sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Que tempos vivemos?

Maria Cecília Medeiros de Farias Kother*

Vivemos em um tempo que exige reflexões profundas que nos conduzam a posições que ainda não estão bem definidas e justamente por assim não estarem é que elas nos impelem a refletir e a tomá-las.
Mundo diferente, pessoas diferentes. Nesta conexão interativa homem/mundo, é que se estabelecem os resultados que aí estão.
Numa ligeira análise, vê-se que estamos em um mundo movido a crises. A crise econômica que arrebata finanças e produz desempregos nos deixa em estado de alerta. A crise ambiental que atinge o equilíbrio do ecossistema, com chuvas, enxurradas, tremores de terra, mares agitados, raios, secas, frio exagerado, leva medo às pessoas. A crise política que assola vários países, incluindo os nossos vizinhos, ocasiona insegurança e incompreensão. A crise da saúde, pela pandemia da gripe A (H1N1), que vem abalando o mundo e avançando sorrateiramente, deixa a todos preocupados.
Nesse rol de crises que são visíveis e objetivas, está inserida uma crise que se traduz na escassez de valores, como está se evidenciando nos comportamentos e atitudes das pessoas. É o caso, por exemplo, da própria vida como valor maior da pessoa, que está ameaçada pela disseminação do crack, pelo trânsito desorientado e descuidado e pelo mundo do crime.
O respeito como valor entre os indivíduos está se evaporando nas ações e nas relações interpessoais. A honestidade, premissa importante no ser e no fazer, está passando por um processo de elasticidade, chegando próxima ao rompimento e, pela confusão que imprime pelo exemplo, tornando confusos os limites entre ela e a desonestidade. Nesse enfoque, esta passa a ser rotulada como “esperteza”, isto é, “esperto” é quem pratica a desonestidade e busca transformar o seu aspecto negativo em positivo.
A crise da verdade como limite entre o que é certo e o que é errado, levada pelos múltiplos interesses que a deixam de lado e exercitam o seu contrário, a mentira, na busca de vantagens próprias, acarreta as mais variadas situações. Essa é uma crise na qual os indivíduos, mesmo quando flagrados, negam seus comportamentos de desonestidade no falar e no fazer e ainda são premiados com a indulgência da impunibilidade.
Erros graves na sociedade, no mundo econômico e no mundo da política são impingidos como se eles não tivessem ocorrido. Como não existiam e para assim serem vistos, esses erros são empurrados por forças explicáveis, mas inexplicáveis por não se justificarem.
Por certo, é de se admitir também que, mesmo dentro desse redemoinho de crises, ainda existem pessoas boas e responsáveis que, embora chocadas, têm o compromisso de refletir e pensar em mudanças.
Sabemos que depois de uma crise vêm situações melhores, mas, embora isso possa ser verdade, é grande também o número de crises que estão se sobrepondo em nossas vidas. Portanto, é importante refletirmos e pensarmos que poderemos encerrar esse período e que um novo tempo se iniciará. Como será esse novo período, que tipo de pessoas seremos e que estilo de vida levaremos são questões que serão resolvidas no seu devido tempo, mas que não podem passar despercebidas e sem a nossa interferência, pois, como diz Ortega y Gasset, “o homem é ele e suas circunstâncias”.
*Diretora do Instituto MC Educação Social
Postado na ZH, 21/08/09

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