro pensamento. Uma saudável compreensão da filosofia e da teologia traz um bom caminho para sondar o sentido do que somos.
Com esta compreensão da condição humana, podemos aspirar a reafirmar esta visão do homem na vida cultural, quer seja na produção ou consumo de arte.

Zenit –E quanto a arte que é obscena? Como podem artistas e não artistas reconhecer quando um trabalho, quer seja um original ou uma reprodução, é pornografia?
Mac Manus: Obsceno é o que "não pode ser apresentado à visão humana sem qualquer escolha". João Paulo II utilizou este conceito para indicar que uma imagem é obscena quando é uma imagem inadequada forçada sobre o espectador, sem qualquer escolha por parte desse espectador, como, por exemplo, em um cartaz em uma rua pública. Nesse exemplo, o público está sujeito ao poder do impulso da sexualidade humana visando a ganhos de outros através da publicidade.
Pornovisão (imagem) e pornografia (palavra escrita), ambas têm lugar quando o limite da vergonha é ultrapassado e quando o direito à privacidade do corpo, na sua masculinidade e feminilidade, é violado. Esta situação é contrária à dignidade do homem na ordem intencional (que o artista deseja) da arte e da reprodução de palavras e imagens.


Zenit–João Paulo II escreveu na Laborem Exercens que todo trabalho humano é um momento de revelação da pessoa, e é um caminho natural para as pessoas construírem a si mesmas e também um mundo digno de si. Você vê o seu trabalho como artista neste caminho? Especificamente, que seu trabalho diz ao mundo?
Mac Manus: Sim, eu quero ver o meu trabalho desta forma. Minha obra diz ao mundo que Dony Mac Manus realmente não importa com o que as pessoas pensam sobre sua arte. A única coisa que me importa é que eu possa articular aquilo que eu penso que o mundo precisa do patrimônio coletivo que temos. Quero sensibilizar-me com o que é mais belo, fazer a representação desta grande riqueza e me comunicar com o público contemporâneo, a fim de levar esperança através da beleza.
Como João Paulo II recordou-nos ao citar "O Idiota", de Dostoiévski, em sua Carta aos Artistas, de 1999: "A beleza salvará o mundo". Hoje, eu acho que temos necessidade deste poder salvador mais do que nunca.


Zenit –O que você está tentando realizar em seu estúdio em Florença?
Mac Manus: Criei um workshop ao modo dos artistas do século XV, de modo a criar um ambiente em que a grande arte possa ser concebida e grandes artistas, formados. Se eu conseguir criar um estúdio tão bom quanto Verrochio, talvez algum gênio moderno como Leonardo possa ser gerado.
O desenho e a anatomia humana são fundamentais para a arte figurativa. Eles são como as palavras e a gramática para um escritor. Depois de aprender as regras, só então você pode quebrá-las adequadamente, a fim de fazer arte. Jovens artistas estão em grande carência deste direito elementar de se comunicar, o que lhes é negado pela maioria das instituições artísticas.
Eu formo os artistas do modo como o trabalho era feito. Eles aprendem a viver um verdadeiro projeto como Michaelangelo fez no estúdio de Ghirlandaio ou Rafael, no estúdio de Perugino.


Zenit –Se você soubesse que teria uma última obra para realizar, qual seria?
–Mac Manus: Um crucifixo de tamanho natural feito de Cedro do Líbano.

*Mac Manus, 38 anos, é o fundador da Irish Academy of Figurative Art, em Dublin, e do Dony Mac Manus Studios, em Florença, Itália.
Nascido em Dublin, quando aspirante a artista estudou no National College of Art, em sua cidade natal. Em 2000, recebeu o prêmio Millennium Scholarship Trust, do Banco da Irlanda, para estudar na New York Academy of Art, onde, um ano depois, obteve o mestrado em Belas Artes.
Mas o evento que mais influenciou o artista foi o contato com a teologia do corpo de João Paulo II, por sugestão de um sacerdote que ficou impressionado com uma escultura de Cristo crucificado em que Mac Manus estava trabalhando. Ele estava esculpindo o corpo do Cristo desprovido da pele exterior, revelando todos os seus músculos e ossos.
Mac Manus explicara ao sacerdote: "Eu queria chegar a uma compreensão mais profunda do Corpus Christi, do corpo de Cristo, através da linguagem que eu conhecia melhor”.
Ao encontrar com Mac Manus no recente Simpósio Internacional sobre a Teologia do Corpo, no St. Patrick's College, em Maynooth (Irlanda), ZENIT falou com o artista sobre como teologia do corpo influencia sua obra.

Reportagem de Robert F. CONKLING - Dublin, 11/08/2009 /Zenit.Org.

Nenhum comentário:

Postar um comentário