domingo, 2 de agosto de 2009

Um encontro no meio do caminho

"Não sou o escritor inglês Nick Hornby, mas também acredito que é possível descobrir pérolas literárias nas letras da música pop. Claro que é mais fácil encontrá-las em canções do U2 ou do Radiohead, mas acabo de descobrir que elas podem aparecer em qualquer lugar. Até no meio de um hip-hop-rap-funk-house-electro do Black Eyed Peas.
O disco 'The E.N.D.' mistura música eletrônica moderninha com pitadas dos velhos e bons Earth, Wind & Fire e Kool the Gang. É muito bom, diga-se de passagem, principalmente músicas como 'Rock That Body' 'I Gotta Feeling' e 'Missing You'. O público que certamente vai lotar as pistas de dança prestará muito mais atenção ao ritmo da música, mas há mais coisas entre o início e o fim de 'Meet me Halfway' do que imagina a vã filosofia do tum-tum-tum bate-estaca.
O título da canção significa algo como 'me encontre no meio do caminho'. Interpretada pela bela e sexy vocalista Fergie, a tradução da letra vai mais ou menos assim:
"Me encontre no meio do caminho
Eu estarei te esperando
Você levou meu coração ao limite
E daqui eu não posso passar".

Profundo como um pires? Nada disso. Altamente filosófico. Talvez você não tenha percebido a sutil metáfora que compara o espaço físico ao estado emocional que separa o casal. Ela quer se aproximar do amado, mas acha que já se doou demais nesse relacionamento. Ela quer ficar com o cara, mas quer que ele tome um pouco de iniciativa. É hora de deixar o egoísmo de lado, é hora de ele mostrar que está interessado.
No fundo, não é isso que desejamos? Conhecer e se apaixonar por alguém que nos encontre exatamente na metade do caminho? Yes.Todas as pessoas vêm de lugares diferentes, de origens únicas. Todo mundo é fruto de famílias diferentes, de contextos diferentes, de histórias de vida diferentes. E aí, em algum momento, essas pessoas se conhecem, se desejam. Mas isso não é suficiente. Não basta querer o outro, é preciso que o outro também te queira. Você começa então um relacionamento a quilômetros de distância – emocional, claro – e dá um passo de cada vez. As personalidades se atraem como ímãs: ela dá um passo na sua direção, você dá um passo na direção dela. Um probleminha faz você recuar um passo, uma emoção maior faz com que ela dê dois passos à frente.
O espaço entre os dois vai ficando menor, menor ainda, até que o casal se encontra. Será exatamente o meio do caminho? Às vezes sim, às vezes não. Às vezes é mais perto da origem dela, às vezes é mais perto da origem dele. Tudo bem.
O único segredo para dar certo é não forçar nenhum dos dois a caminhar demais. Por uma razão bastante simples: cansa."
(Do Blog Felipe Machado, estadão)
http://blog.estadao.com.br/blog/palavra/Acesso, 02/08/2009

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