terça-feira, 7 de setembro de 2010

Cristovam Buarque - Entrevista

"Nenhum dos candidatos à Presidência fará reformas nas escolas",
afirma Cristovam Buarque

Buarque discursa durante cerimônia de sanção do projeto de piso salarial nacional para professores

Cristovam Buarque, economista, sociólogo e autor de mais de 40 livros, foi reitor da Universidade de Brasília, governador do Distrito Federal e ministro da Educação no primeiro governo Lula. Deixou o PT (Partido dos Trabalhadores) para se filiar ao Partido Democrático Trabalhista (PDT) e disputou em 2006 as eleições presidenciais com Lula. Hoje é o paladino no Brasil da luta para colocar o tema da educação no centro do debate político.

El País: Como o senhor imagina o Brasil sem Lula?
Cristovam Buarque: Não imagino. De fato, nota-se na campanha a falta do carisma que ele lhe infundia. É difícil dizer como será o Brasil depois de Lula. Sua ideia é continuar na política enquanto Dilma Rousseff for presidente. Terá uma participação forte, embora discreta; não intervirá no dia a dia. Não disputará com ela os refletores, mas a influenciará. Caso ganhe José Serra (Partido da Social Democracia Brasileira, PSDB), Lula seria o líder da oposição.

El País: O senhor é o defensor máximo de uma revolução na educação. O que faltou ao presidente Lula para fazer essas reformas?
Buarque: Lula é um gênio da política, e ele sabia que a educação básica é um tema que não dá votos. Sim, deu importância à educação superior e melhorou as universidades públicas e privadas, que dão votos.

El País: Por que a educação não dá votos?
Buarque: Porque a população pobre brasileira não se vê com direito a ela e pensa que é só para as classes superiores. Os adultos que não foram à escola já consideram muito que seus filhos possam ter educação, mesmo que seja de péssima qualidade. A educação é uma aposta de longo prazo, mas os políticos não colhem seus frutos imediatamente, e Lula é um político do imediato.

El País: Qual dos três candidatos principais - a ex-guerrilheira Rousseff, o social-democrata Serra e a ecologista Silva - é o mais interessado em educação?
Buarque: Nenhum deles vai fazer reformas. O Brasil ainda é um país prisioneiro da economia primária. É um importador de conhecimento e exportador de bens materiais. Priorizar radicalmente a educação exige uma postura totalmente diferente. Pressupõe considerar o Brasil um país que tenha um futuro em uma economia baseada no conhecimento. Isto confronta com os interesses políticos e econômicos das elites. Fazer a revolução na educação significa quebrar privilégios de classe. Será difícil para qualquer dos três candidatos ter força de vontade para tanto.

El País: Nenhum dos candidatos mais importantes é de direita. Em quê são de esquerda?
Buarque: Suas propostas se movem no âmbito das últimas décadas. Falta uma ideia chave de mudança, que para mim seria a de se igualar a qualidade da educação para as crianças de todas as classes sociais. Mas creio que o Brasil ainda não está preparado para isso. No Brasil, ao contrário da Europa, fala-se em distribuição de renda, e não em acesso ao conhecimento para todos.

El País: O senhor saiu do Partido dos Trabalhadores de Lula. O presidente o tirou do governo como ministro da Educação e o senhor o enfrentou depois nas últimas eleições. Agora volta a apoiar sua candidata. Por quê?
Buarque: Não há dúvida de que Lula representa um avanço substancial na relação com as forças mais conservadoras. Um presidente que vem da classe mais baixa da sociedade já representa uma revolução cultural por si mesmo, em um país tão elitista e socialmente segmentado como o Brasil. A candidata de Lula representa a continuidade de um governo progressista ligado aos trabalhadores. Além disso, o fato de ser mulher já representa um avanço na cultura brasileira machista.
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Reportagem: El Pais - Juan Arias Fonte http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2010/09/07/  

No Rio de Janeiro Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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