A salvação pode estar nos jovens que
deixam a faculdade para se dedicar
a novos empreendimentos
e criar empregos
MICHAEL ELLSBERG, THE NEW YORK TIMES, É AUTOR DE THE EDUCATION OF MILLIONAIRES: ITS NOT WHAT YOU THINK AND ITS NOT TOO LATE, MICHAEL , ELLSBERG, THE NEW YORK TIMES, É AUTOR DE THE EDUCATION OF MILLIONAIRES: ITS NOT WHAT YOU THINK AND ITS NOT TOO LATE
Digitei essas palavras num computador projetado pela Apple, e Steve Jobs, um de seus fundadores, abandonou a Universidade antes de se formar. O programa que usei para escrevê-las foi criado pela Microsoft, fundada por Bill Gates e Paul Allen, que também largaram os estudos.
Assim que esse texto for publicado, o compartilharei com meus amigos pelo Twitter, que tem entre seus fundadores Jack Dorsey, Evan Williams e Biz Stone, que não concluíram os estudos, e no Facebook – inventado, entre outros, por Mark Zuckerberg e Dustin Moskovitz, que também deixaram a escola antes do término, e alimentado por Sean Parker, outro que nunca tirou diploma.
O ambiente acadêmico americano é ótimo para produzir escritores, críticos literários e historiadores, e também para produzir profissionais com diplomas universitários. Os EUA não têm escassez de advogados e professores. Os EUA têm escassez de gente capaz de criar empregos. E as pessoas que criam empregos não são os profissionais tradicionais, mas os empreendedores.
Num discurso pronunciado recentemente para promover um projeto de lei, o presidente Barack Obama disse ao Congresso: “Todos aqui sabem que é nas pequenas empresas que surge a maior parte dos novos empregos”.
Quase certo. O setor onde quase todos os empregos são criados nos EUA é o das empresas que acabam de entrar no mercado, e não necessariamente empresas pequenas. Se a atividade das startups é o verdadeiro motor da criação de empregos nos EUA, uma coisa é clara: o atual sistema educacional funciona como freio. Em palavras simples, do jardim da infância até a universidade, aprendemos a nos dotar de algumas aptidões ou atitudes que poderiam nos ajudar a começar um empreendimento: aptidões nas áreas de comércio, networking, criatividade, e para enfrentar o fracasso sem nos deixarmos abater.
Nos EUA, não surge nenhuma empresa sem que alguém compre alguma coisa. Mas não é na faculdade que a maioria dos estudantes aprende alguma coisa sobre vendas. Muito provavelmente, eles farão um curso sobre o quanto o comércio (e o capitalismo) é um mal.
"Apostaria nos jovens que deixam
a faculdade a fim de se dedicar
a novos empreendimentos. Se quisermos
sair da situação calamitosa do emprego,
deveremos imaginar que outros seguirão
o exemplo deles."
Além disso, poucas startups decolam sem uma ampla e vibrante rede de assessores e mentores, clientes e consumidores em potencial, vendedores de qualidade e talentos valiosos para empregar. Nós não aprendemos a usar uma rede debruçados sobre uma escrivaninha, estudando para provas de múltipla escolha. Aprendemos fora da sala de aula, conversando cara a cara com os nossos semelhantes. As startups são por definição realizações criativas. Mas nossas atuais salas de aulas, onde os alunos são preparados para testes sobre assuntos acadêmicos estritamente delimitados, asfixiam a criatividade.
Finalmente, os empreendedores precisam aceitar o fracasso. Passei os dois últimos anos entrevistando estudantes que deixaram a escola e tornaram-se milionários e bilionários. Todos falaram entusiasmados sobre a importância dos fracassos em seu empreendimento ao caminhar para o sucesso. Nosso sistema educacional estimula os estudantes a serem cautelosos e a desistirem ao primeiro sinal de fracasso (pressupondo que poderá dar uma péssima impressão nos seus currículos).
Segurança. Evidentemente, se uma pessoa quer se tornar médico, advogado ou engenheiro, precisa cursar uma faculdade. Mas, além de campos como esses, rigorosamente definidos, encarar a educação superior como o único caminho para um emprego estável constitui um grave equívoco, exacerbado por pais que consideram as profissões clássicas o melhor caminho para a segurança no emprego.
Talvez isso fosse válido há 50 anos, mas não agora. Em nossa economia imprevisível, caótica, até os jovens que não têm nenhum interesse em começar um empreendimento e querem se tornar profissionais ainda precisarão aprender as aptidões para seguir em frente.
Na verdade, as pessoas com diplomas universitários em geral ganham mais. Mas talvez isso ocorra porque a maioria das pessoas ambiciosas costuma ir para a universidade. Não há muitas evidências de que as mesmas pessoas ambiciosas ganhariam menos sem um diploma universitário.
Embora a maioria das pessoas que fundam uma empresa provavelmente tenha diploma universitário, pressupor que a faculdade é responsável pelo sucesso equivale a dar ao ensino superior mais crédito do que ele merece. Afinal, não há um mercado único de emprego nos EUA, mas dois. O mercado formal – empregos preenchidos por meio de apresentações de currículos em resposta a anúncios – representa 20% dos empregos. Os outros 80% são preenchidos no mercado informal. O empregador precisa de uma pessoa para ocupar um cargo, pede a amigos, colegas e empregados se conhecem alguém que gostaria de fazer um bom trabalho.
Nesse mercado informal, as exigências acadêmicas mencionadas nos anúncios costumam ser extremamente negociáveis e menos importantes do que os resultados no mundo real e o entusiasmo da indicação pessoal.
As aptidões adquiridas na sala de aula colocam a pessoa em uma posição de vantagem no mercado formal, mas, no informal, a aptidão obtida por meio de uma aguda percepção nas relações comuns da vida cotidiana é infinitamente mais importante. Mas os nossos filhos crescem numa cultura que os obriga a tirar boas notas, fazer bons testes de avaliação escolar e a gastar em média US$ 45 mil com educação assumindo uma dívida de US$ 23 mil para obter uma educação superior em quatro anos de universidade.
Está na hora de os EUA aceitarem um fato fundamental. Você não precisa de um diploma (e muito menos de um MBA) para começar um empreendimento e criar empregos.Os pais poderiam mudar completamente o sistema se não tivessem mentalidades fechadas, moldadas na economia estável dos anos 50. Os empregadores poderiam modificar esse panorama se oferecessem explicitamente os caminhos para o emprego àqueles que não tiraram um diploma porque deixaram a escola para se lançar num empreendimento.
E o governo poderia destinar parte das verbas que agora gasta no programa da universidade para todos à promoção da ideia de que criar uma startup é uma alternativa válida e respeitável à formação acadêmica.
Se eu apostasse nos motores da futura criação de empregos, não colocaria meu dinheiro nos jovens dos cursos superiores que se matam de estudar para passar nos testes e redigir textos com citações devidamente formatadas no estilo dos manuais a fim de incrementar seus currículos, em busca de carreiras nas profissões tradicionais e empregos nos escalões médios de grandes máquinas burocráticas empresariais ou oficiais.
Apostaria nos jovens que deixam a faculdade a fim de se dedicar a novos empreendimentos. Se quisermos sair da situação calamitosa do emprego, deveremos imaginar que outros seguirão o exemplo deles.
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TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
Fonte: Estadão on line, 26/10/2011
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