segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Jovens & internet: conversa clara, trato justo

Deonísio da Silva *
Falemos a verdade aos jovens, eles gostam da conversa clara e, em tempos de internetês, ainda antes do primeiro terço de suas vidas, estão no meio de uma selva escura, ainda mais sombria do que a de Dante, que a encontrou já homem experimentado, na metade da vida.

Com o glossário presente nas mensagens instantâneas do messenger e dos torpedos, não é possível pensar. Somente a dispensa de vírgulas e pontos já levaria ao caos a comunicação, fim principal que os usuários querem atingir. E, se restritos ao internetês, perderão via de acesso indispensável ao êxito no trabalho, no amor, nas diversões e nos entretenimentos: a capacidade de entender e de serem entendidos.

Não bastasse o conceito equivocado do novo idioma, perguntemos: o que se economiza – a economia é a regra básica da elegância e, por motivos de beleza e saúde, os jovens vivem fazendo regime – com a substituição de “não é brincadeira” por “Ñ eh brincadeira?”. “De jeito nenhum” por “Djeito nenhum?”. “Não vou correr com vocês” por “Ñ vou correr c/ vcs?”. O glossário mínimo do novo idioma abrevia hora com “hr”. Mas por quê, se já temos “h?”. “Onde” virou “ond”. “Novidade” virou “9idade”.

O sintoma: falhamos em tudo na educação dos jovens, vitimados por tantas carências, como vemos todos os dias. Comecemos a reconhecer que sequer lhes transmitimos a língua que herdamos de nossos pais e professores num tempo em que a família e a escola tinham mais atenção.

A norma culta da língua portuguesa não tem mais quem a defenda nem em legendas de filmes na televisão! A confusão é geral. E a escola deu, por atos, palavras e omissões, grande contribuição ao atual descalabro de que o internetês é um dos mais óbvios sintomas.

Demos telefones celulares também aos pobres, que podem comprá-los bem baratinhos e em suaves prestações no crediário. Não lhes demos o direito de comprar livros com tamanhas facilidades. Para exemplificar: se os livros fossem alardeados e promovidos como são celulares e computadores, o internetês não teria lugar.

O contexto é este: os sem-terra e os sem-livro habitam o mesmo Brasil. Fora da Galáxia Gutenberg, todo mundo será marginal e como tal será tratado.

Assim como a gíria não livra os meninos pobres dos seculares males sociais, o internetês não os livrará da marginalidade em que vivem, da falsa cultura em que se movem, da pobreza vocabular que os leva a esses terríveis insucessos numa simples redação de vestibular.

Nós lhes negamos o código, a chave da porta de entrada. E quem paga o preço da exclusão? Os jovens! Que pelo menos nós, os letrados, não nos desculpemos com autoindulgências que não nos ajudam a compreendê-los, apenas nos eximem de responsabilidades.

O internetês é apenas um dos sintomas de nossa pobreza vocabular. Se uns pecam por falta, outros incorrem em erros por excesso, como é o caso do gerundismo. Aeromoças e telejornalistas já não se contentam em desejar-nos “bom-dia”, “boa-tarde” ou “boa-noite”. Dizem “um excelente dia para todos nós”.

Para vocês, caras pálidas ou coloridas, mas para todos os outros basta o “bom-dia”, como é suficiente no inglês, o latim do império e da internet, o “good morning”; no espanhol, o clássico “buenos dias”; no italiano, o “buongiorno”. E assim por diante.

Lembremos o conselho de Winston Churchill, estadista que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura: “Das palavras, as mais simples; das mais simples, a menor”.

* Deonísio da Silva é professor da Estácio, doutor em letras pela USP
http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/08/02/e020816670.asp

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