Martha Medeiros*
Também poderíamos chamar de epidemia o número de pessoas que sonham em viver de escrever. Tenho certeza de que meus colegas de profissão recebem, como eu, uma imensa quantidade de textos para avaliar e pedidos de dicas sobre como se tornar um escritor.
Com a proliferação dos blogs e as facilidades oferecidas pelos computadores, arrisco dizer que hoje há mais gente escrevendo do que lendo. E ainda que eu lamente essa inversão (ler é muito mais importante do que escrever), entendo perfeitamente por que isso acontece. Se você não entende, vá até o Margs.Como qualquer pessoa de juízo, também estive visitando a Mostra Arte na França, que ficará na cidade só até o dia 30 de agosto, com quadros de Renoir, Van Gogh, Monet, Cezanne, Picasso, Toulouse-Lautrec, Matisse, além de representantes brasileiros como Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Cândido Portinari e Lasar Segall. Não entendo nada de artes plásticas, o que não me impede de me comover. Não há como ficar indiferente diante de uma linguagem visual que encanta, deslumbra e nos faz sentir tão miúdos. Eu, ao menos, me sinto uma ameba diante de um belo quadro. Mal sei desenhar um bonequinho com cabeça, tronco e membros numa folha de papel, então fico embasbacada ao constatar que a partir de uma tela em branco o artista consegue, com um conjunto de pinceladas, traduzir a expressão melancólica de um olhar, revelar a textura de um vestido, reproduzir um temporal, salientar a veia de um braço, criar uma situação cotidiana que bem poderia ser uma fotografia, mas não é. Uma pintura é a elaboração da realidade a partir da combinação de luzes, sombras, cores, proporções, evocações e de uma sensibilidade rara. Quantos foram e quantos são os que conseguem nos assombrar através de traços que dão forma a uma pessoa, uma paisagem, uma atitude, uma cena? Quantos têm o dom de desenhar uma árvore sendo vergada pelo vento com tal perfeição, que nos faz encolher o próprio corpo diante da tela, como se o vento viesse também em nossa direção? Quem consegue através de uma pequena pincelada, e outra, e mais outra, fazer surgir uma catedral diante dos nossos olhos? Quantos homens e mulheres nasceram com o talento para, dispondo de duas ou três tonalidades, abrir um campo florido a nossa frente? Quantos você conhece, quantos são os dotados de tamanha capacidade para realizar essa mágica e nos oferecer uma imagem sublime?
Se não for por esse encantamento, vá até o Margs ao menos para entender por que tanta gente quer virar escritor. Ora, porque escrever, mal ou bem, todo mundo se sente capaz, até eu.
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2623131.xml&template=3916.dwt&edition=12944§ion=70 19/08/2009
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