quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Prioridade na Argentina é o emprego

ENTREVISTA
Eduardo Bianchi,
secretário de Indústria e Comércio do Ministério
da Indústria da Argentina

Para espantar o fantasma de incessantes disputas entre dois vizinhos e sócios, nada como um avanço conjunto. Ontem, na abertura do Encomex Mercosul, na Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), foi divulgada projeção de intercâmbio comercial no bloco de US$ 40 bilhões até o final do ano. A se confirmar, superaria o recorde de 2008, que foi de US$ 36,6 bilhões – mais de 90% fruto do comércio entre Brasil e Argentina. Com ao menos um grande problema por semestre – alimentos e máquinas agrícolas foram os do primeiro deste ano –, Brasil e Argentina tentam harmonizar interesses em reuniões mensais. Durante um intervalo dos debates, o secretário de Indústria e Comércio do Ministério da Indústria da Argentina, Eduardo Bianchi, conversou com Zero Hora sobre as tentativas de pacificação.

Zero Hora – O que está sendo feito entre Brasil e Argentina para reduzir a repetição de problemas no comércio entre os dois países?
Eduardo Bianchi – Estamos nos encaminhando para fechar o ano com intercâmbio bilateral de US$ 40 bilhões. Se tivéssemos problemas tão grandes entre Brasil e Argentina, não estaríamos falando nessas cifras. Agora, com um comércio tão intenso e tão diversificado, sobretudo em produtos industriais, sempre aparecem alguns problemas setoriais, conjunturais. Isso é que tratamos de resolver nas reuniões bilaterais que temos todos os meses. O problema com as máquinas agrícolas foi de apenas dois dias. Sempre aparecem problemas, como nas relações humanas, o que se vai solucionando. É uma coisa normal.

ZH – É preciso então se habituar a esses problemas ou há algo que possa ser feito para evitar que ocorram com tanta frequência?
Bianchi – O governo argentino dá prioridade sobretudo à manutenção do nível de emprego e a um crescimento que seja inclusivo. Nesse aspecto, sempre que haja algum problema comercial que afete essas realidades, sempre vamos tentar discuti-lo e defender essas posições. Mas isso ocorre em geral com todos os países. No caso do Brasil e do Mercosul, ao menos temos um âmbito em que se possa discutir, com soluções mutuamente satisfatórias. Estamos trabalhando em uma agenda positiva, de integração produtiva. A ideia é encadear o setor produtivo argentino com o brasileiro, para tornar mais denso o tecido industrial do Mercosul.

ZH – A integração produtiva é interessante, mas empresários gaúchos relatam ter sido convocados a implantar unidades na Argentina para poder continuar exportando para o país. Uma integração voluntária não seria mais adequada?
Bianchi – Não tenho notícias de que isso tenha ocorrido no âmbito no qual trabalha o Ministério da Indústria argentino com o Ministério do Desenvolvimento do Brasil. Estamos buscando onde pode haver complementações e especializações setoriais e depois juntar os setores de ambos os países para que encontrem as oportunidades que há dentro desse marco geral.

ZH – No setor calçadista, houve casos de, digamos, convocação para instalação na Argentina.Bianchi – Esse é um desafio para toda a economia argentina, que está buscando, nos últimos sete anos, reindustrializar-se depois de um processo muito doloroso de política de abertura externa que representou a desaparição tanto de empresas quanto de setores. A prioridade para a Argentina é o emprego. Com emprego, há consumidores que fortalecem o mercado interno, que é o motor de todas as economias. Nesse aspecto, temos uma política que permite criar mais empregos.
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Reportagem por MARTA SFREDO
Fonte: ZH online, 01/09/2010

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