Uma nova tradução do Missal em inglês
entrará em vigor nos Estados Unidos
no dia 27 de novembro. Corresponderia melhor
à versão original em latim. Mas alguns católicos estão descontentes.
O lançamento está previsto para o primeiro domingo do Advento. A partir dessa data, 27 de novembro, os 70 milhões de católicos dos Estados Unidos deverão aprender a "dizer" a missa com palavras às quais não estão acostumados.
Essa nova tradução de um missal em inglês há vários anos foi preparada por dezenas de bispos, linguistas e até por especialistas do Vaticano. E, como muitas vezes acontece quando se altera um missal (o livro litúrgico que reúne os textos e as indicações rituais e musicais necessárias para a celebração da missa), os "espíritos" católicos se aquecem e se dividem em dois campos: os que são a favor e os que são contra.
Aqueles que são a favor, incluindo os bispos evidentemente, estão contentes com a nova versão, porque, indiscutivelmente, é mais próxima dos textos originais do Missal em latim e das Escrituras da tradução atualmente usada. Essa era a intenção da Santa Sé, que solicitou, em 2001, na instrução Liturgiam authenticam textos "traduzidos integralmente e de forma o mais exata possível, sem omissões nem acréscimos no que se refere ao conteúdo".
Uma decisão que havia sido quase um questionamento direto da atual tradução inglesa. Feita sem entusiasmo em 1970, depois do Concílio Vaticano II, e aprovada pela Conferência Episcopal norte-americana, esta última tradução é conhecida pelas suas frases muitas vezes distantes daquelas que se recitavam anteriormente em latim.
Um exemplo:
em uma missa católica na França, a assembleia responde: "Et avec votre esprit" ("E com o teu espírito";
em português, "Ele está no meio de nós"), que corresponderia à fórmula latina: "Et cum spiritu tuo". Nos EUA, diz-se: "And also with you" ("E contigo também").
No novo Missal em inglês, encontra-se agora esta expressão: "And with you spirit", ou seja, uma tradução literal do latim.
Aqueles que são contrários estão decepcionados por duas razões: leigos e padres "no campo" foram consultados de forma sumária, e o Vaticano não ouviu os argumentos de muitos teólogos liberais que acham normal que o Missal possa tomar liberdades com relação ao texto original em latim. É a diferença entre o espírito e a letra, dizem.
A oposição mais forte foi conduzida pelos colaboradores da revista jesuíta America. Cerca de 22,5 mil católicos assinaram um abaixo-assinado que pede a retirada da nova tradução. O Pe. Michael G. Ryan, pároco em Seattle e um dos promotores da petição, critica o retorno ao latim.
Tomemos por exemplo a nova expressão sobre Jesus: "Consubstancial ao Pai". Um "achado" que substitui a fórmula anterior "Um com o Pai", que era muito clara!
Para o Pe. Ryan, tudo isso é contrário ao espírito do Vaticano II, que havia autorizado as Conferências Episcopais a escolher as traduções que lhes pareciam melhores. "E se se fizesse valer mais a colegialidade, o diálogo e a percepção realista das necessidades pastorais do nosso povo?", pergunta ele na introdução do apelo.
Para os bispos norte-americanos, esse questionamento é decisivamente excessivo. Gregory Aymond, arcebispo de Nova Orleans, se esforça para explicar que "as únicas mudanças estão nas palavras, não no rito".
Como Bento XVI, ele também acredita que "essa mudança nos leva a refletir sobre o que realmente dizemos na missa". Entre os exemplos dados pelos bispos, encontra-se também o célebre versículo de Mateus: "Bebei todos, este é o meu sangue, o sangue da Aliança, derramado por muitos para a remissão dos pecados" (Mt 26, 28). No missal em inglês dos norte-americanos, diz-se que "derramado por todos".
Uma ideia conforme ao espírito das Escrituras, segundo os bispos, mas não conforme às palavras usadas pelos evangelistas. O debate continua...
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A reportagem é de Henrik Lindell, publicada no jornal Témoignage Chrétien, 23-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: IHU on line, 25/10/2011
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