O contentamento é
uma questão de espiritualidade,
neurologia ou
mera prática?
Para os economistas e os comediantes, as misérias humanas oferecem uma fonte infinita de material. A felicidade, a despeito das promessas vazias da publicidade e dos gurus de autoajuda, é uma meta fugaz.
E quem poderia esclarecer melhor a questão do que o homem descrito como o mais feliz do mundo? Yongey Mingyur Rinpoche é um humilde lama tibetano que costuma rir de títulos como esse. Mas, como escreveu Daniel Goleman no blog Happy Days do "New York Times", ele é de fato "um mestre na arte do bem-estar". Qual é o segredo de Rinpoche? Praticar. Praticar.
Praticar.
Quando criança, em uma aldeia pobre do Nepal, Rinpoche era propenso a ansiedade e ataques de pânico. Mas anos de meditação disciplinaram sua mente e a prepararam para enfrentar os problemas da vida. Isso foi ilustrado por imagens de tomografia cerebral de Rinpoche e outros lamas, que revelavam nível incomumente elevado e ininterrupto de atividade no lobo pré-frontal esquerdo, polo central dos bons sentimentos, em termos neurológicos.
Aqueles que procuram a felicidade mas não têm capacidade de concentração suficiente para meditar por milhares de horas podem simplesmente voltar à escola. Como escreveu Patricia Leigh Brown no "Times", a Universidade da Califórnia em Berkeley oferece um curso de dez meses sobre como despertar a alegria. Recomenda cantar, fazer listas de coisas felizes e encontrar um "parceiro de alegria". Mas o curso não garante que essas técnicas funcionem sob as pressões reais de uma demissão, uma rejeição marital ou um longo congestionamento de trânsito.Quando as listas de coisas felizes fracassam, resta sempre o governo -ao menos se você vive no Butão. Como escreveu Seth Mydans no "Times", a Constituição do Butão dispõe que todos os programas estatais devem promover a "felicidade nacional bruta". O governo determinou que os quatro pilares de uma sociedade feliz são economia, cultura, meio ambiente e bom governo. E está desenvolvendo fórmulas matemáticas que resumam esses pilares em forma de um índice de Felicidade Nacional Bruta. Caso a experiência encontre sucesso, causará vergonha ao índice de miséria adotado por alguns economistas.Mas a infelicidade pode ter seu papel, até em uma conferência sobre "Felicidade e Suas Causas". O encontro, realizado no ano passado em San Francisco, EUA, discutiu temas como "compaixão e a busca da felicidade" e "por que as zebras não têm úlceras", enquanto "empresários da felicidade" circulavam promovendo "makeovers de felicidade".
Brown escreveu no "Times" que a conferência "unia muitas correntes que fluem no substrato de nossa cultura: psicologia positiva, redução de estresse com base em desenvolvimento de atenção, o papel do apoio emocional no tratamento do câncer e o ideal iogue de 'viver o momento presente'".
E até mesmo uma conferência sobre a felicidade atraiu alguns resmungões. "A infelicidade causada por não ser feliz é uma condição moderna", disse Darrin McMahon, professor de história na Universidade Estadual da Flórida. "Não podemos nos sentir bem o tempo todo, e nem deveríamos". Ou, como já disse a escritora norte-americana Edith Wharton, "se parássemos de tentar ser felizes, poderíamos nos divertir muito".
*Texto publicado na Folha/tradução do THE NEW YORK TIMES.17/08/2009
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