Fabio Hernandez*
”Um homem só é feliz ao lado de uma mulher se é dele o controle
remoto.” Foi o que me disse outro dia meu amigo Guillermo. Guillermo foi
vítima da Mulher Exigente. Alessandra, sua namorada, transformou-o num
escravo. Ela escolhia os filmes no cinema, os DVDs, as peças de teatro.
Ela escolhia os restaurantes, as viagens, os hotéis. Ela escolhia as
posições sexuais e as preliminares. Aliás, demoradas e extenuantes mesmo
para uma pessoa atlética como Guillermo.
E a morte: ela não lhe dava a menor chance de pegar o controle remoto.
A Mulher Exigente não é uma espécie exatamente nova. Na Bíblia, você
encontra muitas delas, como Betsabá, que mandava no rei Davi, que
mandava em todos. (Para tê-la, Davi enviou o marido de Betsabá à frente
de uma guerra. O objetivo era que ele morresse, o que logo aconteceu.) A
Mulher Exigente, repito, não é novidade. Mas o fato é que, nos tempos
recentes, com o avanço feminino em todas as áreas, do escritório ao
futebol, ela se multiplicou espantosamente.
A Mulher Exigente parece se vingar, em cada homem, da dominação
masculina secular. O homem não é um parceiro, um cúmplice, a metade de
um todo. O homem é o concorrente a ser batido. Como uma gladiadora sem
direito a férias nem fins de semana, a Mulher Exigente está em combate o
tempo todo. Ela quer espaço, mas não em pedaços. Ela quer todo o
espaço.
A Mulher Exigente despreza o avental e a cozinha. Despreza sua mãe,
sua avó e todas as antepassadas que se curvaram ao pérfido domínio
masculino. Despreza o homem. No fundo, a Mulher Exigente prefere um
vibrador a um macho, porque é mais fácil de manejar. A frase masculina
que mais a excita sexualmente, dita num timbre tímido e amedrontado, é:
“Posso?”
Ela não fala, grita. Ela não pede, manda. Ela não cede, impõe.
Ela não fala, grita. Ela não pede, manda. Ela não cede, impõe.
E ela, paradoxalmente, é nossa cria. Nós inventamos nosso inimigo.
Nós a demos à luz. Nós e nossa covardia culpada. Porque nós nos sentimos
culpados por ser homens e mandar, desde sempre. Nós caçávamos os
javalis enquanto elas ficavam no conforto aquecido da caverna, nós nos
expúnhamos ao frio e aos dentes da fera e, mesmo assim, carregamos um
sentimento de culpa que se refinou ao correr dos longos dias e foi dar
na proliferação da Mulher Exigente.
Somos vítimas não da Mulher Exigente, mas de nós mesmos.
Viramos subalternos, ganhamos a docilidade pétrea de recrutas perante
generais. Nos transformamos em pó. Somos chicoteados e agradecemos ao
chicote e à mão que o empunha pela deferência em nos escolher como alvo.
A queda da Bastilha selou a Revolução Francesa. Entendi, pela
expressão aterrorizada de meu amigo Guillermo, que a Bastilha de nós,
homens, é o controle remoto. Ao perdê-lo, perdemos tudo. É o último
reduto do homem que não se rende, a sua Excalibur. A derradeira
esperança, a tocha trêmula numa escuridão espessa.
A Mulher Exigente vai mandar você deletar este texto.
E você vai deletar.
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