Herton Escobar*
FOTO: MATTHEY FILM
O que a maioria das pessoas faz quando se sente ameaçada e encurralada de alguma forma? Quase sempre, o mesmo que a maioria dos animais: grita por socorro! Pode ser um grito, um grunhido … qualquer tipo de sinal sonoro para chamar a atenção dos outros, atrair ajuda ou, pelo menos, quem sabe, assustar ou distrair o predador tempo suficiente para tentar uma fuga.
Mas e se você é uma planta, sem boca para gritar nem pernas para correr? Como é que você se defende de um predador?
Pois bem. A evolução, é claro, produziu uma solução (ou então as plantas não existiriam mais … já teriam sido todas devoradas até o talo).
Mesmo sem se mexer, os vegetais podem se defender de várias maneiras. As mais óbvias incluem folhas mais grossas, espinhos e coisas desse tipo, usadas para dificultar a vida digestiva dos herbívoros. Mas as menos óbvias, mais abundantes e talvez mais eficientes estratégias de defesa sejam as armas químicas. Toda planta é capaz de sintetizar várias moléculas de defesa/ataque contra predadores e parasitas. Algumas podem simplesmente tornar as folhas menos palatáveis. Outras podem ser tóxicas. Outras podem ter efeito antibiótico, para exterminar bactérias invasoras.
Outras, como acabei de descobrir, podem ser lançadas no ar e funcionar como um “grito químico” de socorro. Não para outras plantas, obviamente, já que elas também não podem sair do lugar, mas para outros predadores, que comem os predadores que estão comendo você. Como se você chamasse a polícia para prender um bandido que entrou na sua casa, espirrando na rua um perfume “atrai-polícia” ou algo assim.
O fato está relatado num estudo da última edição da revista Science. Pesquisadores do Instituto Max Planck de Ecologia Química (dá para acreditar que existe um laboratório só de Ecologia Química?!), na Alemanha, mostraram que a planta de tabaco selvagem, ao ser atacada (devorada) por uma lagarta de uma espécie específica, lança moléculas odoríferas no ar que atraem um outro inseto que se alimenta das larvas dessa lagarta.
As tais moléculas são chamadas “voláteis de folhas verdes” (GLV, em inglês), e são elas que caracterizam o cheiro de grama recém-cortada. Segundo o estudo, tipos específicos de GLVs, que atraem insetos do gênero Geocoris, são liberados quando a saliva das lagartas da espécie Manduca sexta entra em contato com a seiva da planta, causando uma reação química que alerta a planta sobre a presença do predador e induz automaticamente a emissão do pedido de socorro. Os insetos, então, são atraídos pelo cheiro dos GLVs e correm para se alimentar das larvas das lagartas e “salvar” a planta de ser devorada até a morte. Imagine só!
O estudo foi feito com o tabaco porque ela é uma espécie muito estudada, que funciona como uma “planta modelo” de pesquisa, tal qual camundongos e ratos em estudos com animais. Mas certamente essa é uma característica comum no mundo vegetal. Da próxima vez que você olhar para um jardim ou uma floresta, então, imagine quantos pedidos de socorro não estão correndo silenciosamente pelo ar.
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